São Paulo, quinta-feira, 21 de janeiro de 2010 |
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NEUROCIÊNCIA SUZANA HERCULANO-HOUZEL Dormir muito não é desperdício!
Alguns se sentem bem dormindo menos, outros precisam de quase duas horas a mais. Em média, são umas oito horas diárias de sono -e todo mundo sabe, por experiência própria, que elas são imprescindíveis. Dá para não dormir uma noite ou outra, ou dormir menos a cada noite, mas as consequências são imediatas: os olhos doem, junto vem o cansaço, fica difícil encontrar as palavras e fazer contas de cabeça e ainda é preciso lidar com a sonolência, o jeito que o cérebro tem de não deixar ninguém ficar sem dormir tempo demais. Afinal, se a insônia for total e permanente, ela leva à morte em algumas semanas (não, perder uma ou duas noites de sono aqui e ali não mata ninguém). Dormir é muito mais do que repousar. Uma vez por dia, os vertebrados e até as moscas passam por um período de várias horas com o cérebro funcionando diferente, e não apenas em "repouso": é sono mesmo. Em todas essas espécies, o sono é autorregulado: quanto menos se dorme, mais é preciso dormir. Isso ocorre porque o sono é consequência direta do funcionamento do cérebro: a sonolência vem do acúmulo de adenosina, substância produzida pelo próprio trabalho dos neurônios. Quanto mais trabalham, mais adenosina é liberada e vai se acumulando no cérebro até... chegar o sono. A adenosina impõe limites ao funcionamento dos neurônios e está relacionada à fadiga após o esforço mental sustentado. Além disso, a partir de um certo ponto, a adenosina começa a desligar os sistemas que promovem a vigília e a motivação e a acionar aqueles que promovem o adormecimento. É inevitável, portanto: quanto mais a pessoa fica acordada, mais sono sente. E aqui entra o papel reparador do sono: é durante esse modo particular de funcionamento do cérebro que a adenosina acumulada ao redor dos neurônios é removida. Por isso, acordamos fresquinhos, com os neurônios prontos para mais um dia. É também durante o sono que as sinapses, as conexões entre os neurônios, são recalibradas, o que é fundamental para o aprendizado. Aprender, e lembrar do que se aprendeu, é um processo que não termina ao fim da aula, mas continua até enquanto dormimos. Além disso, também é durante o sono que se recupera a habilidade de lidar com o estresse. Sem dormir o suficiente, o cérebro sucumbe rapidamente ao estresse, com ansiedade, agressividade e doenças. Sem falar que a própria falta de sono já é um estresse. Mas dessa parte você já sabia... SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora de "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog www.suzanaherculanohouzel.com suzanahh@gmail.com Texto Anterior: Beleza: Pés de fora Próximo Texto: Em 2010 eu vou... Índice |
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