São Paulo, terça-feira, 21 de dezembro de 2010
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ROSELY SAYÃO

Presente não é problema


Com tantos brinquedos sedutores, adultos acabam dando mais de um para a mesma criança

A MÃE DE DUAS CRIANÇAS menores de seis anos está muito preocupada com o final de ano que se aproxima, em função das celebrações familiares que sempre terminam com uma grande quantidade de presentes para os seus filhos.
As duas crianças têm sorte, segundo a mãe: têm avós, uma bisavó, vários tios, tias e primos mais velhos -isso, sem contar os amigos próximos da família.
E todos esses adultos, sem exceção, querem dar presentes para as crianças que, por sinal, já têm brinquedos em demasia.
A preocupação dessa mãe é tão grande -ela não quer que os filhos sejam consumidores vorazes- que ela chegou a considerar a possibilidade de dizer aos parentes que eles não deveriam dar presentes para seus filhos neste Natal. Mas ela está com receio de que seu pedido seja mal interpretado e provoque um conflito familiar.
É bem provável que o temor dessa mãe tenha fundamento e que, caso coloque em ação a sua ideia, acabe mesmo por criar um incidente diplomático na sua família. Afinal, quem é que não gosta de presentear crianças, principalmente pequenas, nessa data?
E com a profusão de ofertas de brinquedos sedutores e sensacionais, fica tão difícil escolher um só que muitos adultos acabam por dar mais de um presente para a mesma criança.
Muitos pais devem viver a mesma situação neste período e não foi esta a primeira vez que ouvi o argumento de que uma boa solução para tal problema seria mesmo tentar restringir o presentear.
Entretanto, há outras saídas mais interessantes, que foram encontradas por alguns pais. Vou compartilhar aqui uma dessas soluções que eles adotaram, para que outros pais possam se iluminar com essa experiência.
Uma mãe me contou que, depois de perceber que a filha pouco se interessava pelos brinquedos que ganhava em profusão dos avós e tios, decidiu criar uma estratégia para oferecer a possibilidade de a garota voltar a se envolver com alguns brinquedos por um período maior.
Muito habilidosa, arrumou algumas caixas de papelão e decorou cada uma delas de um modo bem diferente. Depois disso, junto com a filha, etiquetou cada uma das caixas com o nome dos avós e tios da menina e guardou dentro delas os presentes que a menina apontou como os preferidos entre todos os que recebera de cada um. Trabalho realizado, a mãe guardou as caixas.
Em algumas noites e nos finais de semana, essa criativa mãe descia uma das caixas e dizia à filha que aquele era um dia especial porque o avô, por exemplo, viera brincar com ela.
Essa era a senha para a menina se deliciar com a situação de "faz de conta" construída pela mãe que, desse modo, possibilitava à criança a oportunidade de redescobrir aqueles brinquedos e se envolver com eles.
Achei a solução dessa mãe muito interessante, já que não resolvia apenas o problema do excesso de brinquedos da filha: ao mesmo tempo, ela tornava presente para a garota as pessoas da família que estavam ausentes naquele momento.
Desejo que os presentes recebidos pelas crianças pequenas neste final de ano não se tornem um problema para a família e sim bons pretextos para soluções inesperadas.
Tenham todos um ótimo final de ano. Voltaremos com nossas conversas após um breve período de descanso que terei.
Até logo e muito obrigada pela boa companhia durante todo este ano.

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)


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