São Paulo, quinta-feira, 16 de dezembro de 2004
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Nutrição

Aumenta a preocupação nutricional com ceias de fim de ano para reduzir riscos à saúde

A receita é substituir

Jefferson Bernardes/Folha Imagem
A advogada Corina Breton, 67, de Porto Alegre, prova prato sugerido para a ceia de Natal deste ano


Luanda Nera
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Para aliviar o estresse do fim de ano e garantir que as celebrações em família e entre amigos tenham boas recordações, nada melhor do que uma ceia farta, tradicional, que nem de longe lembre os almoços corridos no intervalo do trabalho ou as receitas controladas dos dias de regime. Certo? Felizmente, não. Se a expressão ceia saudável ainda soa como um paradoxo, atenção: você pode estar compartilhando de um movimento em prol de uma alimentação mais nutritiva também nos momentos de descontração sem ao menos ter percebido. É cada vez maior o número de pessoas que, como anfitriãs, assumem a tarefa de cuidar da saúde dos parentes e amigos que recebem para as festas de Natal e Réveillon.
Muitas descobriram que o segredo está em medidas simples -como trocar a manteiga pelo óleo de oliva, tirar a pele do peru ou temperar a salada com molho de iogurte- e que podem fazer muita diferença.
São mudanças que não alteram o sabor nem a aparência dos pratos, mas que evitam a temida ressaca alimentar do dia seguinte.

Abuse das frutas frescas. Elas possuem baixo valor calórico, são fonte de fibras, vitaminas e
minerais


"Não é preciso eliminar totalmente do cardápio de fim de ano pratos tradicionais como o peru, a farofa, a maionese ou as entradas. Basta saber prepará-los de forma saudável. Os molhos são os grandes vilões, seja nas carnes ou nas saladas. A maionese, por exemplo, pode ser feita com um creme de iogurte desnatado e só uma colher de maionese na versão light. As frutas cristalizadas também são muito calóricas e podem ser substituídas por frutas secas. Nas sobremesas, o ideal é abusar das frutas, picadas em forma de salada ou como musses. O modo de preparo e a escolha dos ingredientes são fundamentais", alerta a culinarista light Betina Sehde, 29, da Keep Light, empresa de São Paulo que prepara cardápios saudáveis para os clientes.
A nutricionista Karine Rabaiolli, 26, da empresa Substância (Porto Alegre-RS), também acredita que, com moderação, não é preciso se privar de nenhuma receita típica de Natal. "Todo mundo sai um pouco da rotina nessa época, não dá para ser radical e tentar fugir de todas as tentações. É possível comer de tudo", diz Rabaiolli.

Prefira as saladas cruas e os legumes, que são ricos em fibras e dão a sensação de saciedade

Ambas as empresas orientam os clientes a não comprometer a ginástica e a alimentação controlada que o cliente manteve durante o ano.
"O problema está no comportamento. Muita gente, para tentar aliviar a 'culpa' pelo excesso de comida e bebida, já começa a se preparar uma semana antes. Passa dias sem comer e, na hora da ceia, perde o controle. Não faz o menor sentido. Depois de passar fome por dias, naturalmente a pessoa vai comer muito mais na ceia do que se estivesse mantendo um ritmo normal de alimentação. O mesmo vale para o pós-festa. Tentar compensar o que comeu na noite anterior com dietas de emergência, além de não adiantar nada, ainda pode trazer prejuízos para a saúde", alerta a nutricionista.

