São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 2007
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Bem-estar

Custo/ benefício

Nos tratamentos mais luxuosos dos spas, ingredientes sofisticados aumentam o preço a pagar, mas, do ponto de vista dos dermatologistas, não trazem efeitos profundos e duradouros

IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O caviar é Beluga; o vinho, francês; as pedras são preciosas. Um luxo. Com seu devido componente de desperdício: os objetos do desejo não são oferecidos em torradas, taças ou anéis. Espalhados na pele do corpo ou do rosto do freguês, prometem as não menos cobiçadas poções de juventude, beleza, magreza e do que mais fizer parte do cardápio de ideais estéticos do momento.
Os tratamentos luxuosos dos spas vão fundo nas fantasias, mas, do ponto de vista dermatológico, "estão no limiar dos tratamentos não invasivos e do nada", diz Davi de Lacerda, dermatologista do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Certo, estar num lugar paradisíaco, ser cuidado como um rei, sentir-se privilegiado e, de quebra, ganhar uma massagem com óleos perfumados faz qualquer um sair da experiência com uma cara melhor. Isso não quer dizer que os ingredientes e as terapias vendidos por preços nada módicos ofereçam, de fato, tudo o que prometem. Retardar o envelhecimento ou combater a celulite ainda são esperanças não concretizadas. Vendê-las em embalagens de luxo é, para Jayme de Oliveira Filho, presidente do 62º Congresso Brasileiro de Dermatologia (que será realizado em São Paulo), "um estelionato dermatológico".
É preciso dizer que, exageros à parte, muitos dos ingredientes utilizados têm, potencialmente, uma ação benéfica. O mel, por exemplo, tem propriedades antiinflamatórias, o sal é dermoabrasivo e o vinho é rico em substâncias antioxidantes. "O problema é que não sabemos em que proporções e como [esses ingredientes] agem na pele de maneira mais profunda", ressalva Cid Yazigi Sabbag, diretor da Sociedade Brasileira de Laser. Para Artur Duarte, professor titular de dermatologia da Faculdade de Medicina da Unisa (Universidade de Santo Amaro), a falta de evidências desequilibra ainda mais a relação custo/benefício. Os ingredientes raros e caros, que servem como justificativa ao preço do tratamento, "podem ser substituídos por hidratante comum, sal de cozinha etc. O efeito será o mesmo", diz Duarte.
Se o custo for alto demais, o efeito indesejado no bolso pode acabar com a graça dos tratamentos. Por isso, antes de assinar o cheque, "é importante pensar em opções que podem ser mais eficazes que um spa", aconselha Lacerda. Provavelmente, essas não serão tão charmosas, e um dos "ingredientes ativos" desses tratamentos é estimular o imaginário. Pode valer como uma ótima massagem no ego, principalmente se "[a pessoa] esquecer as promessas estéticas e aproveitar o momento", diz.

Riscos da drenagem
Oferecida em qualquer centro de estética (spas inclusos), a drenagem linfática está sendo questionada, tanto em relação à eficácia quanto à segurança.
A técnica costuma ser oferecida para o tratamento da celulite, mas "não existe estudo científico mostrando sua eficácia nesse aspecto", afirma Gil Lúcio Almeida, presidente do Crefito 3 (Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Estado de São Paulo). Um mapeamento das clínicas que fazem drenagem em São Paulo, realizado pelo Crefito 3, levanta casos em que pacientes com celulite de grau 1 (a mais suave) saem do tratamento com celulite de grau 3. Isso acontece, segundo Almeida, pelo despreparo de parte dos profissionais, que desconhecem anatomia e fisiologia. O estudo do Crefito apontou também ocorrências mais graves, como casos de trombose desencadeados pela drenagem.
"A drenagem linfática não é isenta de riscos", adverte o professor de dermatologia Artur Duarte. A técnica é contra-indicada para quem tem hipertensão, diabetes, problemas circulatórios e câncer. Também deve ser evitada por quem toma medicamentos que mexem com a coagulação. "Muita gente não se dá conta de que substâncias como aspirina, gingko biloba e vitamina E também têm esse efeito [anticoagulante]", diz o dermatologista Jayme de Oliveira Filho.
Como contribui para eliminar líquidos, a drenagem dá a impressão de "emagrecer" e melhorar a celulite. A perda de peso é passageira e ilusória, afirmam os médicos. Nos casos de celulite, ela pode contribuir quando o quadro está associado à retenção de líquidos, mas, como a celulite normalmente tem múltiplas causas, a drenagem sozinha não leva a uma melhora significativa.


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