São Paulo, quinta-feira, 19 de março de 2009
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Médico credita a famílias o papel principal nos avanços

O pediatra e geneticista Zan Mustacchi trata de portadores da síndrome de Down há 34 de seus 58 anos. Diretor do Cepec (Centro de Estudos e Pesquisas Clínicas), chefe do departamento de genética do Hospital Infantil Darcy Vargas e membro de um grupo internacional que estuda a síndrome, ele chama de "mentira" a ideia de que avanços tecnológicos foram o principal fator de aumento da longevidade dos Down.
"Nós, médicos, tínhamos domínio de muitas informações. [O sul-africano] Christian Barnard fez transplante cardíaco na década de 60. Mas a proposta de correção de cardiopatia congênita em Down só ocorreu a partir da década de 70. Não se queria fazer no Down. E quem operava nos anos 70 era o residente da cirurgia cardíaca. Ele aprendia a operar naquele indivíduo que teria poucas chances socialmente. "Então, vamos aproveitá-lo como uma espécie de cobaia humana'", diz Mustacchi.
Para ele, a pressão das famílias junto a médicos e governos impulsionou as conquistas. Depois, "sociedade, nutrição e, por último, tecnologia".
Cerca de 50% dos Down nascem com problemas cardíacos. Metade precisa passar por cirurgia, ou não viverá mais do que um ano. A outra metade vive com outros cuidados. Obstruções no aparelho digestivo também requerem cirurgias.
Por causa do terceiro cromossomo 21, o Down tem o desenvolvimento muscular lento, baixa velocidade das mitoses (divisão das células) e um programa de renovação das células prejudicado. Os resultados são, por exemplo, dedos curtos, baixa estatura, olhos afastados, má articulação da fala, comprometimento intelectual e envelhecimento precoce.
Além dos avanços terapêuticos e médicos, a maior longevidade foi conquistada, segundo especialistas, pela crescente socialização dos Down.
"As famílias deixaram de ter vergonha. Se ele vai à academia, ao clube, passa a exercer atividades saudáveis", diz a geneticista Silvia Bragagnolo, da Apae-SP e da Universidade Federal de São Paulo.
"Ele [o Down] está tendo oportunidade de trabalhar, entrar na faculdade, ter vida sexual. E, se dentro da casa a convivência familiar tiver uma estrutura harmônica, é mais um prazer emocional. Quem não tem prazer não vive muito", afirma Mustacchi.
Ele também aponta conquistas nutricionais, em especial a adoção de uma dieta antioxidante -com vitamina C, castanha-do-pará, pouca carne vermelha etc.-, como ingredientes da maior qualidade de vida. (LFV)


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