MAS E O REGIME?
Depois de um longo trabalho de convencimento para que seu marido não abandonasse mais o regime, a empresária Cláudia Borelli, 41, prefere não colocar tudo a perder na noite de Natal. Em sua casa, ela vai receber mais de 20 pessoas, entre amigos e parentes. O cardápio? Pratos lights prontos e receitas que sua cozinheira -treinada especialmente para a alimentação saudável- está desenvolvendo.
"Conversei com minha família, expliquei que meu marido está muito contente com a dieta e que não gostaríamos de perder esse ritmo na ceia. Mas, como isso ainda é novidade para muita gente, não posso ser radical. Vou preparar também alguns pratos tradicionais, mas o forte serão as versões mais leves. É verão, quero ir à praia e começar o ano novo em forma", conta. Para ela, um dos pratos principais em sua ceia será um risoto de arroz integral e nozes, castanha-do-pará, uva passa e damasco. "Não é tão magro, mas é muito saudável", defende.
Mãe de duas filhas adolescentes, a administradora de empresas Vera Dorsa, 43, também prefere não arriscar a "boa forma" da família no Natal. "O grande problema dessa época é que nós comemos muito, não só nas ceias. Há festas de confraternização, formatura, amigo secreto, enfim, diversas situações em que saímos da rotina. Por isso não dá para perder o controle na véspera nem no dia de Natal e Ano Novo", avalia Vera, que se prepara para receber cerca de 20 pessoas e garante que todos já sabem que a comida será leve e balanceada.
É uma situação cada vez mais comum, que começa a exigir uma mudança no comportamento da indústria alimentícia, do mercado publicitário e da própria família, principalmente dos mais idosos. "Na época da minha mãe, que foi quem me ensinou a cozinhar, não existia esse movimento pela alimentação saudável, ninguém pensava nisso. Nas festas, então, muito pelo contrário. Quando ela tinha a minha idade, era uma senhora idosa -e eu não sou. Estou muito conservada. As gerações depois de mim já nascem 'treinadas'. Tenho duas netas, de oito e 11 anos, que nunca tomaram refrigerante", orgulha-se a avó gaúcha Corina Breton, 67, advogada e tradutora, que começou a preparar a ceia de Natal no início do mês.
Ela prepara-se para receber em sua casa suas três filhas, três genros, uma enteada e quatro netos. E já tranqüilizou a neta mais velha, de 18 anos: "Ela não queria comer nada pesado, já que é muito vaidosa e preocupada com a saúde".

FORA DE CASA
A história da advogada Corina Breton é um exemplo de como as duas grandes preocupações da contemporaneidade -saúde e qualidade de vida- têm provocado transformações nos hábitos à mesa.
Prova disso é que muitos restaurantes incorporaram ao cardápio de final de ano versões light de pratos típicos natalinos, como o peru e o chester. São mudanças simples, baseadas em substituições de ingredientes gordurosos por outros mais saudáveis -sem perder o sabor.

CEIA TROPICAL
Não esquecer que o Brasil é um país tropical é também a dica do clínico-geral Arnaldo Lichtenstein, 43, do Hospital das Clínicas: "Nossa ceia é toda importada da Europa, onde agora está nevando e, para esquentar, o organismo precisa de muitas calorias. Num clima como o nosso, o excesso de calorias na forma de gordura é muito prejudicial. O corpo fica concentrado na digestão da comida em excesso, o fluxo sangüíneo é desviado para o tubo digestivo e o estômago fica desesperadamente produzindo ácido. O resultado disso é moleza, sonolência e falta de disposição. São efeitos passageiros, mas que, se somados a grandes doses de bebidas alcoólicas, podem atrapalhar muito a diversão na festa", afirma.
A empresária Lica Bachert, 29, concorda que o bom senso na hora de comer e beber pode oferecer um melhor aproveitamento das festas. Prevenida, ela começou a preparar a ceia em novembro e optou por pratos congelados -todos lights. "Eu sempre procurei comer alimentos saudáveis, mas esse ano tenho uma razão especial. É possível conciliar saúde com prazer, inclusive nas festas", diz.
A médica homeopata Marly de Almeida Pedra, 52, lembra que é importante prestar atenção aos sinais de alerta que o próprio corpo emite quando há excesso no consumo de alimentos pesados e gordurosos: "Muitas vezes, sintomas como irritabilidade, diarréia e dor de cabeça são reflexos de uma má digestão. Num período como o que estamos, é comum as pessoas ultrapassarem os limites mais de uma ou duas vezes na semana. Essa freqüência, além de gerar excesso de peso, pode sobrecarregar o sistema circulatório provocando varizes e pressão alta".


Onde encontrar
Keep Light - tel. 0/xx/11 50424742
Substância - tel. 0/xx/11 47026300
Perlage (importadora Marimpex) - tel. 0/xx/11 37191604
Restaurante Arabesco - tel 0/xx/11 38728164
Sabor Del Picchia - tel. 0/xx/11 38480631



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