São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002
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drible a neura

Programar a viagem de férias não é trabalho

TATIANA ACHCAR
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Planejar a viagem de férias pode ser um momento delicioso, até tão bom quanto o próprio passeio. Da mesma maneira, essas vésperas de férias podem representar um tormento na vida da pessoa e afundar qualquer viagem. Isso depende, em grande parte, do método de planejamento do turista. Sobrecarregar-se de tarefas e encher-se de expectativas a respeito do sucesso da viagem são alguns dos erros comuns dos viajantes. Confira aqui o que ajuda a fazer dos dias anteriores à viagem uma etapa prazerosa, sem neuras. Antes de mais nada, comece a programar as férias com antecedência. Como as providências devem ser conciliadas com as atividades do dia-a-dia, é melhor começar cedo, diluindo as tarefas ao longo dos meses que antecedem a viagem. Mas programar não significa se preocupar. Dedique-se ao planejamento de forma relaxada. "A etapa pré-viagem não deve ser encarada como uma missão. Já bastam as tarefas do trabalho", diz o filósofo Emir Sader, coordenador do laboratório de Política Pública da UERJ. Portanto fuja do planejamento restrito, feito na ponta do lápis, que gera muita tensão. Não se deixar levar pelas neuras do "e se", diz Sader. "Pense no estritamente necessário, pois não dá para se prevenir de tudo", diz ele. "Viajar é contar com o acaso e permitir que as coisas aconteçam livremente", diz Luiz Otávio de Lima Camargo, coordenador do curso de lazer da Faculdade Anhembi-Morumbi. Agora, há quem opte por se prevenir de imprevistos com grande potencial de se tornar realidade e de causar transtornos. É o que faz o arquiteto Rogério Batagliesi. Distraído assumido, ele possui um método de organização infalível para se proteger das costumeiras perdas de documentos durante suas viagens. Uma semana antes do embarque, ele faz três cópias autenticadas do passaporte, da passagem, dos cheques de viagem e da reserva de carro. Depois, distribui tudo: uma cópia fica no escritório, com a secretária; outra, na casa dele; e a terceira é plastificada para seguir com o viajante. Já o documento original fica seguro no cofre do hotel. "A providência pode parecer neura ou perfeccionismo, mas é o jeito que encontrei de não me aborrecer durante as férias. Pior é ter de voltar porque perdi um documento", diz Batagliesi.

Viagem e obra na casa
Em termos de organização e de volume de tarefas a professora Mônica Mendes Gonçalves Torkomian, 37, provavelmente é superada por poucos. Ela elaborou várias listas com organograma completo com os preparativos das férias e da reforma. Acredite, ela vai aproveitar os 20 dias em que estiver com o marido no exterior para reformar o piso da casa.
Ou seja, além de organizar sua própria viagem e as férias das duas filhas pequenas, de seis e nove anos, ela está às voltas com compra de material de construção, embalagem dos objetos da casa e retirada de todos os móveis. Tudo isso durante a rotina normal da casa. "Com um mês de antecedência, passagem, passaporte, seguro-saúde e reserva de carro já estavam acertados via agência de turismo." Pela internet (uma mão na roda para os viajantes), ela pode conhecer hotéis, checar vagas disponíveis e fazer reserva.
Contar com a ajuda das pessoas é muito importante nessa hora. "Dividir responsabilidades e delegar tarefas é assumir que nem tudo depende de você. Mas, às vezes, isso é muito difícil para a pessoa, inadmissível", conta o psicanalista Armando Colognese, coordenador do Departamento de Formação em psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.
As avós deram mais que uma mãozinha na vida de Mônica, cada uma ficará com uma neta. Já ao irmão coube a tarefa de supervisionar a obra e as plantinhas.
"Como é nossa primeira viagem internacional, há muita expectativa, pois quero aproveitar o melhor possível, sem preocupações. Por isso, fiquei muito ansiosa com a correria até perceber que não dá para controlar tudo. O que eu organizei já está feito", diz Mônica.
Já a dona-de-casa Vera Gonçalves de Souza e Silva Fassina, 42, atenta a todos os detalhes, faz questão de organizar sozinha a viagem da família. Em duas semanas, ela checa as malas, as roupas, os passaportes, os vistos e as vacinas necessárias de todo mundo. Também prepara a malinha de remédios, programa o pagamento de todas as contas e faz a reserva de restaurantes pela internet. "A rede permite solucionar alguns problemas em horários alternativos."
Ainda há os dois cachorros, que serão enviados a um hotel-fazenda. "Penso se os cachorros vão ficar juntos, se o canil tem sol. Na alta estação, é necessário reservar com antecedência." Vera faz uma lista das providencias e entra no "automático". "Fico doida, mas organizada, como eu sou normalmente", diz ela.
Experiente em viagens dos outros, o diretor da agência de ecoturismo Free Way Adventures, Edgar Werblowsky, alerta que expectativa e estresse desmedidos podem prejudicar a saúde do viajante durante as férias. "A pessoa fica sem energia para fazer uma trilha ou um rafting", diz.
A professora Mônica se conscientizou a tempo de que, se não puxasse o freio das tensões, ela correria o risco de desabar num resfriado em plena Europa.
Para Edgar Werblowsky, cabe à pessoa verificar se está viajando porque merece e quer curtir as férias ou se o objetivo é resolver os problemas da vida. Nesse caso, ela transfere sua ansiedade para a agência, e tudo vira complicação: checa mil vezes o roteiro, fica desconfiada e acha que nada vai dar certo. "É nosso papel entender a necessidade do cliente e lembrá-lo de que as férias estão aí para seu próprio benefício, lazer e prazer", conta Edgar Werblowsky.



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