São Paulo, quinta-feira, 27 de agosto de 2009 |
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ROSELY SAYÃO Educação sexual
Em um domingo, uma família conversava animadamente. Avós, tios, pais e crianças trocavam ideias e contavam histórias. De repente, um garoto de oito anos diz: "Vó, você faz sexo oral no vô?" Os adultos congelaram, tentaram disfarçar, não souberam reagir. A mãe de uma menina de cinco anos, ao dar banho na filha, ouviu a garota dizer que ela "chupava a chupeta" do primo de sete anos sempre que brincavam juntos. Desconfiada, perguntou se o primo ainda usava chupeta. A filha respondeu que ele tinha uma chupeta, que era o "pipi" dele. Em uma escola, professores surpreenderam alunos do 3º ano -com oito ou nove anos-, na hora do recreio, explorando genitais uns dos outros. Em outra, alunos do 2º ano contaram à professora que brincavam de "transar" no recreio. Os adultos estão perdidos diante de tais manifestações de sexualidade de crianças de sete a dez anos, mais ou menos. As crianças mudaram. Nessa idade, tais expressões eram raras anos atrás. Eram comuns em crianças com até seis anos. Depois disso, a sexualidade "adormecia" até explodir na forma adulta com a chegada da puberdade e o início da adolescência. Hoje, as referências mudaram. A adolescência, que é um fenômeno sociocultural, não mais se inicia depois da puberdade: se antecipa a ela. Crianças com nove, dez anos não mais querem ser crianças, e sim "pré-adolescentes". Na prática, isso significa ter comportamento adolescente: ir a festas à noite sem os adultos, conversar horas na internet ou pelo celular, consumir com certa autonomia, namorar. Sabemos que nossas crianças estão expostas a todo o tipo de informação do mundo adulto e, como consequência, estão eroticamente hiperestimuladas e não sabem diferenciar o que é do âmbito do relacionamento social daquilo que deveria fazer parte da intimidade. Não sabemos ainda como lidar com isso. Não dá mais para dizer apenas, para essa garotada, que "esse não é assunto de criança" por um motivo óbvio: não as tratamos mais como crianças. Precisamos, portanto, criar soluções alternativas. Talvez uma possibilidade seja a de oferecermos uma educação sexual mais cuidadosa, planejada desde a educação infantil, nas escolas e em casa. E não podemos entender educação sexual como conversas sobre sexo. Precisamos ensinar às crianças, desde cedo, o que entendemos ser importante em relação à sexualidade: atitudes e cuidados com o próprio corpo e com o do outro, os conceitos de intimidade, de gênero, a moral familiar e a social sobre o assunto, por exemplo. Outra possibilidade é a de não colaborar com a estimulação precoce. Poupar as crianças de frequentar reuniões sem adultos atentos, evitar detalhes desnecessários sobre o assunto e o acesso a sites e publicações de conteúdo erótico são atitudes responsáveis dos que convivem com essas crianças. O mundo mudou e, por isso, as crianças mudaram. Isso exige que a educação mude também, por isso voltaremos a tratar do assunto outras vezes. ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
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