|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Neurociência
Suar faz bem ao cérebro
Já se foram os tempos
em que o exercício físico era recomendado apenas para manter o coração saudável, o colesterol baixo e a pressão arterial sob controle. Hoje ele é
indicado também para manter a saúde do cérebro: combate os efeitos nocivos do estresse crônico, a depressão, a
ansiedade, melhora a memória e o aprendizado e ainda
faz o cérebro produzir substâncias que mantêm os neurônios saudáveis e mais resistentes a danos.
O exercício físico regular é
hoje considerado o que há de
mais próximo de um elixir da
juventude: ele faz o corpo aumentar a liberação de dois
hormônios, o IGF-1 e o hormônio do crescimento, cuja
redução com o passar dos
anos está associada ao envelhecimento normal do corpo
e da mente. Com mais idade
e cada vez menos desses hormônios, o corpo acumula
gordura, perde massa muscular, potência cardíaca e
elasticidade das artérias e, de
quebra, ainda perde neurônios no cérebro, sobretudo
se o estresse for uma constante na vida.
Tudo isso é inevitável para
quem leva uma vida sedentária -mas muda drasticamente quando se começa a
suar com regularidade. Cada
vez que você corre, pula, joga
bola ou anda rápido o suficiente para suar, seu corpo
secreta hormônio do crescimento e IGF-1 no sangue. Os
dois são grandes responsáveis pelos benefícios do exercício para a saúde: a massa
muscular aumenta, o índice
de gordura corporal diminui,
os ossos e o coração se fortalecem e até a produção de colágeno da pele aumenta, o que ajuda a manter o aspecto
jovem.
E os benefícios não param
aí. O IGF-1 do sangue entra
no cérebro e aumenta a produção de um fator de crescimento que mantém os neurônios saudáveis, faz com
que mais neurônios novos
nasçam na estrutura responsável por memórias novas e
protege os neurônios de insultos como isquemias e derrames. Como resultado, a
memória melhora, as respostas ao estresse se tornam
mais saudáveis, a ansiedade
diminui. Além disso, o exercício ainda ativa o sistema de
recompensa, gerando prazer
e bem-estar, e aumenta a
produção de prolactina, hormônio que traz uma sensação de tranqüilidade.
Não fomos feitos para ficar
sentados no sofá. Os confortos da vida moderna são ótimos, mas o sedentarismo talvez seja um grande responsável pelo lado ruim do envelhecimento. Não dá para parar o tempo, mas reverter os
seus efeitos indesejáveis sobre corpo e cérebro está ao
alcance de todos. Basta suar
a camisa.
SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora de "O Cérebro Nosso de Cada Dia" (ed. Vieira &
Lent) e de "O Cérebro em Transformação"
(ed. Objetiva)
suzanahh@folhasp.com.br
Texto Anterior: [+] Equilíbrio em todas as fases Próximo Texto: Compare Índice
|