São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002
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Droga é ingerida em doses menores e promete menos efeito colateral e mais eficácia na guerra contra o mau colesterol

Novo medicamento chega aqui em 2003

CIÇA GUEDES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Nem tudo são más notícias para quem está com o nível de colesterol elevado e, portanto, integra o grupo de risco de doenças cardiovasculares, a principal causa de morte no mundo. Drogas de última geração prometem reduzir o chamado mau colesterol e ainda manter ou elevar em 8% as taxas do bom colesterol, tarefa que os medicamentos tradicionais não conseguem realizar. E tudo isso por meio de doses menores e com menos efeitos colaterais do que as drogas atualmente usadas.
São as as chamadas superestatinas, nova família da estatina, classe de substâncias utilizada há cerca de uma década e que reduz tanto o mau quanto o bom colesterol fabricado pelo organismo, segundo o nutrólogo José Ernesto dos Santos, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto.
O primeiro representante das superestatinas, cuja substância ativa é a rovuvastatina, chega ao Brasil com o nome de Crestor, e sua comercialização está prevista para o primeiro semestre de 2003.
Cerca de 70% do colesterol é fabricado pelo próprio corpo. Os restantes 30% são fornecidos pela alimentação. Há pessoas que já nascem com predisposição a produzir mais colesterol do que o organismo necessita. Nesses casos, só a dieta não surte o efeito desejado. É preciso recorrer à medicação.
Outra novidade -não tão boa, mas importante- é que, para manter as artérias em dia, os níveis de colesterol devem ser ainda mais baixos do que se pensava até pouco tempo (leia mais na pág. 8). Quanto à conhecida recomendação de que é preciso perseguir hábitos saudáveis de vida, ela ganha cada vez mais reforço da ciência.
Você é obrigado a abrir mão da carne gorda e suculenta ou de doces cremosos no cardápio do dia-a-dia? O colesterol não tem culpa por isso. Na verdade, ele é o grande injustiçado, defende o endocrinologista Adolpho Milech, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Sem ele, não haveria sequer a continuidade da espécie, pois não produziríamos os hormônios sexuais. O problema é o excesso", diz o médico.
O colesterol é um tipo de gordura produzida pelo fígado e cheio de responsabilidades. Graças a ele, gorduras e proteínas são dissolvidas para garantir a devida nutrição. O colesterol também participa da absorção da vitamina D e de diferentes processos metabólicos, entre eles o de defesa do organismo. Agora, em excesso no sangue, o colesterol promove um acúmulo de gorduras na parede das artérias e veias, podendo causar o seu entupimento -a chamada arteriosclerose, que pode levar a derrame cerebral, infarto e vários problemas circulatórios.

Espinhas explosivas
As gorduras acumuladas dentro da artéria ou da veia levam o nome de ateromas. Parecem espinhas. "Podem ser pequenas e estáveis e não causar problemas mais sérios, mas podem crescer, ficar com uma capinha mais amolecida, virar uma espécie de furúnculo, entupindo boa parte do vaso", explica o cardiologista Mauricio Wajngarten, diretor do serviço de cardiogeriatria do Incor. Os primeiros sinais da falta de irrigação -conhecida por isquemia- podem surgir quando 90% da artéria já estiver comprometida. Daí para o infarto é um pulo. "Mas 40% dos infartos acontecem em razão de placas ou espinhas relativamente pequenas, que permanecem silenciosas, sem sintomas e sem alterações em alguns exames, até que explodem porque, quando há muito colesterol, o conteúdo do ateroma aumenta, sua capa se torna muito fina, e a espinha fica mais vulnerável à explosão", completa Wajngarten, que lança em setembro o interessante livro "Coração - Manual do Proprietário" (MG Editores).

Sinais do estrago
Justamente porque o colesterol elevado não costuma dar sinais enquanto vai fazendo os estragos artéria adentro, seus níveis precisam ser medidos quando a pessoa chega aos 20 anos de idade.
"O ideal é repetir o exame de sangue pelo menos uma vez a cada ano", diz o cardiologista Celso Amodeo, presidente do Fundo de Aperfeiçoamento e Pesquisa em Cardiologia (Funcor).
Nos idosos, os sinais da má oxigenação do corpo como um todo aparecem em forma de perda de memória, falta de atenção, dormir enquanto está conversando e dor nas pernas ao andar.
A angina, dor no peito causada pela falta de oxigênio no coração, é também um sintoma. Por isso é tão importante fazer a checagem dos níveis de colesterol regularmente.


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