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ROSELY SAYÃO
Ataques e justificativas
As relações estão
coisificadas. Não
é qualquer um
que é visto como
ser humano
FOMOS INFORMADOS de
que cinco jovens de classe
média, com comportamento
violento, atacaram outros
três na avenida Paulista, em
São Paulo.
O fato logo foi seguido por
comentários e explicações
por parte de pessoas próximas às envolvidas: justificativas que tentavam amenizar a
situação.
O acontecimento foi associado à homofobia, e essa relação está sob investigação.
Mas, vejamos as declarações
de pais de alguns dos agressores.
Um afirmou a um jornal
que tudo não passou de "uma
grande confusão" e foi além:
disse que não se tratava de
um ato homofóbico, e sim de
uma briga comum.
Ah, bom! Se não há homofobia no meio, tudo fica menos sério, não é?
Outro pai chamou os jovens agredidos de "supostas
vítimas" e não aceita o fato
de a versão deles ter sido
apresentada à polícia sem a
presença dos advogados dos
que praticaram a agressão.
Outro reconhece que o filho
tem "pavio curto" e afirma
que, por isso, o jovem teria
reagido com briga a uma
"cantada" um pouco agressiva da parte dos jovens que foram atacados.
Ah, bom, se foi reação, não
foi tão grave assim.
A mãe de um deles afirmou
que os encontrou chorando
(eles estão, no momento em
que escrevo este texto, recolhidos) e os chamou de
"crianças". Ela disse também
que não sente vergonha, mas
que está sensibilizada com o
fato de os outros jovens estarem machucados.
Um pai declarou a mesma
coisa: que os garotos "estavam chorando" quando os
viu. Ah, bom, se os agressores
estão sofrendo, devemos nos
preocupar com eles.
Já temos o suficiente para
refletir a respeito desse fato
que nos remete a outros semelhantes já noticiados.
O que a educação que praticamos em casa e nas escolas tem a ver com isso? Como
o comportamento no mundo
adulto estimula acontecimentos desse tipo?
Educar tem sido cada vez
mais difícil. Você deve ter
considerado, caro leitor, como muitas pessoas e eu, que o
avanço do conhecimento e
das tecnologias facilitariam o
processo educativo.
Engano nosso: a cada dia,
novos dispositivos, ideias e
valores são incorporados à vida dos mais novos -e isso
exige novas atitudes educativas de nossa parte.
Educar na atualidade exige um conhecimento crítico e
uma compreensão do mundo
e da realidade para que os
atos educativos possam conter, pelo menos em sua intenção, possibilidades de mudanças para os mais novos.
O ocorrido aponta, entre
outras coisas, que as relações
com os outros estão "coisificadas", desumanizadas. Não
é qualquer outro que é visto
como ser humano.
Os que não são reconhecidos como parte do grupo ao
qual a pessoa pertence, em
geral bem pequeno, são vistos como estorvo, fonte de
problemas e geradores de insegurança e, logo, de desconfiança. Isso impede a solidariedade, a colaboração e estimula a xenofobia.
Índios, empregadas domésticas, prostitutas e homossexuais já foram tratados
por jovens como "coisas" e
não como seres humanos, em
um passado recente.
Enquanto as escolas se
preocuparem com a competição nos diversos "rankings"
publicados, enquanto as famílias se preocuparem apenas com o futuro pessoal de
seus filhos, e enquanto ambas as instituições não apostarem na recuperação da vida coletiva e social, nossos filhos terão poucas chances de
uma existência digna.
Em tempo: mesmo que seu
filho frequente uma escola
privada renomada e conceituada, você não tem motivos
para ficar tranquilo. Lá dentro também ocorrem exclusões, humilhações, enfrentamentos, furtos e abusos.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de
"Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)
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