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Comportamento
Em livro lançado no Brasil, psicóloga de Harvard aborda efeitos da propaganda infantil
e defende sua total proibição
Consumismo mirim
FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Que o marketing de produtos infantis pode incentivar a obesidade, a violência e a sexualidade
precoce é um alerta que já vem
sendo feito há um tempo. Em
geral, a solução proposta pelos especialistas é
que as propagandas de "junk food", com conteúdo violento ou sexual sejam restritas para
esse público. Mas a psicóloga Susan Linn, professora da Universidade Harvard (EUA), propõe uma solução mais radical: a proibição de
toda a publicidade voltada para crianças.
"As empresas
bombardeiam
as crianças com
mensagens que
minam os
esforços dos
pais para
protegê-las;
elas buscam
um vínculo de
lealdade que
vá "do berço
ao túmulo'"
Susan Linn
Autora do livro "Crianças do Consumo"
(Instituto Alana, 342 págs., R$ 39), recém-lançado no Brasil, Linn defende que valores como
compra por impulso, narcisismo e lealdade
sem questionamento às marcas, difundidos
pelo marketing, não são benéficos para as
crianças. "A manipulação das crianças objetivando o lucro não é boa para elas. E elas são
mais suscetíveis do que os adultos por não terem a mesma capacidade de julgamento",
afirmou a pesquisadora à Folha por e-mail.
Folha - Por que você defende o fim do
marketing para crianças?
Susan Linn - O marketing é responsável por
problemas como obesidade, sexualidade precoce, estresse familiar e redução do brincar
criativo. As crianças são o alvo dos publicitários para todo tipo de produto, de hambúrgueres a minivans. E isso não é bom para elas.
Folha - Proibir os anúncios com "junk
food", violência e sexo não resolveria?
Linn - Em meus estudos, cheguei à conclusão
de que limitar a ação a alguns produtos não é
suficiente. A manipulação das crianças objetivando o lucro não é boa para elas. E elas são
mais suscetíveis do que os adultos, por não terem a mesma capacidade de julgamento.
Folha - Até qual idade elas são mais influenciáveis?
Linn - Pesquisas comprovam que crianças
em idade pré-escolar têm dificuldade em diferenciar comerciais de programas normais de
TV. As mais velhas fazem a distinção, mas
pensam concretamente e tendem a acreditar
nos comerciais. Mesmo em adolescentes, o
efeito é dramático. Afinal, a propaganda está
direcionada às emoções, e não ao intelecto.
Folha - Para as empresas, o controle
do que as crianças consomem é papel
dos pais. Você discorda?
Linn - As empresas bombardeiam as crianças com mensagens que minam os esforços
dos pais para protegê-las. Elas buscam uma
lealdade que vá "do berço ao túmulo". Os pais
são responsáveis pelos filhos. Mas e a responsabilidade corporativa? Só nos EUA, as são investidos US$ 15 bilhões em marketing para
crianças todo ano -150 vezes mais do que em
1983. Trabalham com psicólogos e artistas para minar a autoridade paterna e atingir as
crianças com mensagens sofisticadas, criadas
para incentivá-las a importunar seus pais.
Folha - A TV tem papel importante nessa questão?
Linn - A obesidade infantil é um exemplo. A
incidência da doença é maior entre as crianças
que assistem à TV por quatro ou mais horas
diariamente e menor entre as que assistem por
uma hora ou menos. Entre os adolescentes, a
incidência aumenta 2% para cada hora adicional de exposição à TV. Outra questão que merece atenção é a da sexualidade precoce. Um
estudo da Fundação Kaiser Family mostrou
que os programas mais populares entre os
adolescentes nos EUA incluíam uma média de
6,7 cenas de sexo para cada hora televisada.
Folha - Que estratégias os publicitários
usam para atingir as crianças?
Linn - Para as menores, o método primário é
o licenciamento de marcas [quando produtos
trazem imagens de personagens da mídia].
Ações ligadas ao cinema são outra técnica. Nos
EUA, o último filme "Star Wars" saiu com 24
promoções, de 16 marcas de "junk food".
Folha - Em que idade as crianças se tornam alvo da publicidade?
Linn - Os profissionais de marketing dizem
que bebês já demandam marcas tão logo começam a falar. Eles são atingidos pelo licenciamento de marcas e pela indústria de vídeos para bebês, que falsamente convence os pais de
que esses programas são educativos.
Folha - Isso já chegou às escolas?
Linn - Nos EUA, é um fenômeno crescente.
As empresas criam materiais de ensino que
são atraentes, mas promovem seus interesses
velados. A indústria do petróleo tem materiais
educativos sobre combustíveis fósseis, o
McDonald's, sobre nutrição. Escolas deveriam
ensinar as crianças a pensar criticamente, e o
marketing é a antítese do pensamento crítico.
Folha - Como os pais podem reduzir o
impacto da publicidade sobre os filhos?
Linn - É muito difícil lutar contra uma indústria tão poderosa. Mas há coisas a fazer. Os
pais podem tirar aparelhos de TV do quarto
dos filhos, conversar com eles sobre os significados embutidos nos anúncios e preocupar-se
com suas próprias atitudes em relação ao consumo, sendo um exemplo. Devemos manter
as crianças longe da publicidade, lendo para
elas, jogando cartas, cozinhando juntos. O site
www.desligueatv.org.br, seção brasileira da
TV-Turnoff Network, movimento de conscientização sobre o impacto do excesso de televisão na vida moderna, traz outras dicas.
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