São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2007
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Ingrediente

Inhame combina com temperos doces ou salgados

RACHEL BOTELHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nativo da África e do sudeste da Ásia, o inhame esteve no centro de uma confusão armada pelos portugueses que aportaram no Brasil em 1500. Lê-se na carta de Pero Vaz de Caminha o primeiro relato sobre os hábitos alimentares dos indígenas: "Nem comem senão desse inhame, que aqui há muito (...)".
De acordo com o folclorista Câmara Cascudo (1898-1986), em sua "História da Alimentação no Brasil" (ed. Global), Caminha e outros que depois dele escreveram sobre a dieta dos índios no período pré-cabralino usaram o nome "inhame" inapropriadamente para designar um tubérculo que eles desconheciam, a mandioca, devido às semelhanças entre ambos. Inhame de verdade foram os próprios portugueses que trouxeram para cá.
Cinco séculos depois, são os brasileiros do Sul e do Sudeste que trocam os nomes, envolvendo agora o cará. "São ambos dioscoreáceas, como eu e Shakespeare pertencemos ao mesmo gênero humano", ironiza Cascudo. Carlos Simões, do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, explica: "Os nordestinos, que produzem muito inhame, usam a denominação correta, enquanto no Sul e no Centro-Sul do país chamamos esse tubérculo de cará".
Embora suas aplicações culinárias (ambos são consumidos assados ou cozidos) e qualidades nutricionais (são energéticos e possuem boa quantidade de amido e proteínas) sejam semelhantes, é difícil confundi-los no supermercado ou na feira. "O cará é bem maior e alongado que o inhame, e seu peso ultrapassa facilmente um quilo", diz Simões.
E ainda há outra confusão envolvendo o inhame, desta vez relacionada ao seu curioso nome. Segundo a enciclopédia "The Oxford Companion to Food", sua origem está em uma pergunta mal-interpretada, dos portugueses que traficavam escravos africanos. À pergunta sobre o nome das raízes que escavavam, os escravos responderam "nhami", ou "algo para comer".
Independentemente da variedade, e há muitas, todo inhame precisa ser cozido antes do consumo a fim de destruir o amargor da dioscorina, uma substância tóxica presente na hortaliça crua. Pode ser consumido em sopas, refogados, saladas, pães, bolos e sobremesas.
No Nordeste, costuma ser adoçado com mel, mas também aceita bem temperos variados como açúcar mascavo, noz-moscada, pimenta e açafrão. Para que não escureça depois de descascado, é importante deixá-lo imerso em água com algumas gotas de vinagre.


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