São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002 |
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drible a neura Idas ao banco podem ser um programão
ANTONIO ARRUDA
Ir ao banco toda semana para checar saldo, tirar extrato, conferir rendimento de aplicação ou pagar conta de luz, água e telefone, entre tantas outras, é um comportamento típico de idosos que costuma deixar os familiares espantados -quando não preocupados com o que pode parecer uma espécie de obsessão
por serviços bancários. Mas, para esses idosos, as idas ao banco em geral representam, além de distração, uma forma de se auto-afirmar. É como se
o idoso dissesse para si e para os outros:
"Eu ainda dou conta de cuidar das minhas contas!".
"Nessa fase da vida, a confiança no próprio taco diminui; os idosos sabem do
que são capazes, mas o desgaste natural
da idade faz com que eles se sintam inseguros. Mostrando cautela e vontade ao
cuidar do dinheiro, sentem-se donos de
si", explica a psicóloga especializada em
pessoas maduras Maria Célia de Abreu.
"Como os idosos possuem mais tempo
livre, podem ir ao banco sem pressão;
eles gostam de ter contas para pagar", diz
Cláudia Ajzem, psicóloga que trabalha na
Universidade Aberta à Terceira Idade da
Unifesp (Universidade Federal de São
Paulo).
"Cuido de tudo sozinha. Vou ao banco
toda semana. Não acho nem um pouco
chato; até aproveito para caminhar. Vou
logo que a agência abre, porque o tempo
ainda está fresquinho, e aí é mais gostoso", conta a dona-de-casa Antonieta Oliveira, 74, com quem o filho sempre insiste: "Mãe, paga as contas pela internet". E
ela sempre responde: "E o meu passeio,
como é que fica?".
Como Antonieta, a dona-de-casa Anna
Campos Raiza, 73, faz questão de cuidar
de todas as suas contas sozinha. "Enquanto posso fazer as minhas coisas, não
quero que ninguém me ajude." Antes de
ser assaltada, Raiza ia ao banco toda semana. "Agora vou a cada 15 dias, porque
tenho medo. E sempre é uma chance de
me divertir um pouco. Tenho conta no
mesmo banco há 25 anos; às vezes, eu estou na fila, e um funcionário diz: "Dona
Anna, como vai?". E eu acho o máximo.
As pessoas devem pensar que sou alguém importante", diz animada.
"Ficar trancado em casa é um passo para o além! Ir ao banco é um bom pretexto
para andar um pouco", explica o advogado aposentado Alberto Carlos Jordão
Destito, 72. Seu colega de universidade
Francisco Salles, 65, concorda: "Acaba
sendo uma grande distração. Dá para ver
gente, trocar idéias", diz ele, com a experiência de quem vai diariamente ao banco para cuidar das contas pessoais e ainda manter a contabilidade do comércio
dos filhos em ordem. "Eu cuido de toda a
parte financeira", diz. |
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