São Paulo, quinta-feira, 22 de dezembro de 2005
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S.O.S. família

Rosely Sayão

Os usos e abusos da internet

Crianças e jovens são os usuários da internet que mais sabem lidar com essa tecnologia, mas não podem prescindir da ação educativa

Crianças já na fase final da infância e adolescentes estão sendo devorados pela sedutora internet. É um tal de falar com amigos, conhecidos e desconhecidos, entrar em salas de bate-papo e lá ficar por horas a fio, escrever e ler os blogs pessoais, fazer parte de comunidades virtuais para mostrar o tamanho de sua popularidade, passar horas em competições de habilidade em determinados jogos e assim por diante. Se os pais deixarem, eles podem passar a maior parte do tempo nessa atividade. Em época de férias, em que eles estão livres da maioria dos compromissos, é bom refletir a respeito dessa questão. Claro que usar a internet não é prejudicial, principalmente para essa geração que já nasceu num mundo conectado pelas redes virtuais -plugado, como eles costumam dizer. Crianças e jovens são os usuários de computadores e da internet que mais sabem lidar com essa tecnologia e que, portanto, mais podem tirar proveito dela. Da mesma maneira que em qualquer outra esfera da vida deles, entretanto, não podem prescindir da ação educativa e da tutela dos pais no uso e no abuso que fazem desse recurso. Eles ainda não têm autonomia também para isso, mesmo que pareçam entender mais do que os pais sobre o assunto. Uma das coisas que os pais precisam ensinar aos filhos a respeito desse tema -nunca é demais lembrar que ensinar não se restringe a passar uma informação e esperar que eles a coloquem em prática na vida- é que a internet constitui-se num espaço público. São poucos os adultos que se dão conta de que, para crianças e jovens que começam a aprender que há uma fronteira entre o convívio social e a intimidade, que iniciam o aprendizado da diferenciação das atitudes adequadas ao espaço privado daquelas próprias do espaço público, é imprescindível localizar a internet como um espaço de convivência coletiva. Sem esse ensinamento, eles ficam vulneráveis em muitos aspectos, principalmente em relação à exposição pessoal. Há um fator complicador nessa questão. Muitas crianças e jovens têm seu próprio computador, que, em geral, fica no quarto. Os pais de classe média, no anseio de proporcionar o maior conforto possível aos filhos, equipam seus quartos como se fossem uma casa dentro da casa. Lá eles têm aparelho de som, de TV, computador. Além de um conforto individualista, eles ganharam, dessa forma, o total controle sobre como, quando e quanto usam esses seus pertences. O problema é que, no conforto de seus quartos, eles se sentem protegidos pela casa -a fortaleza da privacidade-, agem como se estivessem no espaço privado, no qual estão fisicamente, e se esquecem de que há uns poucos fios que os lançam no espaço público, ainda que no modo virtual. E, no espaço público, eles estão sob o olhar atento do outro e, portanto, sujeitos a julgamentos. Sem a presença firme e educativa dos pais, eles não conseguirão distinguir essa complexa situação, a não ser pagando contas que lhes sairão bem caras. Outra responsabilidade dos pais é determinar o tempo que os filhos ficam em frente ao computador e como o usam. Uma conhecida contou-me que a filha, de nove anos, convida as amigas para ir à sua casa e lá elas ficam o tempo todo em frente ao computador, sem conversar entre si. Como crianças e jovens ainda não sabem administrar seus quereres e tampouco dividir seu tempo entre várias atividades, eles precisam dos pais para um decisivo "agora chega!". Esse limite de tempo de uso é que dará à criança ou ao jovem a oportunidade de descobrir outras atividades de seu interesse ou mesmo buscar relações pessoais diretas e não apenas mediadas pela rede, que lhes permite ser tudo ou quase tudo sem grandes esforços. Há ainda outras questões importantes, entre elas, o conteúdo a que eles têm acesso na internet. Disso trataremos numa próxima oportunidade. Um bom fim de ano a todos.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
@ - roselysayao@folhasp.com.br


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