São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2000 |
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Eficácia da terapia foi provada por ressonância magnética Substância reduz surtos de esclerose
KARINA KLINGER
Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Basel, na
Suíça, provou que a substância interferon beta-1b tem ação
eficaz na amenização dos efeitos e sintomas da esclerose múltipla, doença incurável que afeta o sistema nervoso central. Apresentado pelo professor suíço Ludwig Kappos no 19º Congresso
Brasileiro de Neurologia, realizado na semana passada em Salvador (BA), o estudo tranquiliza os
pacientes brasileiros que, desde
1997, já usavam a substância mesmo sem comprovação científica
de sua eficácia.
Segundo o médico Dagoberto
Callegaro, do Hospital das Clínicas (SP), é a primeira vez que os
benefícios de um tratamento que
regula os surtos de esclerose múltipla são demonstrados por exames de ressonância magnética.
Ele explica que a substância usada
nessa terapia é a mesma produzida naturalmente pelos linfócitos,
células relacionadas ao sistema
imunológico.
Segundo dados da Associação
Brasileira de Esclerose Múltipla
(Abem), a maioria dos pacientes
tratados com interferon beta-1b
apresenta uma redução de 30% a
40% na taxa anual de surtos.
Descoberta em 1860 pelo médico francês Jean Charcot, a esclerose múltipla se manifesta após lesões na mielina, substância que
recobre as fibras nervosas, isolando-as dos impulsos do cérebro,
do nervo ótico e da medula espinhal. Constituída por proteínas e
gorduras, a mielina ajuda na condução das mensagens que controlam todos os movimentos conscientes e inconscientes do corpo.
A enfermidade, que afeta os
movimentos do paciente, desenvolve-se principalmente em pessoas jovens, com idade entre 20 e
25 anos. As mulheres são as mais
atingidas. "Os hormônios femininos facilitam o alastramento do
processo inflamatório da esclerose múltipla no sistema nervoso
central", afirma Callegaro.
Como os primeiros sintomas
são brandos, pouco perceptíveis
e, às vezes, passageiros, é difícil
diagnosticar precocemente a
doença. Alguns sinais, porém,
servem de alerta: fraqueza de um
membro, perda de sensibilidade,
dormência ou formigamento nas
extremidades, desequilíbrio de
postura, dificuldade para andar e
visão dupla, por exemplo.
Com o passar do tempo, esses
sintomas agravam-se em surtos
que se tornam mais longos. Segundo Callegaro, a esclerose múltipla não chega a ser fatal, mas
deixa o paciente cada vez mais
debilitado e com mais dificuldade
para controlar seus movimentos.
Ainda não se sabe a verdadeira
causa da esclerose múltipla. Foi
constatado apenas que a doença
envolve predisposição genética e
reações imunológicas relacionadas com o sistema nervoso. As terapias atuais não curam, mas diminuem a duração dos ataques e
ajudam a amenizar os sintomas. |
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