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ROSELY SAYÃO
Excesso ou falta de proteção
Muitas mães têm se
tornado inconvenientes quando
procuram proteger seus filhos: chamam a atenção das mães dos colegas deles,
dão broncas nos professores,
são rudes com parentes que interagem com seus rebentos etc.
É claro que as crianças precisam da proteção dos adultos,
porque sem ela não têm condições de viver bem. A mãe é a
primeira a exercer essa função:
alimenta o filho, cuida de seu
bem-estar, evita que se coloque
em situação de risco. Quando
ele ainda é um bebê, a função de
proteção não provoca dúvidas.
O problema aparece quando a
criança começa a crescer.
Sabemos que o mundo adulto tem muitas facetas que, para
a criança, são hostis e provocam medo, insegurança e angústia. É que ela ainda não tem
recursos para fazer frente a
muitas questões que nós, adultos, enfrentamos, mesmo com
dificuldade.
Recentemente, por exemplo,
um acidente aéreo fez com que
muitas famílias decidissem
cancelar as férias porque os filhos ficaram com medo de
avião. Muitos adultos também
ficaram receosos, mas viajam
assim mesmo se precisam.
A criança precisa, portanto,
ser protegida do mundo adulto.
Precisa que seus pais a protejam do excesso de atividades,
de estímulos que apelam para o
erotismo e o consumismo, de
informações detalhadas sobre
crimes, guerras, corrupção e
até de si mesma.
Por ainda não ter desenvolvido seu mecanismo de autocontrole, precisa contar com o bom
senso dos pais para ser contida
em alguns de seus impulsos.
As crianças sabem muito
bem o que querem, mas ainda
não sabem se podem ou devem
ter ou fazer o que querem. Cabe
aos pais essa decisão. Conter a
criança é protegê-la.
Nem sempre damos esse tipo
de proteção às nossas crianças,
não é verdade? Em compensação, muitas mães levam às últimas consequências a tentativa
de proteger seus filhos das coisas inevitáveis da vida.
É coisa de criança, por exemplo, estranhar-se com seus pares, reclamar de suas obrigações escolares, considerar injustas as pequenas sanções que
sofre dos professores etc. E a
primeira atitude que ela toma é
justamente pedir proteção.
Mas nem sempre a mãe deve
interferir. Se os pais confiam na
escola que o filho frequenta, devem apenas encorajá-lo a procurar a ajuda dos professores e
falar diretamente com eles a
respeito dos problemas que lá
enfrenta. Sempre que os pais
interferem diretamente, colaboram para que o filho se recuse a crescer e mantenha a ideia
de que não tem condições de
encarar as dificuldades.
Mesmo quando a mãe considera que o problema que o filho
diz enfrentar na escola merece
uma intervenção, ela deve ser
feita diretamente com os responsáveis da escola, e não com
outras mães, porque isso pode
criar problemas e situações
constrangedoras.
Andamos atrapalhados com
o conceito de proteção à infância: nem sempre oferecemos o
necessário e muitas vezes cuidamos do que não é preciso.
Desse modo, a ideia de crescer
fica confusa para a criança.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
rosely.sayao@grupofolha.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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