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São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2003
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O que conta para a mudança de atitude são os valores e as crenças da pessoa e também dos que a cercam no seu ambiente

Para criar hábito, não basta ter informação

ALMEIRI SANTOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Por que raios o biscoito ou o sanduíche sempre vencem a maçã ou a pêra quando bate fome no meio da dia ou na madrugada? Os benefícios do consumo de frutas para a saúde são relativamente bem conhecidos -para quem os desconhece, há uma providencial lista na página ao lado. Mas, apesar disso, as frutas costumam ser esquecidas nas geladeiras e fruteiras das casas.

O Folha Equilíbrio foi atrás de uma explicação para as "forças" que movem comportamentos aparentemente contraditórios como esse.
O enfermeiro Paolo Meneghin, professor do departamento de enfermagem médico-cirúrgica da Universidade de São Paulo, responde à questão valendo-se da TRA (Teoria da Ação Racional), elaborada por dois pesquisadores americanos, Martin Fishbein e Icek Ajzen, da Universidade de Illinois e da Universidade Massachusetts (EUA), respectivamente.
Segundo a teoria, o comportamento humano é formado por dois compartimentos: o cognitivo, que armazena o acúmulo de conhecimento e informação, e o afetivo, onde estão as crenças e os valores da pessoa. Segundo Meneghin, saber, por exemplo, que fruta faz bem para a pele, que possui vitaminas importantes para o organismo e todas as demais vantagens nutritivas não é suficiente para determinar a mudança de atitude. Ou seja: deixar o salgadinho de lado para dar chance à maçã na geladeira.
"As coisas nas quais a pessoa acredita, aquilo para o que ela dá valor, o que ela gosta e o que lhe dá prazer são os fatores que a levarão a uma mudança de comportamento", diz ele.
Para estudar os hábitos de uma pessoa com base na TRA, os educadores fazem uma investigação tendo como objetivo descobrir o quanto o indivíduo possui de conhecimento e de informação e quais as crenças e os valores que o levam a determinado comportamento.
"A partir daquilo que cada um acredita com relação a comer frutas e o valor que cada pessoa atribui como vantagem ou desvantagem em ingerir esse ou aquele alimento é que vai dar a chave da mudança de hábito", explica Meneghin.
Segundo o professor, as crenças e valores, tão importantes para determinar nossa maneira de agir, sofrem enorme influência das chamadas normas subjetivas, ou seja, a influência do meio em que cada indivíduo vive.
"Se alguém que gosta de fruta, mas quase não come esse alimento, passa a conviver num ambiente onde as pessoas possuem esse hábito, imediatamente ela vai adquiri-lo também. É que as nossas atitudes estão intimamente ligadas ao que o grupo espera de nós", diz ele.
O contrário também vale. Se você começa a levar uma fruta para o ambiente de convivência, seja trabalho ou escola, logo irá perceber que outras pessoas começam a fazer o mesmo.
Portanto, se você é do tipo que gostaria de saber por que, apesar de gostar de frutas, consome pouco esse alimento, a sugestão é fazer o teste da página ao lado.
Depois, como recomenda a professora de nutrição do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Anita Sachs, trate de deixar as frutas à mão. A criação do hábito começa, nesse caso, com uma maior exposição do alimento e também com a valorização dos seus aspectos positivos. Comer uma banana, por exemplo, é o suficiente para repor a energia gasta em meia hora de futebol. "O Guga está certíssimo ao comer banana no meio da partida de tênis. A reposição de potássio perdido no suor acontece na hora", diz a nutricionista.
E, assim como há gente que não gosta de beringela ou aspargos, há quem não tenha paladar receptivo para determinadas frutas. "Uma pessoa pode ter intolerância à banana por causa da produção de uma enzima qualquer", diz a nutricionista. O importante é não transformar o ato de comer fruta em algo estressante. Cada pessoa pode e deve comer aquelas de que gosta.
Segundo dados do Ministério da Agricultura, as cítricas (laranja, limão, tangerina), a banana, o mamão e o abacaxi são as mais vendidas no Brasil.


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