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S.O.S. família
Rosely Sayão
Os usos e abusos da internet
Crianças e jovens são os usuários da internet que mais sabem lidar com essa tecnologia, mas não podem prescindir da ação educativa
Crianças já na fase final da infância e
adolescentes estão sendo devorados pela sedutora internet. É um
tal de falar com amigos, conhecidos e desconhecidos, entrar em
salas de bate-papo e lá ficar por horas a fio, escrever e ler os blogs pessoais, fazer parte de comunidades virtuais para mostrar o tamanho
de sua popularidade, passar horas em competições de habilidade em determinados jogos e
assim por diante. Se os pais deixarem, eles podem passar a maior parte do tempo nessa atividade. Em época de férias, em que eles estão
livres da maioria dos compromissos, é bom
refletir a respeito dessa questão.
Claro que usar a internet não é prejudicial,
principalmente para essa geração que já nasceu num mundo conectado pelas redes virtuais -plugado, como eles costumam dizer.
Crianças e jovens são os usuários de computadores e da internet que mais sabem lidar com
essa tecnologia e que, portanto, mais podem
tirar proveito dela. Da mesma maneira que
em qualquer outra esfera da vida deles, entretanto, não podem prescindir da ação educativa e da tutela dos pais no uso e no abuso que
fazem desse recurso. Eles ainda não têm autonomia também para isso, mesmo que pareçam entender mais do que os pais sobre o assunto.
Uma das coisas que os pais precisam ensinar
aos filhos a respeito desse tema -nunca é demais lembrar que ensinar não se restringe a
passar uma informação e esperar que eles a
coloquem em prática na vida- é que a internet constitui-se num espaço público.
São poucos os adultos que se dão conta de
que, para crianças e jovens que começam a
aprender que há uma fronteira entre o convívio social e a intimidade, que iniciam o aprendizado da diferenciação das atitudes adequadas ao espaço privado daquelas próprias do
espaço público, é imprescindível localizar a internet como um espaço de convivência coletiva. Sem esse ensinamento, eles ficam vulneráveis em muitos aspectos, principalmente em
relação à exposição pessoal.
Há um fator complicador nessa questão.
Muitas crianças e jovens têm seu próprio
computador, que, em
geral, fica no quarto.
Os pais de classe média, no anseio de proporcionar o maior
conforto possível aos
filhos, equipam seus
quartos como se fossem uma casa dentro
da casa. Lá eles têm
aparelho de som, de
TV, computador.
Além de um conforto
individualista, eles ganharam, dessa forma,
o total controle sobre
como, quando e quanto usam esses seus pertences.
O problema é que, no conforto de seus quartos, eles se sentem protegidos pela casa -a
fortaleza da privacidade-, agem como se estivessem no espaço privado, no qual estão fisicamente, e se esquecem de que há uns poucos
fios que os lançam no espaço público, ainda
que no modo virtual. E, no espaço público,
eles estão sob o olhar atento do outro e, portanto, sujeitos a julgamentos. Sem a presença
firme e educativa dos pais, eles não conseguirão distinguir essa complexa situação, a não
ser pagando contas que lhes sairão bem caras.
Outra responsabilidade dos pais é determinar o tempo que os filhos ficam em frente ao
computador e como o usam. Uma conhecida
contou-me que a filha, de nove anos, convida
as amigas para ir à sua casa
e lá elas ficam o tempo todo
em frente ao computador,
sem conversar entre si. Como crianças e jovens ainda
não sabem administrar
seus quereres e tampouco
dividir seu tempo entre várias atividades, eles precisam dos pais para um decisivo "agora chega!".
Esse limite de tempo de
uso é que dará à criança ou
ao jovem a oportunidade de
descobrir outras atividades
de seu interesse ou mesmo
buscar relações pessoais diretas e não apenas mediadas pela rede, que lhes permite ser tudo ou quase tudo
sem grandes esforços.
Há ainda outras questões importantes, entre
elas, o conteúdo a que eles têm acesso na internet. Disso trataremos numa próxima oportunidade. Um bom fim de ano a todos.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
@ - roselysayao@folhasp.com.br
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