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Ingrediente
Inhame combina com temperos doces ou salgados
RACHEL BOTELHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Nativo da África e do
sudeste da Ásia, o
inhame esteve no
centro de uma confusão armada pelos portugueses que aportaram no Brasil em
1500. Lê-se na carta de Pero
Vaz de Caminha o primeiro relato sobre os hábitos alimentares dos indígenas: "Nem comem senão desse inhame, que
aqui há muito (...)".
De acordo com o folclorista
Câmara Cascudo (1898-1986),
em sua "História da Alimentação no Brasil" (ed. Global), Caminha e outros que depois dele
escreveram sobre a dieta dos
índios no período pré-cabralino usaram o nome "inhame"
inapropriadamente para designar um tubérculo que eles desconheciam, a mandioca, devido
às semelhanças entre ambos.
Inhame de verdade foram os
próprios portugueses que trouxeram para cá.
Cinco séculos depois, são os
brasileiros do Sul e do Sudeste
que trocam os nomes, envolvendo agora o cará. "São ambos
dioscoreáceas, como eu e Shakespeare pertencemos ao mesmo gênero humano", ironiza
Cascudo. Carlos Simões, do
Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, explica: "Os nordestinos, que produzem muito
inhame, usam a denominação
correta, enquanto no Sul e no
Centro-Sul do país chamamos
esse tubérculo de cará".
Embora suas aplicações culinárias (ambos são consumidos
assados ou cozidos) e qualidades nutricionais (são energéticos e possuem boa quantidade
de amido e proteínas) sejam semelhantes, é difícil confundi-los no supermercado ou na feira. "O cará é bem maior e alongado que o inhame, e seu peso
ultrapassa facilmente um quilo", diz Simões.
E ainda há outra confusão
envolvendo o inhame, desta vez
relacionada ao seu curioso nome. Segundo a enciclopédia
"The Oxford Companion to
Food", sua origem está em uma
pergunta mal-interpretada,
dos portugueses que traficavam escravos africanos. À pergunta sobre o nome das raízes
que escavavam, os escravos responderam "nhami", ou "algo
para comer".
Independentemente da variedade, e há muitas, todo inhame precisa ser cozido antes do
consumo a fim de destruir o
amargor da dioscorina, uma
substância tóxica presente na
hortaliça crua. Pode ser consumido em sopas, refogados, saladas, pães, bolos e sobremesas.
No Nordeste, costuma ser
adoçado com mel, mas também
aceita bem temperos variados
como açúcar mascavo, noz-moscada, pimenta e açafrão.
Para que não escureça depois
de descascado, é importante
deixá-lo imerso em água com
algumas gotas de vinagre.
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