São Paulo, quinta-feira, 26 de novembro de 2009
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ESPECIAL

Problema de mulher

Em dez anos, o número de brasileiras internadas por infarto aumentou 46%, mas a pesquisa Datafolha mostra que a maioria não percebe a gravidade do quadro

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Brasileiras acima de 40 anos lideram atualmente um ranking nada honroso: são as campeãs de mortes por doenças cardiovasculares na América Latina. A taxa de óbitos nessa faixa etária é de 30%, sendo o AVC (acidente vascular cerebral) e o infarto as principais causas de morte.
Entre 1990 e 2000, a incidência dessas doenças aumentou muito entre as mulheres. Antes, a cada grupo de dez infartos, apenas um era de mulher. Atualmente, estima-se que a proporção seja de seis homens infartados para cada mulher.
O problema é que as mulheres ainda desconhecem a gravidade desse quadro. Pesquisa Datafolha mostra que 42% das entrevistadas acham que o câncer provoca mais mortes contra 11% das que apontam as doenças cardíacas como a principal causa de mortalidade. Embora mais de 90% delas conheçam os fatores de risco, 52% não fazem exercícios físicos, 16% fumam e 13% são obesas.
"Existe a subestimação dos riscos. Se a mulher tem pressão arterial acima de 14 por 9 ou colesterol acima de 200 ela tem 30% de risco de desenvolver infarto depois dos 50 anos", diz Raul Dias dos Santos, do Incor.
Nem as mulheres jovens escapam desse risco. O cigarro, a obesidade, as anfetaminas (presentes nas fórmulas de emagrecimento), por exemplo, estão associados a um risco de aumento de hipertensão, diabetes, alteração de frequência cardíaca e aumento dos níveis de colesterol no sangue.
A psicóloga Ana Beatriz Cesar, 32, teve um infarto agudo aos 21 anos: pesava 100 kg, fumava, usava pílula anticoncepcional e anfetaminas. "Um dia acordei às 3h com uma dor no peito. Achei que era bronquite. No dia seguinte, como não passava o incômodo, fui ao hospital. Fiz exame de sangue e o eletro e eles me liberaram. Quando voltei à tarde para buscar os resultados, fui direto para a UTI e fiquei por lá cinco dias. Foi aí que eu descobri que havia infartado. A ficha não caía porque eu não estava sentindo mais nada", afirma.
Ana conta que jamais considerou que pudesse infartar por causa da sua idade. "Mesmo bem acima do peso, não tinha colesterol alto nem hipertensão. Os médicos acham que foram as anfetaminas."
Três anos após o infarto, a psicóloga passou por uma cirurgia de redução de estômago e emagreceu 40 kg. Hoje, ela leva uma vida normal, sem sequelas do infarto.
"Eu era muito estressada, preocupada com as coisas. Hoje eu sei reconhecer meus limites físicos e emocionais." Ana só não conseguiu ainda incorporar os exercícios físicos na sua rotina diária, mas diz que está buscando disciplina para isso.
Praticar exercícios físicos por 30 minutos três vezes por semana diminui em 40% a incidência de problemas cardiovasculares.
"A mulher jovem pensa que está imune. Mas se ela fuma de um a cinco cigarros por dia o risco cardiovascular já dobra", explica o cardiologista Otávio Gebara, diretor de cardiologia do Hospital Santa Paula (SP) e coordenador das diretrizes brasileiras sobre doenças cardiovasculares em mulheres.
Os números negativos não param por aí. Dados do Datasus (banco de dados do Ministério da Saúde) apontam que o número de internações de mulheres por infarto aumentou 46% em dez anos. A taxa de mortalidade por ataque cardíaco chegou a 16,8% nesse período.


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