São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2008
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INSPIRE RESPIRE TRANSPIRE

Por água abaixo

Nadar de maneira incorreta sobrecarrega as articulações dos ombros e da coluna e diminui o rendimento nos treinos

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A sabedoria popular atesta que nadar não tem contra-indicação e serve para curar males da coluna e do sistema respiratório (e ainda cria mitos olímpicos). Mas os especialistas ponderam: a falta de orientação e de técnica pode ter resultado oposto, levando a dores, diminuição de rendimento, lesões nas articulações dos ombros e dores na coluna. "Se o praticante nada 2.000 metros, são cerca de 4.000 braçadas por treino, por exemplo. Imagine fazê-las de forma errada três vezes por semana", indaga William Urizzi de Lima, consultor pedagógico da academia Gustavo Borges e ex-treinador da Seleção Brasileira de Natação.
Há muito nadador focado somente no desempenho. "O grande barato para o aluno é a metragem e, para aprender a executar a técnica corretamente, diminui-se a distância percorrida durante o treino. Ele não quer isso", diz.
A técnica malfeita faz com que o nadador tenha de se esforçar mais para manter o corpo estável e deslizar melhor. O resultado pode ser cansaço e pior desempenho no treino.
Por isso, é melhor nadar menos enquanto se aprende a técnica, para, depois, tirar proveito dos resultados, como aconteceu com o bancário Renato Simões, 29. Quando treinava por conta própria, sentia dores nos ombros e na coluna lombar, pois levantava muito o pescoço para respirar e alongava pouco os braços durante os movimentos. Ao começar a treinar com orientação de um professor, passou a nadar em muito menos tempo a mesma distância.
Nadar direito possibilita o melhor proveito do esporte que amplia a capacidade cardiorrespiratória, leva à queima de 6 a 13 calorias por minuto e envolve até 80% dos músculos do corpo, incluindo os que não são usados, por exemplo, na prática de caminhada e corrida.

Técnica
No nado livre (ou "crawl"), o estilo mais praticado, uma respiração errada pode causar torções em pontos diferentes da espinha dorsal e sobrecarregar o pescoço. "Se o movimento de perna não é correto, com boa estabilidade do quadril na água, o nadador tende a torcê-la, e o impacto pode ser tão grave como o de um salto", compara William Morales, preparador físico da Confederação Brasileira de Pólo Aquático.
Por isso, quando o braço sai da água, os ombros e o tronco devem rodar para facilitar a virada do pescoço. Como o movimento deve ser rápido, é preciso que os pulmões tenham se esvaziado por completo para captar a maior quantidade de ar possível: expire todo o ar enquanto mantém a cabeça submersa na água.
A rotação do corpo também é muito importante para o nado de costas, que força ainda mais a articulação dos ombros. Para facilitar a estabilidade do corpo durante os movimentos, a cabeça deve permanecer em posição normal (nem para cima, nem para baixo) -do contrário, as pernas tendem a cair. O abdômen contraído e o movimento constante das pernas ajudam a manter o tronco paralelo à piscina e o corpo estável.

Auxiliares
O palmar, espécie de raquete feita de material rígido que fica presa às mãos, aumenta a superfície de contato dos membros com a água e, conseqüentemente, a força das braçadas. "Está na moda e todo mundo quer usar. É atrativo porque aumenta a velocidade do nado", diz William Urizzi.
Mas é preciso ir com calma. Como amplifica os movimentos, pode enfatizar os malefícios de uma braçada errada e também dificulta a retirada dos braços da água.
Por isso, o nadador deve dominar muito bem a técnica antes de começar a usar o palmar nos treinos e sempre ter orientação do professor. Ao atingir um bom nível nos movimentos, pode usar o acessório do tamanho da mão, aumentando sua dimensão gradativamente.


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