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Crianças
Médicos e especialistas avaliam soluções
adotadas pelos pais para fazer dormir os bebês
Nada de nanar
TATIANA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL
O sono não vem. E o que é
pior: não é o seu, é o do
seu filho. Quem já enfrentou uma criança
acordada em casa enquanto se sente
exausto conhece o drama. E, entre
sentimentos de culpa, impotência e
irritação, os pais buscam meios de
adormecer o pequeno.
O tema, que já rendeu páginas e páginas de
livros mundo afora, é assunto também de uma
tese de doutorado que está sendo realizada pela pediatra, psicoterapeuta e especialista em
sono Eduardina Telles Tenenbojm. Ainda em
fase inicial, o estudo está sendo conduzido no
departamento de neurologia clínica da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo e busca investigar o elo entre a relação
mãe-bebê e a dificuldade de dormir apresentada por crianças com até dois anos de idade.
"Nos bebês, o uso de medicação para insônia não é indicado. Meu objetivo é chegar a
fórmulas de intervenções breves, como consultas terapêuticas, que forneçam resultados
consistentes", explica a médica.
Ela diz que mães que enfrentaram situações
de luto ou perda recentes são atingidas com
mais freqüência pela falta de sono dos filhos.
"Bebês que não dormem acabam por trazer a
síndrome de privação de sono para o cuidador, que geralmente é a mãe. Ela se sente irritada e chega a ter dificuldades de concentração e de memória. Por outro lado, na relação
com a criança, revelam-se também dificuldades que a mãe está enfrentando em outro setores de sua vida. Essas dificuldades se manifestam sob a forma de insônia no bebê ", diz.
Miriam Matos Lagoa, 34, profissional da
área de educação física, não dorme direito há
sete meses -idade atual do filho Iago Ferrari.
"No meio da gravidez, o relacionamento
com pai dele acabou e fiquei deprimida. Acho
que ele sentiu isso tudo e, de certa forma, teve
um impacto. O sono dele é muito picado, geralmente desperta de meia em meia hora,
mesmo tomando um calmante fitoterápico
desde os dois meses. Passo a maior parte da
noite acordada, faço mamadeira, dou o peito,
canto, empurro o carrinho pela sala, tudo para
tentar acalmá-lo. Vivo morta de sono, com a
rotina atrapalhada pelo cansaço", relata.
"Cheguei à conclusão de que ele é assim
mesmo", afirma a artista plástica Alba Nascimento, 33, em relação às poucas horas de sono
do filho Filipe Rudah, 22 meses. "Já fiz curso
de shantala, pratiquei ioga -porque podia ser
eu a estressada- , levei-o para fazer exames,
para benzer, para tomar florais, para fazer homeopatia, dei banho de imersão em camomila. Nada adiantou. O sono dele é leve e ele dorme pouco. Vivo com olheiras", conta Alba.
Para Márcia Pradella-Hallinan, neuropediatra coordenadora do setor de crianças e adolescentes do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo, muitos pais misturam
dificuldades de dormir provocadas por condicionamento inadequado com manifestações
reais de distúrbio de sono.
"Há pouco tempo, não era sequer recomendado usar o termo "insônia" pra crianças e adolescentes. Insone é alguém que já dormiu bem
e perdeu o hábito, o que não é exatamente o
caso da criança que apresenta dificuldade ou
resistência para dormir", observa.
De acordo com dados do Instituto do Sono,
até os três anos de idade 40% das crianças
apresentam despertar confuso (seguido de
choro). Na idade pré-escolar, o distúrbio de
sono predominante é o sonambulismo, manifestado por entre 30% e 35% das crianças. Entre escolares e adolescentes, o terror noturno
acomete 15%.
"Fora dessa margem, o que ocorrem são
problemas decorrentes de condicionamento
inadequado. São crianças que enfrentam dificuldades para dormir simplesmente porque
foram mal-acostumadas, adquiriram maus
hábitos", esclarece a neuropediatra.
A Folha ouviu especialistas para comentar
práticas adotadas pelos pais nas longas madrugadas insones com os filhos. Será que funcionam? Leia e confira.
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