São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 2006
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Neurociência

Suar faz bem ao cérebro

Já se foram os tempos em que o exercício físico era recomendado apenas para manter o coração saudável, o colesterol baixo e a pressão arterial sob controle. Hoje ele é indicado também para manter a saúde do cérebro: combate os efeitos nocivos do estresse crônico, a depressão, a ansiedade, melhora a memória e o aprendizado e ainda faz o cérebro produzir substâncias que mantêm os neurônios saudáveis e mais resistentes a danos.
O exercício físico regular é hoje considerado o que há de mais próximo de um elixir da juventude: ele faz o corpo aumentar a liberação de dois hormônios, o IGF-1 e o hormônio do crescimento, cuja redução com o passar dos anos está associada ao envelhecimento normal do corpo e da mente. Com mais idade e cada vez menos desses hormônios, o corpo acumula gordura, perde massa muscular, potência cardíaca e elasticidade das artérias e, de quebra, ainda perde neurônios no cérebro, sobretudo se o estresse for uma constante na vida.
Tudo isso é inevitável para quem leva uma vida sedentária -mas muda drasticamente quando se começa a suar com regularidade. Cada vez que você corre, pula, joga bola ou anda rápido o suficiente para suar, seu corpo secreta hormônio do crescimento e IGF-1 no sangue. Os dois são grandes responsáveis pelos benefícios do exercício para a saúde: a massa muscular aumenta, o índice de gordura corporal diminui, os ossos e o coração se fortalecem e até a produção de colágeno da pele aumenta, o que ajuda a manter o aspecto jovem.
E os benefícios não param aí. O IGF-1 do sangue entra no cérebro e aumenta a produção de um fator de crescimento que mantém os neurônios saudáveis, faz com que mais neurônios novos nasçam na estrutura responsável por memórias novas e protege os neurônios de insultos como isquemias e derrames. Como resultado, a memória melhora, as respostas ao estresse se tornam mais saudáveis, a ansiedade diminui. Além disso, o exercício ainda ativa o sistema de recompensa, gerando prazer e bem-estar, e aumenta a produção de prolactina, hormônio que traz uma sensação de tranqüilidade.
Não fomos feitos para ficar sentados no sofá. Os confortos da vida moderna são ótimos, mas o sedentarismo talvez seja um grande responsável pelo lado ruim do envelhecimento. Não dá para parar o tempo, mas reverter os seus efeitos indesejáveis sobre corpo e cérebro está ao alcance de todos. Basta suar a camisa.


SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora de "O Cérebro Nosso de Cada Dia" (ed. Vieira & Lent) e de "O Cérebro em Transformação" (ed. Objetiva)
suzanahh@folhasp.com.br


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