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foco nela
Dança-terapia ajuda de surdos a estressados
KATIA CALSAVARA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Estou feliz por ter apenas 81 anos e
tanta coisa para fazer", diz a bailarina, coreógrafa, educadora e professora de dança-terapia María Fux. Precursora da dança moderna na Argentina, Fux desenvolveu um método em que usa a linguagem
não-verbal para dar estímulos a quem
costuma dizer "eu não consigo".
Pessoas surdas, com síndrome de
Down, com problemas de auto-estima,
com paralisia ou com estresse procuram
seus cursos em todo o mundo. Seus estímulos fazem "despertar" partes do corpo
que se encontravam esquecidas.
Devido ao sucesso de sua última apresentação em São Paulo, em maio deste
ano, Fux retorna à cidade para fazer um
workshop. Leia a entrevista abaixo.
Folha - O que é dança-terapia?
María Fux - A dança-terapia é um encontro com o corpo, não por meio de
uma ginástica, e sim pelo próprio conhecimento do corpo. Tanta gente diz "não
posso fazer isso, não posso fazer aquilo",
ou porque está gorda ou porque tem conflitos ou problemas físicos. A dança-terapia estimula o corpo a sentir a música, a
palavra, a cor e a trabalhar com o ritmo.
Eu tento fazer as pessoas se aceitarem como são e encontrarem possibilidades relacionadas ao seu ritmo interno.
Folha - Como criou a dança-terapia?
Fux - Eu me interessava em trabalhar
com o silêncio, com ritmos não-audíveis.
Foi quando encontrei uma menina surda
e me dei conta de que poderia ensiná-la a
dançar. Eu tinha consciência de que, para
nos movimentarmos, o ritmo não precisa ser necessariamente audível.
Folha - E como foi esse encontro?
Fux - A menina tinha quatro anos e era
filha de uma amiga minha. Começamos a
nos comunicar. Eu a estimulava com desenhos e pinturas, e nós nos comunicávamos com o auxílio de imagens. Primeiro
eu a ensinei a se expressar e depois a coloquei para fazer parte de outros grupos.
Folha - A senhora estudou com Martha
Graham (1894-1991), bailarina que introduziu os movimentos de contração, expansão e torção na dança moderna. Como
foi essa experiência?
Fux - Eu buscava um mestre. Foi difícil fazer com que ela me atendesse porque era muito ocupada. Com a ajuda de
um assessor, consegui agendar 15 minutos para apresentar alguns de meus
trabalhos. Fiquei com Martha durante
uma hora, e ela me disse uma coisa
muito importante: "Você não precisa
buscar mestres fora, você já os têm dentro do seu corpo". A partir daí, segui com
minha experiência para estimular a todos, tanto surdos como pessoas com problemas emocionais, com síndrome de
Down e gente como a gente, pois somos
todos limitados. É importante estimular
as áreas "dormidas" do corpo.
Folha - Como assim?
Fux - Eu estimulo as pessoas com músicas, palavras, por meio da cor, da linha,
da forma e mostro possibilidades de despertar partes do corpo que quase não se
movimentam. Se uma pessoa vive em cadeira de rodas, ela não vai sair caminhando, claro, mas vai aprender a dançar com
seus braços e suas mãos. Mas há algo
mais importante, que é a criatividade,
que está em todos. Nós a perdemos
quando crescemos, por meio de uma
educação que diz "isso pode, isso não pode". As crianças são criadoras. Temos de
nos tornar adultos sabendo que podemos criar com o corpo, aquele que temos,
e não o corpo unicamente bonitinho.
Folha - Em sua opinião, por que as pessoas
têm dificuldade de se comunicar por meio
do corpo?
Fux - Porque elas têm medo. Elas vivem
dizendo "não posso, não consigo". Nós, à
medida que crescemos, temos mais medo do corpo. Isso impede que nos expressemos bem com ele. Eu busco estimular o
que está parado. A dança-terapia é isso, é
perder o medo de se expressar.
Folha - Como é ser acompanhada pelo silêncio, no caso das coreografias em que a
senhora não usa música?
Fux - É maravilhoso. Quando fazemos
amor, há música ou silêncio? É a mesma
coisa.
Folha - Como trabalha com grupos tão
distintos, como pessoas com síndrome de
Down ou com estresse?
Fux - Todos temos limites. Cada um trabalha de acordo com suas possibilidades.
O mais importante de tudo o que venho
fazer no Brasil é formar pessoas para trabalhar com a minha metodologia.
Folha - Há muita procura pelo workshop?
Fux - Sim, em todos os lugares do mundo há muita procura. Estou contente por
ter tanta coisa para fazer aos 81 anos.
Folha - A senhora viu alguma cura realizar-se por meio da dança-terapia?
Fux - Não costumo falar em enfermidade ou em cura. Esse não é meu vocabulário. Digo que as pessoas mudam para
melhor, isso é seguro.
Folha - E a senhora nota melhoras em praticantes da dança-terapia?
Fux - Sim, em muita gente, especialmente em surdos e em pessoas com síndrome de Down. Pelo movimento, eles
mudam seu estado emocional. Cada um
tem seu tempo, e nunca estou apressada.
Folha - Como se sente aos 81 anos?
Fux - Não me sinto cansada porque tenho muito a fazer pelos outros. Quando
eu durmo, durmo; quando como, como;
quando danço, danço. E durmo bem, e
como bem, e isso me faz bem.
O workshop Dança-terapia e Criatividade com o
Movimento começa amanhã (19/9) e termina no
domingo, no Santuário Ten Tao (al. dos Guatás,
524, Planalto Paulista). Informações pelo telefone
0/xx/11/5011-9526.
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