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S.O.S. família
rosely sayão
Por que os pequenos se esgoelam na escola
O início do semestre letivo tem uma particularidade para as crianças com menos
de seis anos que vão para a escola de educação infantil. Para essas, as aulas no início de agosto nem sempre significam a retomada de uma atividade que já era rotina, depois de um período de férias em casa. Muitas delas começam a frequentar a escolinha neste mês, o que
significa uma grande novidade na vida delas.
E, mesmo para muitas outras, que já estavam
até acostumadas a ficar um período fora de casa, voltar para a escola pode ser uma experiência muito parecida com a da primeira vez. Isso
quer dizer que milhares de pais com filhos pequenos sofreram -e ainda sofrem- quando
têm de deixar o filho chorando, gritando, quase desesperado na porta da escola.
Por que a criança tem esse tipo de reação?
Será que é porque não gostou da cara da escola, ou porque lá não recebe bom tratamento,
ou porque ainda é muito pequena para desfrutar dos benefícios dessa atividade, ou por
um outro bom motivo qualquer desse tipo?
Na maioria das vezes, nenhum desses motivos explica a reação da criança. Acontece que,
nessa idade, separar-se da mãe, do pai, da empregada, da casa, da rotina não é mesmo fácil.
A criança sente-se insegura e desamparada
nesse momento. Além disso, a criança pequena ainda não tem condições de fazer uma projeção do tempo, não consegue entender que
vai ficar ali por um período e que depois vai
voltar a ver a mãe, o pai, a casa. Na hora da separação, ela reage como se fosse uma despedida definitiva.
Dá para entender a reação dela, não dá? Mas
não é possível resolver isso? Bem, o processo
começa bem antes, quando os pais decidem
colocar o filho na escola. Eles precisam estar
certos de que a decisão que tomaram é a melhor para a criança, considerando o contexto
de vida familiar. Depois, o que mais ajuda a
criança a passar rapidamente por esse período
é a escolha da escola feita pelos pais. E com isso quero dizer que os pais precisam estar muito seguros da escolha que fizeram para que, na
hora de deixar o filho, mesmo chorando, possam sentir-se seguros de que ele estará bem
cuidado.
Considero a escola de educação infantil uma
das mais importantes na vida da criança, por
isso ela deve ser selecionada de modo muito
cuidadoso. Não se trata apenas de um local para o filho ficar por um período, para fazer
qualquer coisa e ser protegido de perigos. A
criança com menos de seis anos não sabe defender-se sozinha de si mesma, dos adultos e
do meio em que vive, não sabe o que é bom
para ela e o que não é: são os adultos à sua volta que devem fazer tudo isso por ela e com ela.
Por isso escolher uma escola que tenha um
projeto claro que contemple a criança, seu
modo de viver e a brincadeira, que tenha coerência com o modo de pensar da família e que
forme seus profissionais para que saibam estabelecer laços afetivos positivos com a criança é fundamental. É o primeiro passo para a
tranquilidade dos pais e o bem-estar do filho.
Com essa segurança, os pais vão poder confiar na escola e nos seus representantes, e vai
ser menos doloroso -mas, mesmo assim, vai
doer- deixar para trás o filho berrando. Nesse momento, o que ajuda é pensar que crescer,
dar um passo à frente, significa deixar coisas
para trás. E que isso provoca, sim, um certo
sofrimento. É por isso que a criança chora, esperneia, reage.
Mas, se perceber que os pais estão seguros e
confiantes nos profissionais da escola, logo estará disponível para fazer novos vínculos, divertir-se, brincar e, como consequência,
aprender. Por isso a atitude dos pais é muito
importante nessa hora. Mas claro que não se
trata de uma confiança cega na escola. Ao contrário, deve ser uma confiança responsável e
vigilante, mesmo que discretamente. E é bom
lembrar que cada criança é diferente, por isso
algumas demoram mais para aceitar a nova
fase, e outras já se entregam com mais rapidez.
Cada uma deve ser respeitada no seu tempo e
no seu estilo de se adaptar.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br
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