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Preservativo estimula as fantasias sexuais
Ao incorporar "efeitos especiais" como textura, camisinha deixa de ser apenas uma obrigação e passa a fazer parte do jogo erótico
ANA PAULA DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Camisinha é, principalmente, sinônimo de contracepção e
proteção contra doenças sexualmente transmissíveis (DSTs).
Mas, se bem escolhido e usado, o preservativo cumpre essas funções e, de quebra, pode aguçar a imaginação e se transformar em
um ingrediente erótico que envolve praticamente todos os sentidos. Opções não faltam: hoje, há modelos com saliências, ranhuras, aromas e até faixas coloridas patrioticamente de verde e amarelo.
Apesar de todas as campanhas, muitas
pessoas ainda resistem ao uso do preservativo. De acordo com psiquiatra e terapeuta sexual Ronaldo Pamplona, isso
ocorre com mais freqüência entre homens e mulheres acima dos 40 anos. "Os
que eram jovens na década de 70 não
cresceram com a necessidade de usar camisinha. Eles não conviveram com a
Aids na juventude."
As camisinhas coloridas e texturizadas
são bem-vindas, pois ajudam a romper
as resistências. "Elas ajudam a encarar a
prática do sexo seguro com bom humor", afirma a psicóloga Sonia Daud,
coordenadora do curso de pós-graduação em terapia sexual da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana (Sbrash).
Para diminuir ao máximo o grau de rejeição, os fabricantes investem no desenvolvimento de novos preservativos. Esses
produtos tornam a prevenção mais divertida, diz Eduardo Yabusaki, psicólogo
e terapeuta sexual.
"As pessoas sempre viram as camisinhas apenas como forma de prevenção.
Os preservativos com adicionais, sejam
aromatizados, com ranhuras ou coloridos, acabam proporcionando um clima
de experimento, novidade e erotismo.
Afinal, esses aditivos foram feitos para estimular a fantasia sexual", diz Maria Helena Vilela, diretora-executiva do Instituto Kaplan - Centro de Estudos da Sexualidade Humana, em São Paulo.
O que antes só era encontrado na seção
de importados das lojas de produtos eróticos já está disponível em farmácias e até
em supermercados. As mudanças nos
preservativos não se limitam à estética.
Existem também as de tamanhos diferenciados -para maior e para menor.
Para quem sofre de ejaculação precoce,
existem camisinhas com dessensibilizante dentro do preservativo. Há ainda as
mais resistentes, que também prometem
diminuir a sensibilidade peniana e, assim, retardar a ejaculação.
Como, na maioria dos casos, a ejaculação precoce geralmente está associada a
questões psicológicas, o urologista José
Alaor Figueiredo, do Hospital das Clínicas (HC), de São Paulo, afirma que esses
preservativos são apenas paliativos e não
resolvem o problema. "Mas o uso é válido como fantasia sexual."
Apesar de o mercado brasileiro estar
renovando as formas, as cores, os aromas
e os tamanhos dos preservativos, a variedade é ainda maior entre os produtos importados. Há camisinhas fluorescentes,
feitas de tripa de carneiro -para quem
tem alergia a látex- e para ocasiões especiais, com embalagens para o Dia dos
Namorados e das Bruxas, por exemplo.
Quem quiser experimentar os importados deve dar preferência àqueles com rótulo traduzido para o português e, como os nacionais, selo do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), orienta Figueiredo. A falta do selo significa que o
produto não passou pela certificação.
O Inmetro já foi contatado para fazer a
avaliação de um lançamento previsto para daqui a dois anos. Em parceria, o governo federal, o Estado do Acre e uma
empresa (a ser definida por licitação)
pretendem implantar uma fábrica de camisinhas em Xapuri. Serão os primeiros
preservativos feitos com látex brasileiro
-os disponíveis hoje são confeccionados com material importando, geralmente da Malásia. O programa, que está em
fase de desenvolvimento industrial, prevê
a extração auto-sustentável de látex da
Reserva Extrativista Chico Mendes.
Teste de resistência
No processo de
fabricação, as camisinhas são testadas
eletronicamente. Cada uma é colocada
em um molde metálico e recebe uma carga elétrica. Como a borracha é um material isolante, a corrente elétrica só passa
pelo preservativo se ele estiver furado.
Todas as camisinhas com defeito são descartadas, mas reaproveitadas por outras
indústrias. Parte desse látex, por exemplo, é utilizado por fábricas de brinquedo
para fazer os diafragmas que produzem o
choro das bonecas.
Mesmo com testes tão rigorosos, há
quem desconfie da eficácia do preservativo. Pesquisa feita pelo Ibope para o Ministério da Saúde, no final do ano passado, mostra que 15% da população sexualmente ativa não acredita que a camisinha
possa barrar o vírus da Aids.
Mas, se a camisinha falha, muito provavelmente a responsabilidade é do usuário. "Cerca de 99% dos casos de rompimento ocorrem devido à colocação incorreta", afirma Maria Helena Vilela, do
Instituto Kaplan.
A falta de habilidade também pode ser
a origem da resistência em usar preservativo. Segundo a pesquisadora, o homem
tem receio de se atrapalhar, de demorar
para colocar o preservativo e perder a
ereção. "Quem tem habilidade em colocar a camisinha não se recusa a usá-la."
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