São Paulo, terça-feira, 22 de março de 2011
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VOVÓÓÓÓ

Figuras cada vez mais importantes da família, cabe aos avós ajudar a cuidar, amar emimar, deixando a educação da criança apenas para os pais

Carlos Cecconello/Folha Imagem
Heitor, 2 ano e 4 meses, entre a mãe, Débora Ramos Batista,74, e a avó, Beatriz

IRENE RUBERTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Eles buscam na escola, levam à natação, ajudam no banho. Cada vez mais avós respondem por cuidados com as crianças Mas a questão é que eles também liberam o doce antes do jantar.
Os pais não poderiam contar com ajudantes mais confiáveis e preparados. Só que divergências no jeito de educar os pequenos podem tumultuar a convivência.
"As avós acham que, se deu certo da forma como fizeram com os filhos, não há por que mudar. Mas a medicina evoluiu muito" diz o pediatra Fabio Ancona Lopez, que lança hoje o livro "Avós e Netos" (Manole),um manual de convivência.
Segundo ele, muitas avós insistem em dar chás e papinhas para bebezinhos, quando a recomendação, hoje, é o aleitamento materno exclusivo até os seis meses.
Avós também estão presas à ideia de que "mais gordinho é mais fortinho", afirma. "A criança que passa mais tempo com avó tende a ter um ganho de peso maior."
Se é assim, Lopez pede que a avó participe das consultas. "Pediatra que não ganha a avó perde o cliente", diz.
Além de ter guloseimas, a casa dos avós costuma ser um espaço gostoso onde netos podem assistir TV até tarde, comer no sofá etc.
Quer dizer: mais motivos para discussões entre pais e avós. "Na casa dos pais é uma lei, na dos avós é outra", libera geral a psicóloga Ceres Alves de Araújo. "Quem educa é pai e mãe, os avós não têm essa função."
Vovô e vovó estão, portanto, autorizados a deixar o neto fazer tudo, até o que talvez negaram aos filhos, quando eram papai e mamãe.
Mas, se os pais da criança fazem um pedido -tipo não dar chocolate à criança-, os avós devem atender, diz a psicóloga. "Agora. se não há ordem contra, tudo bem."
Se pais e avós não forem um só time, o pequeno percebe e tira proveito. "Sem acordo, a criança manipula", diz. É preciso ficar claro que quem manda são os pais. "Se a criança pede algo aos avós, esses devem dizer que vão consultar os pais dela antes."
Beatriz Ramos, 63, diz se esforçar para não interferir na educação do neto Heitor, um ano e sete meses. "Tento ser solidária, mas respeitar o espaço. É preciso estar por perto, mas não tão perto."
Antes de arrumar uma briga por uma bobagem, os pais devem levar em consideração a dedicação dos avós.
"É preciso saber agradecer, lembrar que eles não têm obrigação de cuidar de criança, e que isso às vezes é um esforço para uma pessoa de mais idade", diz Tania Zagury, professora da UFRJ que lança o livro "Filhos: Manual de Instruções".
Para ela, avô não estraga neto. "O maior estrago pode ser mimar um pouco, mas o ganho afetivo é maior que qualquer mau hábito que a criança possa adquirir."
A convivência entre avós e netos beneficia os dois lados, claro. A tarefa de cuidar de criança faz com que muitos avós se sintam úteis e renovados. "Pessoas aposentadas e deprimidas ganham motivação com a responsabilidade, além do carinho da criança", diz Lopez.
Do lado dos netos, os ganhos vão além dos mimos. "A criança percebe o processo de envelhecimento, aumenta seu respeito pelos idosos e tem uma noção mais completa de família", diz a educadora Tânia.

NOVAS FAMÍLIAS
Os avós são figuras importantes nas novas famílias, com tantas separações e ramificações. "Aos avós cabe o papel de promover a unidade e harmonia dessas famílias ampliadas", diz Lopez.
Muitas vezes, são os avós que têm novas uniões: surgem as figuras da avó madrasta, a "avodrasta", e do "avodrasto". "Avós acabam abarcando uma infinidade de crianças introduzidas na família", diz Ceres.
A Câmara dos Deputados aprovou projeto que dá aos avós o direito de visitar os netos, filhos de pais separados. Não é raro a criança manter só o vínculo familiar com quem obteve a guarda. Falta a sanção presidencial.
O administrador Danilo Chasles, 72, diz que remoçou com o nascimento do neto, Gabriel, 2. Vovô o acompanhou desde os exames de ultrassom e cuidou do menino quando recém-nascido.
"O Gabriel chama meu pai de "vovô amigão'", diz a psicóloga Luciana Chasles, 32. E o "amigão" conta: "Quando vou buscá-lo na escola, ele corre e pula no meu colo."


AVÓS E NETOS
Autor Fabio Ancona Lopez
Editora Manole
Quanto R$ 35,10 (192 págs.)



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