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O mestre na sombra
ANNA VERONICA MAUTNER - amautner@uol.com.br
EXISTE UMA certa unanimidade sobre a importância do
estado de ânimo e da personalidade do professor na facilitação do processo de aprendizagem na sala de aula.
Creio que todos concordam
com a ideia de que a atividade do professor precisa ser
bem paga. Claro.
Parece existir, também,
uma correlação clara entre
salário e eficiência. Tem sido
dado grande destaque à
questão salarial, mas isso
não parece ser suficiente.
Além do salário, o reconhecimento da pessoa do mestre
por parte da comunidade é
muito importante.
Se ele sair da sombra, se
for conhecido, isso alavancará a sua autoestima, sem a
qual o entusiasmo inexiste.
Vivemos em uma época em
que todo mundo -professor
inclusive- gostaria de sair da
sombra e do anonimato, pelo
menos entre seus pares.
Professor é a profissão onde o entusiasmo é indispensável. A fé na importância da
tarefa que ele desempenha
depende de reconhecimento
e de uma certa notoriedade,
talvez mais do que entre outros profissionais.
O mestre precisa do olhar
de apreciação, não só de seus
alunos. Isto é, precisa ser
aceito, mas depende disso a
aceitação de sua mensagem.
Há muitas décadas, o professor era muito importante.
Ser reconhecido e cumprimentado por um alimentava
a vaidade da pessoa. Valia a
pena conhecer professores.
A velha imagem da maçã
na mesa do professor desapareceu. Ele já não é mais tão
homenageado como antes.
Uma ou outra família ainda se esforça para agradá-lo.
Será ainda uma honra receber uma visita de professor? É
uma honra ele aparecer em
um aniversário?
A minha proposta é que se
anexem aos programas de
valorização do professor projetos de especialistas em
construção de imagem, marketing pessoal -por que não?
Esses especialistas poderão tirar os mestres da sombra. Só a título de exemplo:
poderíamos criar concursos
de redação, de poesia, realizar passeios e excursões, congressos municipais ou regionais, tudo com alta visibilidade, repercussão na mídia.
A ideia é tirar o professor
de um lugar que ficou pequeno e redimensioná-lo como
alguém que se diverte, que
troca informações e compartilha conhecimento. Saberemos, assim, quem são, e eles
se sentirão acompanhados.
A condição do professor é
muito especial: tem que despertar curiosidade, entusiasmo, fé, não só no conteúdo
mas também na forma de
aplicar o conteúdo.
O magistério bem visto e
admirado até facilitaria às
autoridades conceder aumentos salariais.
A profissão de ensinar depende do sorriso de satisfação do professor. Hoje, no século 21, ser reconhecido é ser
visto, é ser notado. Um professor do ensino fundamental é o menos valorizado pela
mídia e, consequentemente,
pela sociedade.
Gostaria de ver eventos de
professores na TV, justamente aqueles que são tão criticados como responsáveis -os
"que não dão conta".
Vamos mostrar que nós os
apreciamos. Ser professor do
ensino fundamental não é
apenas ensinar a ler, contar e
escrever. O professor fica sozinho com a tarefa de ensinar
a fazer "benfeito". É com ele
que aprendemos ordem, aplicação e capricho. O professor
é um modelo de "fazer".
Hoje, sem nota de ordem,
sem nota de aplicação, tendo
por modelo professores anônimos sem história, como podem eles gerar cidadãos eficientes? É na primeira infância que se aprende a fazer.
Além de reunião de pais
com mestres, precisamos de
mestres reconhecidos, para
que possam fazer parte da
história dos meus netos, como os meus professores fazem parte da minha história.
ROSELY SAYÃO
A colunista está em férias
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