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Estômago é vítima das drogas antiinflamatórias
Medicamentos funcionam bem para acabar com a dor, porém, sem orientação médica, podem causar de úlcera a sangramento
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O remédio que você tomou ontem, por
conta própria, para se livrar daquela dor
de cabeça persistente poderá ser o responsável
pela dor de estômago que você sentirá amanhã. A médio e longo prazos, usar antiinflamatórios como analgésico pode afetar o sistema gastrointestinal, causando problemas que vão
de dor de estômago até úlcera.
Em todo o mundo, mais de 30 milhões de
pessoas recorrem diariamente aos antiinflamatórios não-esteróides tradicionais (Aines)
para combater dores crônicas, muitas vezes
praticando a automedicação e sem conhecer
os riscos desse tipo de medicamento. Entre os
brasileiros, não é diferente. Pesquisa realizada
recentemente no Brasil e no México com 392
pessoas de ambos os sexos constatou que quase metade dos entrevistados (44%) recorria
aos Aines para aliviar a dor, e um quarto deles
não sabia que essas drogas podem prejudicar
o sistema gastrointestinal. O estudo foi realizado pelo laboratório multinacional de origem norte-americana Merck Sharp & Dohme
e pelo instituto de pesquisa Taylor Nelson Sofres, com sede em Londres (Reino Unido).
Drogas como o ácido acetilsalicílico, o naproxeno e o diclofenaco fazem parte do grupo
dos antiinflamatórios Aines e são populares
porque funcionam bem como analgésicos. Para os médicos, porém, são uma faca de dois
gumes, porque, ao mesmo tempo que agem
contra a dor, também causam uma série de estragos silenciosos. "Eles não só lesam o estômago como todo o tubo digestivo", diz o gastrenterologista da USP Decio Chinzon, presidente da Sociedade de Gastroenterologia e
Nutrição do Estado de São Paulo. Essas lesões
ocorrem porque os medicamentos inibem a
ação da ciclooxigenase, enzima fundamental
na produção das prostaglandinas (substâncias
que protegem a mucosa gástrica).
Com a diminuição de prostaglandinas, segundo Chinzon, a mucosa fica exposta a substâncias que são importantes para o processo
digestivo, mas podem agredir o estômago, como o ácido clorídrico e a pepsina, enzima responsável pela digestão de proteínas.
Em 2000, Chinzon realizou uma pesquisa
em dez centros médicos das regiões Sul e Sudeste. Das 337 pessoas que foram aos prontos-socorros por causa de problemas gástricos,
41,6% usavam antiinflamatórios Aines. Nesse
grupo, 59% já tinham úlcera, e 39% apresentavam sangramento. "Em grande parte dos casos, os sintomas de dor e mal-estar demoram
para aparecer", afirma o especialista. Sem nenhum sinal de que há algo errado, o paciente
continua tomando o antiinflamatório, permitindo que o problema evolua.
Entre as complicações mais graves que podem ser provocadas pelo uso indiscriminado
de antiinflamatórios Aines estão as úlceras (lesões na parede estomacal ou na primeira parte
do intestino delgado), perfurações (orifícios
na parede do estômago causados por fluidos e
ácidos estomacais se uma úlcera não é tratada), obstrução (fechamento da saída do estômago por causa do inchaço e das cicatrizes de
uma úlcera) e sangramento no estômago ou
no duodeno.
Embora a probabilidade de lesões aumente
de acordo com a freqüência do uso do medicamento e a dosagem, um único comprimido
já pode afetar o sistema gastrointestinal. Segundo Chinzon, tomar o antiinflamatório
com leite ou nas refeições não reduz os riscos.
A melhor maneira de evitar problemas é utilizar esses remédios só sob orientação médica.
Existe uma outra classe de antiinflamatórios
que, de acordo com as pesquisas, produz menos efeitos colaterais. Os chamados inibidores
seletivos de COX-2 não agem sobre as enzimas que protegem a parede do estômago, reduzindo o risco de complicações gastrointestinais, explica Chinzon.
(KARINA KLINGER)
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