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Não penso no futuro
Desde 1997, quando lançou o
livro "Depois Daquela Viagem"
(ed. Ática, 279 págs., R$ 32), no
qual relata sua experiência como portadora do HIV, Valéria
Piassa Polizzi é um nome familiar para adolescentes e adultos
que aprenderam com ela os riscos da infecção.
Adotado pelas escolas, o livro
teve mais de 300 mil exemplares vendidos e foi traduzido em
diversos países. Desde aquela
época, a garota que recebeu a
notícia de que não viveria mais
do que seis meses no auge de
sua juventude percorreu o Brasil dando palestras, viajou pelo
mundo, casou, separou, escreveu outros dois livros e concluiu uma faculdade.
Aos 39 anos, Valéria convive
com o vírus da Aids há 23 -foi
contaminada nas primeiras relações sexuais, por um namorado. "Era uma doença de homossexuais masculinos, parecia
muito distante da gente, meninas de classe média."
Soube que tinha o HIV por
seu pai. "Diziam que vivia dez
anos quem tinha muita sorte. A
vida foi parando. Fiz três meses
de faculdade e larguei. Pensava:
"Não vai dar tempo de acabar"."
Pouco depois de voltar de
uma viagem aos EUA, Valéria
foi internada. O médico que a
acompanhava havia indicado a
hora de iniciar o tratamento,
mas ela saiu do consultório e
não voltou mais. ""Para que, se
vou morrer de qualquer jeito?",
pensava. Eu via o efeito colateral do AZT nas pessoas."
Aos 24 anos, passou um mês
no hospital, com tuberculose
renal, pela primeira e única vez.
Depois de um ano, o médico
suspendeu o AZT, que parava
de fazer efeito. Nessa época, começou a escrever o livro.
Após um intervalo de quase
dois anos sem medicação, o coquetel foi lançado e Valéria voltou a se tratar.
As viagens constantes eram o
único plano que ela se permitia
fazer. "Não conseguia pensar a
longo prazo. Era, no máximo,
para o mês que vem."
Quando ela tinha 26 anos, o
livro foi publicado. Valéria viajou pelo país inteiro dando palestras e ganhou uma coluna
em uma revista voltada para
adolescentes.
Alguns anos depois, conheceu o ex-marido, "que era soronegativo e continua sendo", na
Nova Zelândia. Depois de ficar
três anos na Áustria, onde ele
morava, voltaram ao Brasil.
"Estava com 33 anos, não morri
e não fiz faculdade. Queria estudar e me formei em jornalismo." Agora, dedica-se à pós-graduação em criação literária.
Valéria tem problemas renais e faz exercícios físicos para
combater a lipodistrofia, um
problema de má distribuição da
gordura corporal que também
eleva o colesterol e os triglicerídeos. Toma antidepressivos,
como a maioria de seus amigos
soropositivos.
Com a carga viral indetectável "há muito tempo", ela encara o HIV como doença crônica.
"Vida normal que a gente fala é
conseguir trabalhar, estudar,
mas eu tenho uma doença. Está
controlada, mas está aqui."
Mesmo tendo ultrapassado
os prognósticos mais favoráveis, Valéria ainda acha difícil
fazer planos de longo prazo.
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