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ROSELY SAYÃO
Paciência em falta
[...]
OS PAIS TÊM POUCA PACIÊNCIA
COM AS MANIFESTAÇÕES DA CRIANÇA, COM O CRESCIMENTO DO FILHO
A ideia de ter filhos hoje
é absolutamente sedutora. Tornar-se
mãe ou pai é um fato
que nunca pareceu tão importante porque é visto como modo de se realizar, de se completar, de cumprir uma missão importante. Não é à toa que tantas
mulheres recorrem a procedimentos médicos diversos para
conseguir engravidar. Definitivamente, consumimos a ideia
de que ter filhos é fundamental.
O período de gestação é cercado de acontecimentos que se
parecem com pequenas festas
para os futuros pais. Compras
dos mais variados tipos, durante meses consecutivos, são consideradas indispensáveis: além
do enxoval para o bebê, há as
vestimentas para a futura mãe,
que, em geral, não vê a hora de
exibir sua condição.
Aliás, um bom exemplo de
como exibir a gravidez é tão importante quanto estar grávida
são as entrevistas, as fotos e o
modo de se apresentar de artistas que esperam um filho.
Além das compras, são contratados vários prestadores de
serviços e um aparato médico-hospitalar que inclui muitos
exames -e não me refiro aqui
ao essencial, que constitui o
pré-natal.
Depois do nascimento, a cortina desce progressiva e vagarosamente e o clima de festividade cede espaço à realidade:
ter filhos, o que exige cuidar deles e educá-los, dá trabalho. Um
trabalhão, por sinal.
Nos primeiros anos, são noites maldormidas, trabalho braçal árduo, atenção constante e
o contato com um universo radicalmente diferente do nosso:
o mundo da imaginação e da
fantasia.
Além disso, ensinar a
criança a estar com os outros
não é tarefa simples porque os
pequenos não se controlam e,
portanto, por mais que entendam as ordens e orientações
dos pais, precisam ser seguidos
de perto e contidos sempre.
Na segunda parte da infância,
os pais precisam começar a
exercitar o desprendimento em
relação aos filhos, já que eles
precisam crescer e a vida escolar é o campo onde isso ocorre
de modo privilegiado. Na adolescência, os pais são testados
continuamente e não podem
abandonar seu papel até que o
filho amadureça, de preferência como uma pessoa de bem,
para viver por conta própria.
Todo esse processo exige,
mais do que qualquer outra coisa, muita paciência. Aliás, creio
que essa seja a virtude mais necessária a quem tem filhos. E,
do mesmo modo, a que tem estado mais em falta atualmente.
Os pais têm tido pouca paciência com as manifestações
próprias da criança pequena,
com o crescimento do filho
-que tem um ritmo próprio-,
com as contestações dos adolescentes. Acreditam que os filhos os fazem insistir demais
nas mesmas coisas.
Pois os pais precisam saber
que, por mais ou menos 18
anos, irão repetir as mesmas
coisas. "Ainda não" e "agora
chega" condensam as mais importantes repetições; mudam
apenas os conteúdos delas, de
acordo com a idade dos filhos.
Os pais não podem dizer que
não têm paciência no exercício
de seu papel. Quem tem filhos
precisa desenvolver essa virtude a qualquer preço. Sem ela, os
mais novos ficam na situação
de órfãos de pais vivos.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@uol.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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