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Depois de ser exposto ao frio, o corpo demora para se reaquecer; as extremidades ficam brancas ou arroxeadas e chegam a doer
Doença de Raynaud "congela" mãos e pés
Marcelo Barabani/Folha Imagem
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Maria Fernanda Ribeiro estimula a circulação sanguínea com exercícios |
ANA PAULA DE OLIVEIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Basta a temperatura cair e
pronto: as mãos ou os pés
(ou ambos) ficam gelados e
quase sem cor ou então arroxeados. Às vezes, a sensibilidade diminui. Noutras, há formigamento. Essas reações incômodas indicam mais que um simples não gostar das temperaturas mais baixas. Elas podem ser
sintoma de uma hipersensibilidade do organismo ao frio, origem da doença de Raynaud.
É muito comum que as pessoas com
Raynaud só percebam que algo não vai
bem quando chega o inverno. Mas isso não
é uma regra geral, já que a raiz do problema é a queda ou a mudança brusca de temperatura. Por isso os sintomas podem surgir também no verão, se a pessoa ficar em
um local com ar-condicionado muito forte
ou se sofrer um choque térmico ao sair do
banho, por exemplo.
Quando o corpo perde temperatura para
o ambiente, o organismo trabalha para recuperar esse calor. Nos portadores de Raynaud, esse processo demora mais tempo.
A constrição de pequenos vasos desencadeia alterações na cor da pele nas extremidades do corpo.
Unhas roxas
Há pouco tempo, a estu-dante de letras Sílvia Santini, 24, descobriu
que a estranha cor arroxeada na ponta de
seus dedos era um sintoma de Raynaud.
"Fiquei sabendo por acaso que se tratava
de uma doença, ao conversar com uma
amiga que também sofre do problema",
diz. "Minhas unhas ficavam tão roxas que
as pessoas perguntavam se eu as havia pintado, mas eu achava que era apenas frio
exagerado."
Já a terapeuta Maria Fernanda Leite Ribeiro, 45, sempre desconfiou que o que
sentia desde os 20 anos era uma doença.
"Eu dançava descalça e percebia que meus
pés lembravam os de defunto, de tão brancos que ficavam no inverno, e perdiam a
sensibilidade", descreve.
Maria Fernanda não demorou para procurar um médico e identificar a doença. A
maioria dos pacientes, porém, não faz isso
e, portanto, não sabe que, apesar de a
doença não ter cura, os sintomas podem
ser controlados (leia mais sobre o tratamento na pág. ao lado). Para o médico Sebastião Cezar Radominski, ex-presidente
da Sociedade Brasileira de Reumatologia, a
falta de informação é o principal agravante
do quadro clínico.
A doença de Raynaud raramente evolui
para quadros graves, mas seus portadores
correm um risco maior de desenvolver outros problemas de saúde, como lúpus, esclerodermia, artrite reumatóide e hipotireoidismo, e por isso precisam de acompanhamento médico constante.
Quando existe essa associação com outras doenças, o "rótulo" muda: os médicos
chamam o conjunto de sintomas de fenômeno de Raynaud, não de doença.
Melhora pós-menopausa
Até ago-
ra, a ciência ainda não identificou a causa
da doença e do fenômeno de Raynaud.
Mas os especialistas sabem que a incidência é maior entre mulheres magras, longilíneas, fumantes e em idade reprodutiva
-os sintomas tendem a desaparecer com
a chegada da menopausa. A ocorrência do
fenômeno ou da doença em homens é rara.
Crianças, principalmente meninas na
puberdade, também podem desenvolver a
doença, "apesar de não ser comum", diz o
médico sueco Anders Fasth, professor de
imunologia pediátrica e membro da Sociedade Européia de Reumatologia Pediátrica. Ele não acredita que a doença seja mais
comum em países de baixa temperatura.
"Porém as consequências são mais graves", afirma.
Segundo Fasth, é possível que os sintomas tenham relação com aspectos emocionais. A tensão muscular induz à vasoconstrição, afirma ele, o que poderia explicar a
lentidão no processo de recuperação do
calor.
Maria Fernanda concorda com essa teoria. Ela já percebeu que, quando está muito
tensa, os sintomas aparecem. "Quando estou estressada, sinto o sangue sumindo de
meus pés."
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