DA "NEW SCIENTIST"

O que aconteceria se você começasse a engordar com a mesma facilidade com que pega um resfriado? Bastaria um espirro num elevador e pronto. Não importa que você tenha sido magro como um palito a vida inteira. A situação parece absurda, mas é bom lembrar que, há poucos anos, a idéia de que uma bactéria pudesse causar úlcera ou doença cardíaca também soava maluca. Hoje, essas teorias são aceitas, e o chamado "vírus da obesidade" pode ser o próximo a ganhar respeitabilidade. A obesidade vem aumentando dramaticamente em todo o mundo nas últimas décadas. Os índices nos EUA já subiram mais de 30% desde 1980. Hoje, 23% dos americanos adultos e cerca de 20% dos britânicos são obesos. Esse aumento repentino deixa os especialistas perplexos. "A quantidade de gordura da dieta é muita alta, e a atividade física caiu. Mesmo assim, não dá para explicar a dimensão do problema", diz Arne Astrup, da Universidade de Copenhague (Dinamarca).
A suspeita de que a obesidade também possa ser provocada por vírus surgiu em Bombaim (Índia), em 88, quando o endocrinologista Nikhil Dhurandhar descobriu grande quantidade de gordura no corpo de milhares de frangos mortos por uma epidemia viral. Ele resolveu investigar o mistério e injetou o tal vírus, conhecido como SMAM-1, em alguns frangos no laboratório. Seis semanas depois, os frangos contaminados apresentavam quase 50% mais gordura corporal do que aqueles que não tinham sido expostos ao vírus. Outro detalhe surpreendente: o grupo mais gordo apresentava menos colesterol e triglicérides em seu sangue. Para dar continuidade à pesquisa, Dhurandhar mudou-se para os EUA. Como não conseguiu autorização do governo norte-americano para entrar no país com o SMAM-1, teve de escolher um vírus diferente. Analisou uma lista de 50 adenovírus humanos (que provocam resfriados, diarréia e conjuntivite) e optou pelo Ad-36, que era suficientemente diferente dos demais, capaz, portanto, de estimular a produção de anticorpos fáceis de reconhecer. A escolha foi feliz. Em apenas três semanas os frangos inoculados com Ad-36 já apresentavam dois terços a mais de gordura abdominal do que os que não tinham sido infectados. Em camundongos e saguis, o efeito foi o mesmo: mais gordura e menos colesterol.
Para descobrir se o Ad-36 tem efeito semelhante em homens, Dhurandhar e o pesquisador norte-americano Richard Atkinson tiraram amostras de sangue de 313 pessoas obesas e 92 magras em três Estados. Encontraram anticorpos para o Ad-36 em apenas 4 magras, mas em 100 obesas -ou seja, 32% delas.
Se o trabalho deles comprovar que o Ad-36 é responsável por parte do boom de obesos, Dhurandhar acredita que será possível desenvolver uma vacina para prevenir a doença nas pessoas sem propensão genética. Para Atkinson, a descoberta ajudará a eliminar o estigma que cerca os obesos. "Se as pessoas compreenderem que a obesidade é algo que pode acontecer com qualquer um, talvez tenham um pouco mais de compaixão."