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drible a neura
Medo do resultado faz paciente adiar exame
KATIA DEUTNER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Quando soube que teria de refazer um exame de laboratório solicitado durante o processo de admissão em uma empresa, o auditor de seguros Alexandre Masso Masuda, 33, entrou em pânico. "Fiz até um testamento, deixando minha prancha velha para um amigo e a nova para
outro", diz ele, que é surfista. Sua angústia só terminou ao receber o laudo, que
indicava apenas uma gastrite moderada.
"Meu medo não é o exame, é o resultado,
é descobrir que eu não tenho mais chance, que é o fim."
Esse tipo de reação pode parecer exagerada, mas faz parte do cotidiano de muitas pessoas, que estremecem só de pensar
em ir a um laboratório de análises clínicas. Como Alexandre, muitas vezes o medo está associado a fantasias sobre diagnósticos ruins. "Muitos têm medo por
causa da doença em si ou pela dor que
vão sentir; outros já pensam na família,
como ela ficará sem eles", afirma o psiquiatra e psicoterapeuta Geraldo Massaro, do Instituto de Psiquiatria do Hospital
das Clínicas (HC), de São Paulo.
Transpiração excessiva, boca seca, taquicardia, respiração acelerada, tensão
muscular, vertigens, tremores e distúrbios gastrointestinais são alguns dos sintomas que podem ser desencadeados pela fobia de exames. Às vezes, essas reações são tão intensas que interferem no
resultado de alguns exames.
De acordo com um estudo britânico,
realizado no hospital Royal Brompton,
em Londres, aproximadamente 2% dos
exames de diagnóstico por imagem realizados em 2000 precisaram ser refeitos
porque os pacientes não conseguiram se
manter imóveis durante o procedimento.
Às vezes, o pavor é tão grande que a
pessoa desiste. Outra pesquisa feita em
Londres, no hospital Saint Marie, indica
que 5% dos exames não são executados
por causa da fobia, que faz com que o paciente volte ainda com o pedido do médico nas mãos.
Outros adiam os exames o máximo
possível. A administradora de empresas
Andréia de Grande Souza Ferreira, 32,
demorou mais de cinco meses para fazer
um simples exame de sangue. "Nesse período, eu até senti sintomas de diabetes,
mas não queria confirmar se tinha ou
não essa doença. Eu achava que as pessoas passariam a me olhar diferente, que
esse diagnóstico ia mudar minha vida",
diz ela, cujo resultado foi negativo.
Segundo a psicóloga Silvia Maria Ismael, chefe do setor de psicologia do
Hospital do Coração, de São Paulo, e presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar, o medo de descobrir
que há algo errado com a saúde desestrutura algumas pessoas. "Muitos falam:
"Sabe como é, doutora, quem procura
acha, e eu procurei". Eles se esquecem de
que o tratamento preventivo é mais eficaz que o emergencial. Uma cirurgia de
emergência, por exemplo, é muito mais
complicada que uma programada."
Alheios ao apelo da prevenção e temerosos quanto ao resultado de seus exames, alguns só marcam consultas médicas quando a situação chega ao limite. O
técnico gráfico Gil Nei Cláudio, 56, por
exemplo, só procura ajuda de um profissional quando está com "muita dor". "Se
a doença é indolor, não quero nem saber
o que eu tenho. Também não acredito no
tratamento. O corpo humano é uma máquina capaz de resolver tudo sozinha."
Há situações em que o temor não está
associado à preocupação antecipada com
o resultado. Quem sofre de claustrofobia,
por exemplo, geralmente se sente mal ao
fazer uma tomografia, porque precisa ficar confinado em um equipamento apertado, com abertura apenas em uma das
extremidades. Já o medo da dor pode fazer o paciente adiar uma biópsia.
Conversa de consultório
Cabe ao médico dar o primeiro passo para acalmar o paciente, explicando por que está
pedindo determinado exame, como o
procedimento é feito e que tipo de resultado será obtido. "Alguns têm pavor de
sentir dor ou desconforto. Quanto maior
o número de informações sobre o procedimento e sobre o que o paciente vai enfrentar, menos medo ele terá", afirma
Giuseppe D'Ippolito, coordenador do
Serviço de Tomografia e Ressonância
Magnética do hospital São Luiz (SP).
O paciente, porém, tem de fazer a sua
parte, adotando atitudes que ajudem a
reduzir a ansiedade e o estresse (leia mais
ao lado). "O importante é acreditar no
médico e não tentar prever se tem alguma doença", diz a psicóloga Silvia Ismael.
Ir acompanhado ou pedir para alguém
-até um funcionário do laboratório-
segurar a mão durante a realização do
exame também ajuda a diminuir a tensão. "O contato físico minimiza o medo.
É algo relacionado com a infância e com a
sensação de conforto", diz D'Ippolito.
Em alguns casos, os exames podem ser
feitos em casa, mesmo se a pessoa estiver
bem o suficiente para ir ao laboratório.
Em seu próprio ambiente, próximo dos
familiares, o paciente sente-se mais calmo e protegido, afirma José Roberto Lino
Filho, diretor de atendimento do laboratório Fleury (SP). Outra opção é, alguns
dias antes do exame, fazer uma visita ao
laboratório ou clínica para conhecer o local, o aparelho, o procedimento e o profissional que fará o atendimento.
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