São Paulo, quinta-feira, 26 de abril de 2007
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Época e cultura definem as noções de higiene

Em "Passado a Limpo - História da Higiene Pessoal no Brasil", o jornalista Eduardo Bueno conta como a limpeza tem sido encarada no país desde o primeiro encontro entre os "pelados" (os índios) e os "peludos" (os portugueses) até a instalação da indústria da beleza, amparada por um discurso publicitário que associava asseio a sucesso.
O livro, recém-lançado, mostra ainda como as diferenças culturais levaram, ao longo dos séculos, a diferentes perspectivas sobre a higiene.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida à Folha.
 

Folha - Além da saúde, a que a higiene já foi associada?
Eduardo Bueno
- A higiene já foi diretamente associada à divindade, à purificação. Na Índia, por exemplo, os hindus eram limpíssimos, pois tinham que estar limpos de corpo e alma. Isso ocorreu muito fortemente entre os egípcios e os hindus. Eles não podiam participar das cerimônias religiosas se não estivessem limpos e, muitas vezes, depilados.
Folha - E no cristianismo?
Bueno - Entre os cristãos, o corpo era considerado uma prisão da alma, que não precisava ser cuidado nem tratado. Mas esse discurso era um disfarce -o verdadeiro sentido dessa proposição era que o contato com o corpo geraria desejos, traria a libido. Mas de onde o cristianismo se disseminou? De Roma. E o exemplo que os cristãos tinham de Roma eram as casas de banho, onde rolava de tudo. Por essa razão, o banho foi banido.

Folha - Qual o papel simbólico da higiene hoje, no mundo ocidental?
Bueno
- Vivemos em uma sociedade cada vez mais hedonista, de culto ao corpo e ao prazer. Isso já ocorreu antes, na "belle époque", quando ocorreu uma profusão de produtos de beleza. Surgiram os pós faciais, uma enxurrada de novos perfumes. Uma era que acabou na 1ª Guerra Mundial. No pós-guerra, a higiene pessoal explode com o "american way of life". A mensagem era que você só seria bem-sucedido se estivesse impecavelmente limpo.
Folha - Até hoje muitas propagandas fazem essa associação.
Bueno - É verdade. Essa indústria se firmou através de campanhas publicitárias que incentivavam ao uso dos produtos não para o seu conforto, o seu asseio, mas sim em relação ao que os outros iriam pensar de você. Foi criado um personagem, "O Tal", que era sempre escorraçado por cheirar mal, que não usava o sabonete Lifebuoy. O impacto dessa propaganda foi enorme no Brasil, nos anos 50, e o Lifebuoy se tornou o terceiro sabonete mais usado no país. Ninguém poderia ter nenhum odor. Tem uma propaganda que diz "não ter sorte muitas vezes quer dizer: axilose!", ou seja, ninguém mais pode ter ce-cê.


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