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s.o.s. família
Boa relação com filhos exige generosidade
rosely sayão
Recentemente, a turma da sétima série de
uma escola particular teve de fazer um
trabalho em sala de aula com uma das colunas
aqui publicadas, cujo tema fora o relacionamento dos pais com seus filhos adolescentes.
Parece que uma parte da tarefa era formular perguntas e encaminhá-las a mim. A maioria delas tinha a função clara de dar conta da
solicitação do professor. Mas, entre elas, recebi duas inesperadas, originais e francas, que,
por serem curtas, reproduzo.
A primeira é de uma garota: "Lá em casa,
meu pai é muito grosso comigo e não me dá
muita atenção. Eu acho que é por causa da bebida. Gostaria de saber o que faço para ajudá-lo e para ele ser mais pai comigo (sic)". A segunda foi escrita por um garoto: "O que devo
fazer para meu pai dar um pouco de atenção
para mim? Quando ele assiste à TV, ninguém
pode falar nada com ele". A idade deles varia
de 12 a 14 anos.
Antes de tudo, é preciso reconhecer que é
bem difícil ser pai ou mãe na medida certa para os filhos, que sempre acham que os pais que
têm ou são muito mais do que querem ou precisam ou são bem menos do que desejam. Mas
essa avaliação tem a ver com os interesses deles, bem pontuais, não com o que é bom para
eles, tampouco com a tarefa de ser pai ou mãe.
Por isso que não seja esse um dos motivos da
tão falada culpa que os pais sentem em relação
aos filhos. Não dá mesmo para satisfazê-los.
Mas há uma denúncia -mais que uma reclamação- na fala dos dois jovens. O que eles
dizem é que os pais, quando estão envolvidos
com a própria vida, agem como se os filhos
deixassem de existir.
Há uma brincadeira maravilhosa que os
adultos adoram fazer com crianças bem pequenas: o esconde-esconde. O pai ou a mãe
desaparece do campo de visão da criança e
pergunta a ela "Cadê papai/mamãe?". A criança procura ansiosa o rosto conhecido e, quando ele surge, a reação é só alegria e entusiasmo
contagiante. Em seguida, o pai ou a mãe pede
à criança que se esconda. E o que ela faz? Em
geral, tapa os olhos. A lógica dela, nesse momento, é simples: quem eu não vejo não me
vê. Pois parece ser essa a mesma lógica praticada por muitos pais quando se ocupam de si
mesmos: se eles não vêem os filhos, esses, certamente, não os vêem. Só que eles vêem, sim, e
como vêem! Vêem o que os pais fazem e, principalmente, o que não fazem.
Os pais dos jovens que enviaram suas incômodas perguntas utilizam a bebida e a TV como a criança pequena usa as mãos para cobrir
os olhos. O problema é que, uma vez pai, uma
vez mãe, não há como ignorar a existência dos
filhos. É preciso assumir a maturidade que a
paternidade e a maternidade exigem.
Claro que isso não significa estar 24 horas
por dia à disposição dos filhos nem mesmo
abrir mão de momentos de relaxamento, de
descanso e de lazer que todos precisam ter.
Não significa também tentar ser o pai ou a
mãe que o filho quer. O filho precisa é do pai e
da mãe que ele pode ter.
Assumir o papel de pai e o de mãe significa
estar presente na vida dos filhos até mesmo
quando se toma um drinque para relaxar ou
quando se assiste a um programa de televisão.
É preciso ter disponibilidade interna para tanto, é preciso se esforçar -e muito- para deixar de pensar apenas em si mesmo.
Já comentei aqui, em outra oportunidade,
que pais ausentes não são os que trabalham
fora, mas, sim, os que não se fazem presentes
por inteiro na relação com os filhos. Hoje,
complementando a idéia inicial, podemos dizer que pais ausentes são os que se escondem
dos filhos atrás de seu trabalho, de seu momento de descontração, de seu programa de
televisão, de sua vida.
Por isso é bom lembrar a importância da generosidade na vida dos pais. Afinal, só sendo
mesmo generoso para dar mais atenção aos filhos do que a si próprio, não é verdade?
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha), entre
outros; e-mail: roselys@uol.com.br
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