|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ingredientes de qualidade e as melhores iguarias dos chefs ampliam o paladar e instigam todos os sentidos do gourmet
Menu de degustação é show dos chefs
Marcelo Barabani/Folha Imagem
|
Sobremesas degustadas no D.O.M. |
ANTONIO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL
São sete pratos, em média, mais as sobremesas, servidos em
pequenas porções e com a expressa preocupação estética de
que sejam "comidos" não apenas com a boca, mas com os olhos, o
nariz e os demais sentidos. A idéia, dizem os chefs, é que cada ingrediente instigue uma reação, uma resposta sensorial no atento e
concentrado gourmet.
A procura pelos menus de degustação oferecidos pelos restaurantes
tops do cenário gastronômico de
São Paulo não pára de crescer.
No Café Antique, por exemplo,
considerado um dos melhores franceses da cidade, todos os dias, no
jantar, de 45% a 50% dos clientes
optam pelo menu de degustação.
Já no sofisticado e respeitado Fasano, a procura cresceu 35% nos últimos quatro anos. Há noites em
que mais da metade dos clientes opta por esse cardápio, diz o consagrado chef da casa, o italiano Salvatore
Loi.
E no D.O.M., restaurante do badalado cozinheiro Alex Atala, os pedidos de degustação subiram de 5%
há quatro anos para os atuais 20%.
Memória gustativa
Não à toa as pessoas estão buscado aprimorar
o seu repertório culinário recorrendo aos menus de degustação, de
acordo com a chef Ana Soares, do
bufê Mesa III Gastronomia.
As informações divulgadas em revistas, jornais e programas de televisão, o boom da oferta de uma gama
variada de cursos de culinária e a
oferta frequente de degustações de
vinho em restaurantes e casas especializadas ajudam a despertar ainda
mais a curiosidade -já natural- das pessoas pela gastronomia, diz
Soares.
"No caso da degustação, as emoções estão em cena. Ao se surpreender com um sabor ácido, depois
com um doce, depois com um
amargo, a pessoa vai brincando de
sentir", diz a chef.
Para o crítico gastronômico e colunista da Folha Josimar Melo, degustar é um grande jogo lúdico, uma
brincadeira. "As pessoas aguardam
excitadas a chegada do próximo
prato, e acaba sendo divertido quando, sem esperar, o gelado e o quente
misturam-se na boca." Segundo ele,
ao pedir um menu de degustação, o
cliente vai fazer com que seu prazer
seja o mais extenso possível. "E ele
adquire memória gustativa", completa.
Para Tsuyoshi Murakami, chef do
Kinoshita, um japonês da Liberdade
muito especial, "uma vez que o
cliente registrou um novo sabor, já
pode se considerar uma pessoa com
o paladar mais sensível, mais preparada para enfrentar novos desafios
gastronômicos".
E não só: a partir dessa memória
gustativa, o cliente tem tudo para ser
levado a se interessar pela procedência de um ingrediente ou prato, pela
cultura do povo que o consome ou
pela geografia do país de onde ele
veio. "A partir desses assuntos, a interação social flui", diz Soares.
O chef Antonio Faustino de Oliveira, do Emiliano, restaurante do
hotel chique de São Paulo, conta que
"é muito interessante perceber as
pessoas comentando que conheceram tal tempero em uma viagem,
por exemplo".
O premiado chef Erick Jacquin, do
Café Antique, dá uma dica aos marinheiros de primeira degustação: não
há chef que aprove quando um ou
mais convivas na mesa dispensam o
menu de degustação. "Isso quebra
todo o clima", diz ele. E deixar o chef
de mau humor não é nada oportuno
para os clientes do restaurante. Afinal, o menu de degustação é o que
de melhor o chef tem a oferecer.
A escolha do cardápio de degustação é a melhor maneira de o cliente
ter um panorama da gastronomia
daquele restaurante. "É a forma
mais eficaz de o cliente reconhecer
as técnicas de determinado chef",
diz Alex Atala.
"Uma vez que o cliente registrou um novo sabor, já pode se considerar uma pessoa com o paladar mais sensível, mais preparada para enfrentar novos
desafios gastronômicos"
|
Tsuyoshi Murakami, chef do restaurante Kinoshita
E os chefs adoram levar seu espetáculo aos clientes. "É com o menu de
degustação que eu mostro a melhor
parte da minha arte ao público", diz
Jun Sakamoto, chef do sofisticado japonês que leva o seu nome.
Os restaurantes até aceitam algumas interferências do cliente no cardápio, como no caso de quem não tolera um determinado ingrediente e
pede a sua substituição. Mas os chefs
não gostam nada da idéia. "É como
pedir para um pintor mudar o rosto
da pintura que ele fez", exemplifica
Pascal Valero, chef do francês Eau, do
hotel Hyatt.
"É com o menu de degustação que eu mostro a melhor parte da minha arte ao público"
| Jun Sakamoto chef do restaurante que leva o seu nome
Mas não só a arte do chef atinge seu
ponto máximo no menu de degustação. Os ingredientes respondem aos
mais rígidos critérios de qualidade.
"O cliente pode ter certeza de que está
consumindo os melhores e os mais
frescos ingredientes que recebemos
no dia", garante Salvatore Loi.
Antes de participar como estreante
de um jantar de degustação, seja para
estimular os sentidos ou para ter uma
visão geral da cozinha de um restaurante, vale informar-se sobre alguns
dos preceitos básicos desse ritual.
Afinal, como diz a chef Ana Soares,
"trata-se de uma oportunidade única
de agitar os sentidos: fazê-los pipocar
ao mais inesperado alimento crocante e, quem sabe, flutuar quando o paladar encontra um doce cremoso e
bem saboroso".
"As pessoas aguardam
excitadas a chegada do próximo prato, e acaba sendo divertido quando o
gelado e o quente misturam-se na boca"
|
Josimar Melo, colunista da Folha
Texto Anterior: Capa 17.04 Próximo Texto: Os princípios básicos da degustação Índice
|