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s.o.s. família
Ser pai pode rejuvenescer ou envelhecer
Uma amiga comentou que ser mãe e ser pai
pode ter seus ônus todos, mas que uma
coisa não se pode negar: o filho tem o dom de
rejuvenescer os pais. Ela fez essa observação
depois de ouvir uma reclamação do jovem filho que a tinha acompanhado -e ao pai- em uma visita familiar. O parecer dele sobre o
programa foi curto e direto: chato no superlativo. O motivo? Na visão dele, bem simples: lá
não se tinha assunto, o papo era ultrapassado,
as conversas não rolavam.
A mãe, que é uma dessas mulheres que
aprenderam a escutar o que os filhos dizem,
refletiu a respeito do que tinha ouvido e não
pôde deixar de concordar, pelo menos em
parte, com a opinião do adolescente. Foi além
do pensamento juvenil e pôs-se a analisar o
encontro. Concluiu que faltava mais vida viva
naquela casa porque lá não havia filhos.
Os pais que adotam os filhos que geram e assumem integralmente a relação com esses filhos aventuram-se numa viagem incerta e
cheia de grandes emoções. Sabe esses esportes
radicais que os jovens adoram praticar? Pois
ser pai e ser mãe parece-se um pouco com isso. Por mais que qualquer um desses esportes
seja muito bem planejado, preparado e cronometrado, é a combinação da incerteza, do risco e do desafio com a sensação de ficar absolutamente sem controle da situação que torna
esses esportes tão atrativos aos jovens.
Não é assim com os adultos que decidem ser
pais? Afinal, ter filhos significa acompanhar o
mundo pelo próprio olhar e complementar
essa visão com o novo olhar que o filho tem;
significa perder a idéia de que já sabe tudo o
que interessa e de que não há mais nada desafiante para aprender; significa se surpreender
com as novidades que o mundo produz e que,
sem os filhos, jamais chamariam a sua atenção; significa ter a enorme responsabilidade
de cuidar de um outro, além de você mesmo,
de admitir a perda de controle da situação, entre tantas outras coisas. E tudo isso já é o suficiente para renovar, mudar para melhor. Rejuvenescer, como disse minha amiga, para, ao
mesmo tempo, amadurecer.
Qualquer que seja a idade de uma mulher ou
de um homem, assumir como sua a tarefa de
cuidar de um filho totalmente dependente,
sintonizar-se com ele para tentar alcançar o
sentido da linguagem que ele usa, tornar-se
disponível para interessar-se verdadeiramente pela experiência da descoberta da vida que
acontece diariamente com a criança e com o
jovem só pode fazer amadurecer.
Responsabilizar-se pela educação de um filho requer uma atitude firme e ousada: a de assumir a tarefa de tutelar a vida de quem ainda
não consegue viver por sua própria conta e
risco. E isso só se faz com autoridade moral,
algo que se constrói arduamente, dia após dia,
e se sustenta do mesmo modo. Coisa de gente
grande, não é mesmo?
Mas há, sim, quem não consiga dar o passo à
frente e não desfrute dessa oportunidade que
assumir o lugar de mãe ou de pai possibilita.
Vou dar como exemplo um fato -didático,
por sinal- ocorrido em um clube e que me foi
contado por quem o testemunhou.
Uma mulher e seu filho pequeno, de menos
de seis anos, estavam se arrumando para ir para casa depois de um tempo na piscina. Enquanto aguardava a hora da saída, o garoto
pediu para tomar um sorvete, e a mãe deixou.
Depois do primeiro, ele pediu o segundo e o
terceiro. Quando o menino pediu o quarto, a
mãe respondeu que não, que ele já havia tomado o suficiente.
O menino reagiu daquele modo conhecido
de quem tem ou teve filhos pequenos: gritou,
bateu o pé, armou um pequeno escândalo na
tentativa de conseguir o que queria. Depois de
confirmar a negativa e não ver a birra acabar, a
mãe deixou com o filho a conta a pagar. Disse
que a decisão era dele: se tomasse outro picolé,
não voltaria ao clube no dia seguinte.
Ter filhos -vale o mesmo para alunos-
pode rejuvenescer ou envelhecer. Pode também amadurecer ou prolongar a imaturidade.
Obter um ou outro resultado depende do
compromisso e do envolvimento com o lugar
ocupado.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha), entre
outros; e-mail: roselys@uol.com.br
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