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O aparelho ajuda os jovens a
manter contato com seu grupo
Adolescentes trocam cigarro por celular
RICARDO BONALUME NETO -
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os adolescentes britânicos estão trocando o hábito de fumar
pela posse de telefones celulares, afirmaram dois pesquisadores na revista médica "British Medical Journal". A hipótese
mostra que a queda acentuada no tabagismo desde 1996 foi paralela a um grande aumento na posse de celulares entre adolescentes
e jovens de 15 a 24 anos.
"Não temos certeza da relação.
Por enquanto é só uma hipótese.
Sugerimos que essas duas tendências podem estar ligadas por causa do que sabemos sobre como
fumar se encaixa na vida dos adolescentes, e nós achamos que os
celulares podem ocupar o mesmo
território", explicou à Folha um
dos autores, Clive Bates, que dirige a organização não-governamental antitabagista ASH (Action
on Smoking and Health). A palavra "ash" quer dizer cinza.
"Outros fatores, como o preço
relativo dos celulares e do tabaco,
estão provavelmente envolvidos.
Nosso objetivo é debater e testar
essa teoria", afirma Bates, que estudou o assunto junto com Anne
Charlton, professora da Escola de
Epidemiologia e Ciências da Vida
da Universidade de Manchester.
Os dois afirmam que o celular
preenche algumas das necessidades dos jovens que costumam ser
associadas ao cigarro: "Estilo
adulto, individualidade, sociabilidade, rebelião, pressão do grupo".
"As pressões de grupo para celulares, acredito, são mais fortes
do que para cigarros. Se todos os
seus amigos têm celular, mas você
não tem seu aparelho, então será
difícil se socializar e manter a vida
social em movimento", diz Bates.
Um adolescente não-fumante
pode ser membro de um grupo de
fumantes; já um "sem-celular"
corre o risco de ser excluído do
grupo se não tiver como entrar
em contato com ele.
Os dados coletados indicam
que o percentual de fumantes
adolescentes de ambos os sexos
caiu de 13% para 9% de 1996 a
1999. Entre os de ambos os sexos
com 15 anos, a queda nesse período foi de 7% (de 30% para 23%).
Já a posse de telefones móveis
aumentou dramaticamente. Em
janeiro de 1999, apenas 23% dos
adolescentes de 15 a 17 anos tinham celular; esse percentual subiu para 60% um ano depois e
chegou a 70% em agosto passado.
Bates acredita que a tendência
não deverá se reverter. "Não há limite em quanto se pode gastar
com um telefone. É mais provável
que os adolescentes se concentrem em ser donos dos melhores
aparelhos, mais avançados, com
Internet, MP3, vídeo etc.", diz. À
medida que fumar se torna fora
de moda, ele acha difícil que adolescentes voltem ao hábito.
Os pesquisadores não sabem dizer se a tendência se repete em outros países. "Há indícios de que
seja um fenômeno local. Mas os
adolescentes britânicos sempre
foram lançadores mundiais de
moda. Como estamos falando de
um instinto de rebanho de moda,
o efeito pode ser imprevisível",
conclui Bates.
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