Nascida na Rússia, Tatiana Belinky, 89, é uma das escritoras de livros infanto-juvenis mais conhecidas do Brasil, para onde se mudou, com a família, quando tinha dez anos. Em seus mais de 120 livros publicados, entre contos, adaptações, traduções, pequenos poemas (ou trança-língua, como define), ela já abordou os mais diversos assuntos em obras para crianças. Nesta entrevista por telefone à Folha, ela conta o que faz um bom livro.

 

FOLHA - Dá para abordar temas "adultos" em literatura infantil?
TATIANA BELINKY - Todos os temas, quando são bem tratados, são válidos. Tudo é bom para criança quando é bom. Livro não traumatiza ninguém, só enriquece.

FOLHA - Como escolher um bom livro para crianças?
BELINKY - Há muitas coisas que fazem um bom livro de criança, ou qualquer livro, mas três são realmente essenciais: tem que ter ética, estética, que é a parte da qualidade literária, e algum senso humor. Se [o livro] deixa algum vestígio, ensina alguma coisa, funciona.

FOLHA - E o que não funciona?
BELINKY - O livro descaradamente didático é chato. Não gosto daquela coisa do dedo apontando para ensinar alguma coisa a você. Criança não é boba, pode deixar que ela entende sozinha.

FOLHA - Como o livro ajuda em uma situação difícil?
BELINKY - Ajuda um pouquinho a abrir os olhos, a boca, os ouvidos. A aprender ouvir e escutar, olhar e enxergar -que não são as mesmas coisas.

FOLHA - Qual é a melhor maneira de sugerir um determinado livro para uma criança?
BELINKY - Daniel Pennac [autor francês de livros infantis e de ensaios sobre literatura] disse que o verbo ler não comporta imperativo, do mesmo modo que [os verbos] amar e sonhar. São coisas que não se manda fazer. O que precisamos é expor a criança ao livro e expor o livro à criança, dar a oportunidade de ela ver os livros, escolher, pegar e ler o que quer.


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