São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 2000
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Encontros fora de hora e lugar

A expressão "seria cômico, se não fosse trágico" cai como uma luva para descrever alguns contatos sociais entre pacientes e terapeutas. Confira.
Odalisca: no Carnaval de 1995, a psicóloga Simone Cogliano, vestida de odalisca e ligeiramente embriagada, trombou com um de seus pacientes no salão do Clube Espéria, em São Paulo. "Minha roupa era muito transparente, e estava dançando com um cara que tinha acabado de conhecer. Tentei disfarçar, mas ele fez questão de me cumprimentar." Ela garante que o relacionamento com o paciente melhorou depois do episódio, que virou tema de duas sessões.
Na sauna: o fotógrafo A.C. (ele não quis se identificar) falava sobre sua terapia para um grupo de amigos na entrada da sauna em um hotel no interior de Goiás. Ao entrar na sauna, deu de cara com a terapeuta, acompanhada pelo filho. À vontade, ela tomou a iniciativa de conversar amenidades com eles e saiu naturalmente, diante dos pedidos insistentes da criança. Já o paciente demorou para se recuperar do encontro.
Divã na festa: a relações públicas M. S. S., que não quis ter o nome publicado, não conseguia encontrar outro profissional para substituir a terapeuta -seu "ouvido", como a chamava entre amigos- que havia mudado de cidade. Quando a reencontrou em uma festa de uma amiga em comum, não teve dúvida: sentou ao seu lado e desatou a falar da vida, da coleção de problemas e neuras. Depois de dez minutos de monólogo, já que a ex-terapeuta nada falava, "caiu a ficha". O embaraço, que era evidente por parte da profissional, calou M, que decidiu ir embora para não correr o risco de esbarrar de novo com a terapeuta.
Forró agitado: foi uma surpresa para a professora de inglês Renata Meirelles Dias de Carvalho encontrar a terapeuta aos beijos com um rapaz bem mais novo em uma casa de forró. "Ele era alto, bonito. Percebi que era um lance bem corporal." Renata admite que o comportamento da terapeuta interferiu no relacionamento. "Ela me decepcionou. Tinha uma imagem de poderosa, mas, ali, eu a vi como uma fraca."
Sem neura: a tradutora M.C.M., que não quis se identificar, usava um telefone público quando alguém perguntou se ia demorar. Era o seu analista, que, como adepto de Carl Jung, é favorável a uma relação mais leve com os pacientes. Ela até lhe emprestou umas fichas telefônicas e aguardou que ele telefonasse. Depois, foram juntos tomar um café. Fora do pedestal: ao ver um paciente no supermercado, a psicóloga Maria Isabel Vanini desistiu das compras e foi embora. Mas admite que tem vontade de encontrar sua própria analista na rua. Segundo ela, são situações como essa que ajudam a desmitificar o psicólogo. "É uma forma de tirá-lo do pedestal. Ele é como qualquer outra pessoa, também vai ao banco."



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