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São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2003
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Em busca de uma identidade nacional na joalheria, designers criam peças com matérias-primas naturais que são expostas na Europa

Vaidade à brasileira ganha tons e formas da natureza

Almir Pastore/Divulgação
Paula Mourão usou uma técnica artesanal mato-grossense para criar este bracelete em prata com fios de seda
 
Almir Pastore/Divulgação
Peças em prata, jarina, madeira e semente de tucumã, de Rita Prossi


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Há muito mais criatividade na joalheria nacional do que faz supor a mesmice kitsch das lojas de pedras brasileiras de aeroportos e hotéis internacionais. Peroba, sementes da Amazônia, flores do cerrado, palha de buriti e couro de tilápia são alguns dos materiais que fazem a diferença nas peças produzidas pelos designers do movimento Jóias do Brasil, que ganharam espaço na concorrida Gallery 22, em Londres.

A exposição Brazilian Jewllery Show Inspired by Nature começou no dia 12/11 e termina hoje.
Técnicas tradicionais de artesanato e informações sobre matérias-primas são discutidas no ciberespaço. Criado em 1998, o Jóias do Brasil é virtual, e seu ponto de encontro é o site www.joiasdobrasil.com. Segundo a fundadora, Cris Koelle, esse é um dos aspectos mais interessantes do movimento, pois facilita não apenas o intercâmbio de idéias como também a troca de materiais. "Um material que é impossível de encontrar em São Paulo é fácil de ser conseguido por quem mora em Belém ou em Cuiabá, por exemplo."
A idéia do movimento surgiu do encontro entre Koelle e a também designer Virginia Moraes, que vive em Londres. O grupo acredita que a diversidade cultural é o melhor caminho para a criação de uma identidade brasileira na joalheria. Outros profissionais estão explorando a natureza para criar peças diferenciadas, como a designer Maria Lucia Barbosa.
Depois de Londres, a exposição segue para Milão, onde poderá ser conferida no Instituto Brasil-Itália entre os dias 3 e 7 de dezembro. Dez joalheiros, incluindo Koelle e Moraes, criaram peças exclusivas para a mostra, todas elas contendo pelo menos um elemento da fauna, da flora ou da cultura brasileiras.
O único homem entre os expositores é o carioca Caio Mourão. Considerado um dos responsáveis pela introdução do design moderno na joalheira nacional, Mourão dedicou 48 de seus 70 anos de vida às jóias. Numa época em que os joalheiros brasileiros seguiam as tendências tradicionais européias, ele começou a criar peças arrojadas que combinavam como uma luva com o gosto dos jovens artistas e intelectuais do Rio de Janeiro no início dos anos 70.
Além de inovar nas formas, Mourão desenvolve novas técnicas, entre elas a fundição orgânica, utilizada no colar Crista-de-Galo, que está na exposição. Dentro de um bloco modelador, ele coloca uma flor -como a que dá nome ao colar, encontrada na região dos Lagos (RJ)- e, em seguida, injeta metal derretido. O resultado é uma peça metálica com o formato idêntico ao da planta.
Depois de passar a infância brincando no ateliê da família, em Ipanema, zona sul do Rio, Paula Mourão decidiu seguir os passos do pai. No bracelete Passarela, que criou especialmente para a mostra inspirada nos desfiles das escolas de samba, ela usou uma antiga técnica do artesanato regional mato-grossense para unir fios coloridos de seda à prata.
Também há dois anéis em prata. Em Vejo Flores em Você, criado por Moraes, as pedras foram substituídas por flores secas típicas do cerrado brasiliense. Já a designer Elleonora Brazil incrustou um cristal de quartzo cor-de-rosa bruto num pequeno pedaço de peroba, madeira utilizada em construções.
Brenda Vidal criou um colar que mistura ouro amarelo, pequenas turmalinas e palha de buriti, usada pelos índios kanoês, de Rondônia, para confeccionar chapéus. Bisneta de bororo, Carmem D'Lamônica trabalhou 12 anos com o designer francês Jean-François Dupissom. De volta ao Brasil, inspira-se na região de Cuiabá (MS), cidade em que mora, para criar peças como o colar Pesca Consciente, cuja prata é decorada com cristais leitosos e couro de tilápia, peixe criado em cativeiro cuja pele é tratada pela comunidade Bom Sucesso, de Várzea Grande (MT). Peças desses artistas e das designers Rita Prossi -que usa sementes e frutos da Amazônia-, Reny Golcman (premiada na 11ª Bienal de São Paulo) e Laurenice Singulani -que trabalha materiais como o buriti-, que também participam da mostra, podem ser vistas no site do movimento. (MARIANA DEL GRANDE)

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