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drible a neura
Perfeccionista quer se diferenciar dos outros
KATIA DEUTNER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Eles ouvem conselhos como "Relaxe, não se cobre tanto!",
mas nem prestam atenção e seguem em frente, com uma
disposição que parece implacável. Corrigem, refazem e acertam
detalhes até que qualquer trabalho ou tarefa sob sua responsabilidade esteja impecável e exatamente do modo por eles idealizado. Muitas vezes considerados chatos e implicantes, os perfeccionistas são pessoas extremamente exigentes consigo mesmas
e com os outros.
A estudante Juliana Inhasz, 20,
enquadra-se nessa categoria. Parentes e amigos sempre pedem
para ela parar de se preocupar em
ser perfeita. "Todo mundo fala
que eu me cobro muito, principalmente nos trabalhos da faculdade. Para mim, isso é natural,
sempre fui assim e quero fazer o
melhor", diz ela.
O que pode parecer excessivo
para alguns pode ser apenas um
traço de personalidade, uma forma de ser e de agir. "Muitas vezes,
ser organizado e meticuloso é
uma forma comportamental de
fazer as tarefas, uma estratégia de
organização", explica o psicólogo
José Roberto Leite, coordenador
da unidade de Medicina Comportamental do Departamento de
Psicobiologia da Unifesp.
Bem-feito
Ser caprichoso, mi-
nucioso e persistente é, para os
perfeccionistas, um meio de traçar metas, atingir objetivos e superá-los. Ou seja, pode ser uma
grande vantagem. "O lado positivo compensa o esforço e o tempo
gasto. Hoje, estou cursando a faculdade que escolhi", diz Inhasz,
que faz economia na USP.
O perfeccionista, portanto, deve
aprender a lidar com isso a seu favor. "Depende da capacidade individual de manipular e lidar com
o desejo de perfeição", diz o psiquiatra Marcos Mercadante, do
Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (SP).
Para quem assiste à peça "Arlequim, Servidor de Dois Patrões",
o perfeccionismo do ator e produtor teatral Marcos Breda, 42, é
bem-vindo. "Já fizemos mais de
160 apresentações da peça e, todos os dias, mexo em um detalhe
que ainda precisa ser modificado.
Repito milhares de vezes até
achar que está bom", diz ele.
Os perfeccionistas geralmente
são bastante organizados e estabelecem padrões elevados para si
mesmos, pois a possibilidade de
errar os apavora.
"Eu não aceito falha da minha
parte", reconhece a secretária Vera Lazzarini, 36. Muito exigente
consigo, com o marido e com a filha, ela não relaxa nem em casa.
"Sofro muito quando as coisas
não são do jeito que eu quero, da
maneira que eu acho que deve
ser." Quem mais reclama dessa
mania de perfeição é sua filha,
Giovana, de oito anos. "Ela sempre fala: "Mãe, isso cansa. Por que
tudo tem de ser do seu jeito?'",
afirma Lazzarini.
Segundo Mercadante, ser tão
exigente é um traço de personalidade de quem precisa fazer e refazer tudo para se sentir bem. A psicanálise considera o perfeccionista como um indivíduo rígido que
não se conforma em ser apenas
um no meio da multidão.
Luta interna
"Essa é uma ba-
talha contra você mesmo, o que
influencia é a sua própria opinião.
Enquanto eu mesmo não me convenço, não adianta ninguém dizer
que um programa de computador que estou fazendo está bom,
por exemplo", afirma o analista
de sistemas José Carlos da Silveira
Mello, 37, que diz não ser tão crítico com a família. "Em casa, eu me
solto mais e não cobro tanto das
pessoas e de mim."
Crescer em uma casa onde a
busca pela perfeição é um comportamento corriqueiro pode fazer com que uma criança também
se torne perfeccionista. Ela aprende que o certo é se comportar de
uma maneira exigente, explica
Mercadante. "A criança observa o
pai ou a mãe muito críticos e se
comporta de maneira igual, copiando o modelo familiar", afirma a psicóloga Maly Delitti, professora da PUC-SP.
Porém há casos em que o perfeccionismo deixa de ser uma característica e transforma-se numa
doença (leia mais na pág. ao lado). Sem chegar a esse extremo,
há também os perfeccionistas que
percebem que estão passando dos
limites, gerando estresse desnecessário para eles mesmos e para
os outros. Para esses, os especialistas recomendam terapia comportamental. "Meditação e acupuntura também ajudam a aliviar
a tensão", diz Leite.
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