São Paulo, quinta-feira, 23 de abril de 2009
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ROSELY SAYÃO

O ranking que não ajuda


[...] SERÁ QUE UMA BOA ESCOLA É AQUELA QUE COBRA EM DEMASIA DOS ALUNOS E ELEGE SÓ AQUELES QUE PROMETEM ÊXITO?

Uma leitora, cuja filha cursa a sexta série do ensino fundamental, enviou uma correspondência com questionamentos e reflexões sobre a escola que a menina frequenta. Ela não sabe se mantém a filha lá.
Conta que escolheu a instituição há cinco anos pela localização e pela qualidade do ensino. Nesse período, a escola alcançou destaque na mídia pelos resultados do Enem e, na visão desta nossa leitora, mudou.
O número de alunos matriculados subiu muito e os professores passaram a cobrar excessivamente dos alunos e a colocá-los sob pressão constante. Nossa leitora acredita que essa mudança tem relação com a colocação no ranking de escolas, e não com a melhoria do ensino.
Ela construiu uma comparação muito bem-humorada: disse que o que aconteceu com a escola foi o mesmo que dar um sapato de salto alto a uma adolescente ainda sem total equilíbrio do corpo, o que faz com que ande com muito medo de cair. Faz sentido, não?
Bem, mas o resultado é que a filha passou a se mostrar ansiosa com a vida escolar e tem pedido para trocar de escola. É essa a dúvida dessa mãe.
Se ela aceitar o pedido, se sentirá culpada por não oferecer à sua filha um bom estudo -afinal, a escola está nos primeiros lugares no tal ranking! Caso insista para que a garota fique na escola, receia que sua relação com os estudos fique prejudicada por tanta tensão. Sabemos que nenhuma das duas decisões trará tranquilidade e satisfação a ela, ou melhor, à família toda.
Que benefícios trazem aos pais esses rankings de escolas, baseados em avaliações de alunos e em índice de aprovação em certos vestibulares? Rigorosamente, nenhum. Parece que as únicas a lucrar são as escolas, pois acabam por ganhar publicidade e espaço na mídia sem nenhum ônus.
Fica a impressão de que acaba mesmo é nas mãos dos pais a responsabilidade de oferecer um bom estudo para os filhos: depende da escolha que fizerem, como pesou nossa leitora. Mas tal responsabilidade é das escolas, inclusive das públicas.
Será que podemos considerar uma boa escola aquela que cobra em demasia dos alunos, que acabam tendo de recorrer a aulas particulares para acompanhar o exigido? Podemos considerar uma boa escola a que elege só alunos que prometem êxito para frequentar seu espaço e exclui os que considera "problemáticos" ou com dificuldades em alguns conteúdos? Pois várias escolas com os primeiros lugares nas classificações organizam dessa maneira seu trabalho.
Boa escola é a que ensina com rigor e exige o máximo de seus alunos, a que ensina a eles a construção da disciplina necessária para estudar, a que trabalha com qualquer aluno e convoca todos eles a terem compromisso com o ato de aprender, a que ensina a conviver com coleguismo, a que respeita diferenças de ritmo e de aprendizagem de seus alunos, entre outras coisas. E tudo isso no horário das aulas, sem repassar tais responsabilidades aos pais.
Pelo jeito, carecemos de boas escolas tanto no âmbito privado quanto no público, não é?


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)

rosely.sayao@grupofolha.com.br

blogdaroselysayao.blog.uol.com.br


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