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Em busca de uma identidade nacional na joalheria, designers criam peças com matérias-primas naturais que são expostas na Europa
Vaidade à brasileira ganha tons e formas da natureza
Almir Pastore/Divulgação
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Paula Mourão usou uma técnica artesanal mato-grossense para criar este bracelete em prata com fios de seda |
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Almir Pastore/Divulgação
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Peças em prata, jarina, madeira e semente de tucumã, de Rita Prossi |
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Há muito mais criatividade na joalheria nacional do que faz supor a
mesmice kitsch das lojas de pedras brasileiras de aeroportos e hotéis internacionais. Peroba, sementes da Amazônia, flores do cerrado,
palha de buriti e couro de tilápia são alguns dos materiais que fazem a
diferença nas peças produzidas pelos designers do movimento Jóias
do Brasil, que ganharam espaço na concorrida Gallery 22, em Londres.
A exposição Brazilian Jewllery Show
Inspired by Nature começou no dia
12/11 e termina hoje.
Técnicas tradicionais de artesanato
e informações sobre matérias-primas
são discutidas no ciberespaço. Criado
em 1998, o Jóias do Brasil é virtual, e
seu ponto de encontro é o site
www.joiasdobrasil.com. Segundo a
fundadora, Cris Koelle, esse é um dos
aspectos mais interessantes do movimento, pois facilita não apenas o intercâmbio de idéias como também a
troca de materiais. "Um material que
é impossível de encontrar em São
Paulo é fácil de ser conseguido por
quem mora em Belém ou em Cuiabá,
por exemplo."
A idéia do movimento surgiu do
encontro entre Koelle e a também designer Virginia Moraes, que vive em
Londres. O grupo acredita que a diversidade cultural é o melhor caminho para a criação de uma identidade
brasileira na joalheria. Outros profissionais estão explorando a natureza
para criar peças diferenciadas, como
a designer Maria Lucia Barbosa.
Depois de Londres, a exposição segue para Milão, onde poderá ser conferida no Instituto Brasil-Itália entre
os dias 3 e 7 de dezembro. Dez joalheiros, incluindo Koelle e Moraes,
criaram peças exclusivas para a mostra, todas elas contendo pelo menos
um elemento da fauna, da flora ou da
cultura brasileiras.
O único homem entre os expositores é o carioca Caio Mourão. Considerado um dos responsáveis pela introdução do design moderno na joalheira nacional, Mourão dedicou 48
de seus 70 anos de vida às jóias. Numa época em que os joalheiros brasileiros seguiam as tendências tradicionais européias, ele começou a criar
peças arrojadas que combinavam como uma luva com o gosto dos jovens
artistas e intelectuais do Rio de Janeiro no início dos anos 70.
Além de inovar nas formas, Mourão desenvolve novas técnicas, entre
elas a fundição orgânica, utilizada no
colar Crista-de-Galo, que está na exposição. Dentro de um bloco modelador, ele coloca uma flor -como a
que dá nome ao colar, encontrada na
região dos Lagos (RJ)- e, em seguida, injeta metal derretido. O resultado é uma peça metálica com o formato idêntico ao da planta.
Depois de passar a infância brincando no ateliê da família, em Ipanema, zona sul do Rio, Paula Mourão
decidiu seguir os passos do pai. No
bracelete Passarela, que criou especialmente para a mostra inspirada
nos desfiles das escolas de samba, ela
usou uma antiga técnica do artesanato regional mato-grossense para unir
fios coloridos de seda à prata.
Também há dois anéis em prata.
Em Vejo Flores em Você, criado por
Moraes, as pedras foram substituídas
por flores secas típicas do cerrado
brasiliense. Já a designer Elleonora
Brazil incrustou um cristal de quartzo
cor-de-rosa bruto num pequeno pedaço de peroba, madeira utilizada em
construções.
Brenda Vidal criou um colar que mistura ouro amarelo, pequenas turmalinas e palha de buriti, usada pelos índios kanoês, de Rondônia, para confeccionar chapéus.
Bisneta de bororo, Carmem D'Lamônica trabalhou 12 anos com o designer francês Jean-François Dupissom. De volta ao Brasil, inspira-se na
região de Cuiabá (MS), cidade em que
mora, para criar peças como o colar
Pesca Consciente, cuja prata é decorada com cristais leitosos e couro de
tilápia, peixe criado em cativeiro cuja
pele é tratada pela comunidade Bom
Sucesso, de Várzea Grande (MT).
Peças desses artistas e das designers
Rita Prossi -que usa sementes e frutos da Amazônia-, Reny Golcman
(premiada na 11ª Bienal de São Paulo)
e Laurenice Singulani -que trabalha
materiais como o buriti-, que também participam da mostra, podem
ser vistas no site do movimento.
(MARIANA DEL GRANDE)
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