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São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2003
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Ingredientes de qualidade e as melhores iguarias dos chefs ampliam o paladar e instigam todos os sentidos do gourmet

Menu de degustação é show dos chefs

Marcelo Barabani/Folha Imagem
Sobremesas degustadas no D.O.M.


ANTONIO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL

São sete pratos, em média, mais as sobremesas, servidos em pequenas porções e com a expressa preocupação estética de que sejam "comidos" não apenas com a boca, mas com os olhos, o nariz e os demais sentidos. A idéia, dizem os chefs, é que cada ingrediente instigue uma reação, uma resposta sensorial no atento e concentrado gourmet. A procura pelos menus de degustação oferecidos pelos restaurantes tops do cenário gastronômico de São Paulo não pára de crescer. No Café Antique, por exemplo, considerado um dos melhores franceses da cidade, todos os dias, no jantar, de 45% a 50% dos clientes optam pelo menu de degustação. Já no sofisticado e respeitado Fasano, a procura cresceu 35% nos últimos quatro anos. Há noites em que mais da metade dos clientes opta por esse cardápio, diz o consagrado chef da casa, o italiano Salvatore Loi. E no D.O.M., restaurante do badalado cozinheiro Alex Atala, os pedidos de degustação subiram de 5% há quatro anos para os atuais 20%.

Memória gustativa
Não à toa as pessoas estão buscado aprimorar o seu repertório culinário recorrendo aos menus de degustação, de acordo com a chef Ana Soares, do bufê Mesa III Gastronomia.
As informações divulgadas em revistas, jornais e programas de televisão, o boom da oferta de uma gama variada de cursos de culinária e a oferta frequente de degustações de vinho em restaurantes e casas especializadas ajudam a despertar ainda mais a curiosidade -já natural- das pessoas pela gastronomia, diz Soares.
"No caso da degustação, as emoções estão em cena. Ao se surpreender com um sabor ácido, depois com um doce, depois com um amargo, a pessoa vai brincando de sentir", diz a chef.
Para o crítico gastronômico e colunista da Folha Josimar Melo, degustar é um grande jogo lúdico, uma brincadeira. "As pessoas aguardam excitadas a chegada do próximo prato, e acaba sendo divertido quando, sem esperar, o gelado e o quente misturam-se na boca." Segundo ele, ao pedir um menu de degustação, o cliente vai fazer com que seu prazer seja o mais extenso possível. "E ele adquire memória gustativa", completa.
Para Tsuyoshi Murakami, chef do Kinoshita, um japonês da Liberdade muito especial, "uma vez que o cliente registrou um novo sabor, já pode se considerar uma pessoa com o paladar mais sensível, mais preparada para enfrentar novos desafios gastronômicos".
E não só: a partir dessa memória gustativa, o cliente tem tudo para ser levado a se interessar pela procedência de um ingrediente ou prato, pela cultura do povo que o consome ou pela geografia do país de onde ele veio. "A partir desses assuntos, a interação social flui", diz Soares.
O chef Antonio Faustino de Oliveira, do Emiliano, restaurante do hotel chique de São Paulo, conta que "é muito interessante perceber as pessoas comentando que conheceram tal tempero em uma viagem, por exemplo".
O premiado chef Erick Jacquin, do Café Antique, dá uma dica aos marinheiros de primeira degustação: não há chef que aprove quando um ou mais convivas na mesa dispensam o menu de degustação. "Isso quebra todo o clima", diz ele. E deixar o chef de mau humor não é nada oportuno para os clientes do restaurante. Afinal, o menu de degustação é o que de melhor o chef tem a oferecer.
A escolha do cardápio de degustação é a melhor maneira de o cliente ter um panorama da gastronomia daquele restaurante. "É a forma mais eficaz de o cliente reconhecer as técnicas de determinado chef", diz Alex Atala.


"Uma vez que o cliente registrou um novo sabor, já pode se considerar uma pessoa com o paladar mais sensível, mais preparada para enfrentar novos desafios gastronômicos"
Tsuyoshi Murakami, chef do restaurante Kinoshita

E os chefs adoram levar seu espetáculo aos clientes. "É com o menu de degustação que eu mostro a melhor parte da minha arte ao público", diz Jun Sakamoto, chef do sofisticado japonês que leva o seu nome.
Os restaurantes até aceitam algumas interferências do cliente no cardápio, como no caso de quem não tolera um determinado ingrediente e pede a sua substituição. Mas os chefs não gostam nada da idéia. "É como pedir para um pintor mudar o rosto da pintura que ele fez", exemplifica Pascal Valero, chef do francês Eau, do hotel Hyatt.


"É com o menu de degustação que eu mostro a melhor parte da minha arte ao público"
Jun Sakamoto chef do restaurante que leva o seu nome


Mas não só a arte do chef atinge seu ponto máximo no menu de degustação. Os ingredientes respondem aos mais rígidos critérios de qualidade. "O cliente pode ter certeza de que está consumindo os melhores e os mais frescos ingredientes que recebemos no dia", garante Salvatore Loi.
Antes de participar como estreante de um jantar de degustação, seja para estimular os sentidos ou para ter uma visão geral da cozinha de um restaurante, vale informar-se sobre alguns dos preceitos básicos desse ritual.
Afinal, como diz a chef Ana Soares, "trata-se de uma oportunidade única de agitar os sentidos: fazê-los pipocar ao mais inesperado alimento crocante e, quem sabe, flutuar quando o paladar encontra um doce cremoso e bem saboroso".


"As pessoas aguardam excitadas a chegada do próximo prato, e acaba sendo divertido quando o gelado e o quente misturam-se na boca"
Josimar Melo, colunista da Folha


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