São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2010
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O melhor do jogo

Vantagens do futebol recreativo para a saúde -e a forma correta de praticar para evitar lesões e riscos cardíacos

Caio Guatelli/Folha Imagem
Usuários de quadra de São Paulo

IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A regra é clara: praticar exercícios é fundamental para a prevenção e o controle das doenças e para uma vida saudável. Mas, sinceramente, alguém pensa nisso quando está jogando uma pelada entre amigos?
Pois uma equipe de pesquisadores de seis países europeus não apenas pensou como iniciou, há quatro anos, um grande estudo sobre os efeitos do futebol recreativo na saúde.
Coordenado por Peter Krustrup e Jens Bangsbo, professores da Universidade de Copenhague, o projeto foi financiado pela Fifa, pelo Ministério da Cultura da Dinamarca e pela Confederação Dinamarquesa de Esportes, entre outros.
A pesquisa avaliou os efeitos do futebol no coração, na pressão arterial, na função respiratória, na composição corporal e no sistema musculoesquelético de homens e mulheres com baixo condicionamento físico.
"Resolvemos estudar o futebol porque é um esporte holístico, que envolve um intenso trabalho cardiovascular e de força muscular ao mesmo tempo. Além disso, como é um esporte muito popular no mundo todo, tem um enorme potencial de interessar a um grande número de adultos inativos", disse Krustrup à Folha.

Saúde em campo
Os resultados são vitoriosos para os peladeiros.Os pesquisadores afirmam que a prática regular do esporte (duas vezes por semana) é um tratamento eficaz para a hipertensão, diminui os riscos cardiovasculares em pessoas sedentárias e aumenta a massa óssea em mulheres na menopausa.
"Os participantes jogavam por uma hora, duas vezes por semana, e os efeitos foram observados após três meses. Também verificamos que, após três meses de prática regular, os benefícios à saúde foram mantidos, por um ano, com uma frequência menor de prática -em torno de uma hora e meia por semana", conta Krustrup.
Na pesquisa, os jogadores amadores alcançaram, em média, de 80% a 85% da frequência cardíaca máxima -o mesmo valor obtido nos jogadores profissionais-, o que resulta no aumento da capacidade aeróbica. Segundo os pesquisadores, os ganhos são maiores do que os obtidos com a corrida.
O aumento das massas muscular e óssea também foi maior do que o obtido em treinamento de força, de acordo com os dados do estudo. Todas as pesquisas foram feitas com grupos controle (praticantes de outra atividade e sedentários).
A conclusão do trabalho é que a integração de diferentes tipos de exercício -aeróbicos, de musculação, de resistência e de explosão- faz com que o futebol tenha grande impacto em todos os aspectos do condicionamento físico e contribua positivamente para diminuir o risco de doenças não transmissíveis, como as do coração.


[...]
A integração de diferentes tipos de exercício faz com que o fu-tebol tenha grande impacto em todos os aspectos do condicio-namento físico


Os perigos da pelada
As notícias são boas para os incontáveis brasileiros fãs da pelada -só na Grande São Paulo, são aproximadamente 4 milhões de praticantes, segundo Paulo Roberto Antunes, presidente da Federação Paulista de Futebol Society.
Porém, os efeitos benéficos ocorrem em determinadas condições e há a contrapartida dos riscos inerentes ao esporte. "Os benefícios acontecem se a atividade for praticada regularmente ou dentro de um programa que inclua outras atividades no mínimo três vezes por semana", afirma José Kawazoe Lazzoli, presidente da SBME (Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte).
Submeter o organismo a um esforço para o qual ele não está preparado pode levar a complicações que vão das distensões musculares à parada cardíaca. Por isso, cautela e uma boa avaliação médica, refeita anualmente, são fundamentais.
Pessoas com fatores de risco cardíaco, como hipertensão, diabetes, obesidade e colesterol alto, devem consultar o médico para saber se estão liberadas para jogar e que cuidados tomar durante as partidas. Quem tem problemas ósseos e articulares deve fazer o mesmo.
"O problema do futebol é que ninguém gosta de perder. Por isso, as pessoas ultrapassam seus limites e, frequentemente, têm lesões", lembra Nabil Ghorayeb, cardiologista do HCor (Hospital do Coração).
Krustrup afirma que os benefícios superam os riscos. "Os números apontam um risco de ocorrer entre duas e cinco lesões a cada dez anos de prática, e cerca de 10% dessas lesões são graves. Mas o risco é bem menor nos treinos do que nas partidas essencialmente competitivas, como campeonatos. Por isso, é importante que os jogadores amadores treinem bastante antes de partir para esse tipo de jogo", diz ele.
As lesões mais comuns ocorrem nos membros inferiores, principalmente nos tornozelos e joelhos. "O bom condicionamento físico, o fortalecimento muscular e a prática frequente da modalidade são os melhores métodos de prevenção [de lesões]", afirma Moisés Cohen, professor de ortopedia e traumatologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Na hora de comemorar
Há também uma série de hábitos do peladeiro nacional que podem aumentar os riscos do jogo. "É comum o brasileiro associar a pelada ao churrasco e à cerveja. Mas consumir gordura e álcool imediatamente após a partida não é recomendável. O ideal seria esperar cerca de duas horas após a atividade antes desse tipo de confraternização", diz Ghorayeb.
Na hora certa, porém, até a cervejinha entre amigos tem o seu papel nos benefícios à saúde. "Os elementos de prazer, de diversão e de socialização são essenciais para alcançarmos uma aderência em longo prazo ao estilo de vida fisicamente ativo", afirma Krustrup.


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