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ESPECIAL
Problema de mulher
Em dez anos, o número de brasileiras internadas por infarto aumentou 46%, mas
a pesquisa Datafolha mostra que a maioria não percebe a gravidade do quadro
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Brasileiras acima de 40
anos lideram atualmente um ranking
nada honroso: são as
campeãs de mortes por doenças cardiovasculares na América Latina. A taxa de óbitos nessa faixa etária é de 30%, sendo o
AVC (acidente vascular cerebral) e o infarto as principais
causas de morte.
Entre 1990 e 2000, a incidência dessas doenças aumentou
muito entre as mulheres. Antes, a cada grupo de dez infartos, apenas um era de mulher.
Atualmente, estima-se que a
proporção seja de seis homens
infartados para cada mulher.
O problema é que as mulheres ainda desconhecem a gravidade desse quadro. Pesquisa
Datafolha mostra que 42% das
entrevistadas acham que o câncer provoca mais mortes contra
11% das que apontam as doenças cardíacas como a principal
causa de mortalidade. Embora
mais de 90% delas conheçam
os fatores de risco, 52% não fazem exercícios físicos, 16% fumam e 13% são obesas.
"Existe a subestimação dos
riscos. Se a mulher tem pressão
arterial acima de 14 por 9 ou colesterol acima de 200 ela tem
30% de risco de desenvolver infarto depois dos 50 anos", diz
Raul Dias dos Santos, do Incor.
Nem as mulheres jovens escapam desse risco. O cigarro, a
obesidade, as anfetaminas
(presentes nas fórmulas de
emagrecimento), por exemplo,
estão associados a um risco de
aumento de hipertensão, diabetes, alteração de frequência
cardíaca e aumento dos níveis
de colesterol no sangue.
A psicóloga Ana Beatriz Cesar, 32, teve um infarto agudo
aos 21 anos: pesava 100 kg, fumava, usava pílula anticoncepcional e anfetaminas. "Um dia
acordei às 3h com uma dor no
peito. Achei que era bronquite.
No dia seguinte, como não passava o incômodo, fui ao hospital. Fiz exame de sangue e o eletro e eles me liberaram. Quando voltei à tarde para buscar os
resultados, fui direto para a
UTI e fiquei por lá cinco dias.
Foi aí que eu descobri que havia
infartado. A ficha não caía porque eu não estava sentindo
mais nada", afirma.
Ana conta que jamais considerou que pudesse infartar por
causa da sua idade. "Mesmo
bem acima do peso, não tinha
colesterol alto nem hipertensão. Os médicos acham que foram as anfetaminas."
Três anos após o infarto, a
psicóloga passou por uma cirurgia de redução de estômago
e emagreceu 40 kg. Hoje, ela leva uma vida normal, sem sequelas do infarto.
"Eu era muito estressada,
preocupada com as coisas. Hoje
eu sei reconhecer meus limites
físicos e emocionais." Ana só
não conseguiu ainda incorporar os exercícios físicos na sua
rotina diária, mas diz que está
buscando disciplina para isso.
Praticar exercícios físicos
por 30 minutos três vezes por
semana diminui em 40% a incidência de problemas cardiovasculares.
"A mulher jovem pensa que
está imune. Mas se ela fuma de
um a cinco cigarros por dia o
risco cardiovascular já dobra",
explica o cardiologista Otávio
Gebara, diretor de cardiologia
do Hospital Santa Paula (SP) e
coordenador das diretrizes
brasileiras sobre doenças cardiovasculares em mulheres.
Os números negativos não
param por aí. Dados do Datasus
(banco de dados do Ministério
da Saúde) apontam que o número de internações de mulheres por infarto aumentou 46%
em dez anos. A taxa de mortalidade por ataque cardíaco chegou a 16,8% nesse período.
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