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O que conta para a mudança de atitude são os valores e as crenças da pessoa e também dos que a cercam no seu ambiente
Para criar hábito, não basta ter informação
ALMEIRI SANTOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Por que raios o biscoito ou o sanduíche sempre vencem a maçã ou a pêra quando bate fome no meio da dia ou na madrugada? Os benefícios do consumo de frutas para a saúde são relativamente bem conhecidos -para quem os desconhece, há uma
providencial lista na página ao lado. Mas, apesar disso, as frutas
costumam ser esquecidas nas geladeiras e fruteiras das casas.
O Folha Equilíbrio foi atrás de uma explicação para as "forças" que movem
comportamentos aparentemente contraditórios como esse.
O enfermeiro Paolo Meneghin, professor do departamento de enfermagem
médico-cirúrgica da Universidade de São
Paulo, responde à questão valendo-se da
TRA (Teoria da Ação Racional), elaborada por dois pesquisadores americanos,
Martin Fishbein e Icek Ajzen, da Universidade de Illinois e da Universidade Massachusetts (EUA), respectivamente.
Segundo a teoria, o comportamento
humano é formado por dois compartimentos: o cognitivo, que armazena o
acúmulo de conhecimento e informação,
e o afetivo, onde estão as crenças e os valores da pessoa. Segundo Meneghin, saber, por exemplo, que fruta faz bem para
a pele, que possui vitaminas importantes
para o organismo e todas as demais vantagens nutritivas não é suficiente para determinar a mudança de atitude. Ou seja:
deixar o salgadinho de lado para dar
chance à maçã na geladeira.
"As coisas nas quais a pessoa acredita,
aquilo para o que ela dá valor, o que ela
gosta e o que lhe dá prazer são os fatores
que a levarão a uma mudança de comportamento", diz ele.
Para estudar os hábitos de uma pessoa
com base na TRA, os educadores fazem
uma investigação tendo como objetivo
descobrir o quanto o indivíduo possui de
conhecimento e de informação e quais as
crenças e os valores que o levam a determinado comportamento.
"A partir daquilo que cada um acredita
com relação a comer frutas e o valor que
cada pessoa atribui como vantagem ou
desvantagem em ingerir esse ou aquele
alimento é que vai dar a chave da mudança de hábito", explica Meneghin.
Segundo o professor, as crenças e valores, tão importantes para determinar
nossa maneira de agir, sofrem enorme
influência das chamadas normas subjetivas, ou seja, a influência do meio em que
cada indivíduo vive.
"Se alguém que gosta de fruta, mas
quase não come esse alimento, passa a
conviver num ambiente onde as pessoas
possuem esse hábito, imediatamente ela
vai adquiri-lo também. É que as nossas
atitudes estão intimamente ligadas ao
que o grupo espera de nós", diz ele.
O contrário também vale. Se você começa a levar uma fruta para o ambiente
de convivência, seja trabalho ou escola,
logo irá perceber que outras pessoas começam a fazer o mesmo.
Portanto, se você é do tipo que gostaria
de saber por que, apesar de gostar de frutas, consome pouco esse alimento, a sugestão é fazer o teste da página ao lado.
Depois, como recomenda a professora
de nutrição do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo) Anita Sachs, trate
de deixar as frutas à mão. A criação do
hábito começa, nesse caso, com uma
maior exposição do alimento e também
com a valorização dos seus aspectos positivos. Comer uma banana, por exemplo,
é o suficiente para repor a energia gasta
em meia hora de futebol. "O Guga está
certíssimo ao comer banana no meio da
partida de tênis. A reposição de potássio
perdido no suor acontece na hora", diz a
nutricionista.
E, assim como há gente que não gosta
de beringela ou aspargos, há quem não
tenha paladar receptivo para determinadas frutas. "Uma pessoa pode ter intolerância à banana por causa da produção
de uma enzima qualquer", diz a nutricionista. O importante é não transformar o
ato de comer fruta em algo estressante.
Cada pessoa pode e deve comer aquelas
de que gosta.
Segundo dados do Ministério da Agricultura, as cítricas (laranja, limão, tangerina), a banana, o mamão e o abacaxi são
as mais vendidas no Brasil.
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