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Médico credita a famílias o papel principal nos avanços
O pediatra e geneticista Zan
Mustacchi trata de portadores
da síndrome de Down há 34 de
seus 58 anos. Diretor do Cepec
(Centro de Estudos e Pesquisas
Clínicas), chefe do departamento de genética do Hospital
Infantil Darcy Vargas e membro de um grupo internacional
que estuda a síndrome, ele chama de "mentira" a ideia de que
avanços tecnológicos foram o
principal fator de aumento da
longevidade dos Down.
"Nós, médicos, tínhamos domínio de muitas informações.
[O sul-africano] Christian Barnard fez transplante cardíaco
na década de 60. Mas a proposta de correção de cardiopatia
congênita em Down só ocorreu
a partir da década de 70. Não se
queria fazer no Down. E quem
operava nos anos 70 era o residente da cirurgia cardíaca. Ele
aprendia a operar naquele indivíduo que teria poucas chances
socialmente. "Então, vamos
aproveitá-lo como uma espécie
de cobaia humana'", diz Mustacchi.
Para ele, a pressão das famílias junto a médicos e governos
impulsionou as conquistas. Depois, "sociedade, nutrição e,
por último, tecnologia".
Cerca de 50% dos Down nascem com problemas cardíacos.
Metade precisa passar por cirurgia, ou não viverá mais do
que um ano. A outra metade vive com outros cuidados. Obstruções no aparelho digestivo
também requerem cirurgias.
Por causa do terceiro cromossomo 21, o Down tem o desenvolvimento muscular lento,
baixa velocidade das mitoses
(divisão das células) e um programa de renovação das células
prejudicado. Os resultados são,
por exemplo, dedos curtos, baixa estatura, olhos afastados, má
articulação da fala, comprometimento intelectual e envelhecimento precoce.
Além dos avanços terapêuticos e médicos, a maior longevidade foi conquistada, segundo
especialistas, pela crescente socialização dos Down.
"As famílias deixaram de ter
vergonha. Se ele vai à academia,
ao clube, passa a exercer atividades saudáveis", diz a geneticista Silvia Bragagnolo, da
Apae-SP e da Universidade Federal de São Paulo.
"Ele [o Down] está tendo
oportunidade de trabalhar, entrar na faculdade, ter vida sexual. E, se dentro da casa a convivência familiar tiver uma estrutura harmônica, é mais um
prazer emocional. Quem não
tem prazer não vive muito",
afirma Mustacchi.
Ele também aponta conquistas nutricionais, em especial a
adoção de uma dieta antioxidante -com vitamina C, castanha-do-pará, pouca carne vermelha etc.-, como ingredientes da maior qualidade de vida.
(LFV)
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