São Paulo, quinta-feira, 28 de março de 2002
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coluna social

Teatro aponta caminho das pedras à platéia

Nome: Marilu Cardoso, 25/ Glauco de Souza, 21
Disfarce: autora e diretora de teatro/ ator
Missão: criar peças de teatro que conscientizem moradores da periferia de São Paulo
Poderes especiais: as peças "Sobre as Pedras", que trata da questão das drogas, e "A Locomotiva Encantada", para o público infantil
Acessórios: cenário, figurino e música
Inimigo: desinformação

O casal Marilu e Glauco criou o que chamam de "teatro documental". Escrevem e montam peças que retratam os problemas de moradores da periferia de São Paulo. Meta: dar voz ao público excluído e apontar soluções. E a iniciativa está dando certo.
É comum, após a apresentação, pessoas da platéia procurarem a dupla para contar que se identificaram com os personagens e para pedir orientação. A peça em cartaz, "Sobre as Pedras", já mostrou o caminho das pedras para dependentes de álcool e drogas, que descobrem, entre outras coisas, que podem contar com a ajuda gratuita de centros de recuperação.

Folha - Como tem sido a reação do público?
Marilu Cardoso - O personagem principal de "Sobre as Pedras" é um alcoólatra. O filho dele, revoltado com essa situação, passa a usar drogas e, no final, acaba assassinado por causa de dívidas com traficantes. O pai pede ajuda para largar o vício em um centro de apoio a dependentes. Várias pessoas na platéia, a maioria pais, que nunca haviam ouvido falar de centros de apoio, procuram-nos para pedir um contato.

Folha - Onde vocês se apresentam?
Marilu - Em centros culturais. A próxima apresentação vai ser na mostra de teatro da casa de cultura da M'Boi Mirim, em maio. Também estamos fechando com escolas para mostrar a peça e, em seguida, promover debates.

Folha - Por que teatro?
Marilu - Depois da música, é a melhor forma de passar uma mensagem séria e de chamar a atenção. A minha idéia é aproveitar as histórias do cotidiano e, assim, mostrar a história da comunidade. Mostrar que arte é a própria vida.

Folha - As pessoas passam por testes para atuar nas peças?
Marilu - Não. A participação é aberta.

Folha - "Sobre as Pedras" tem passagens fortes, com criança fumando crack e execuções, mas não chega a chocar.
Marilu - Minha principal preocupação é não ferir as pessoas que se identificam com os personagens. Quero mostrar o que pode ocorrer e que elas têm o poder de mudar a situação.

Folha - E os nomes dos personagens? Há um que se chama Reimundo Charles.
Glauco - É uma crítica. Nesse trabalho, estamos resgatando as origens.

Marilu - Há quem ache bonito nome estrangeiro. Conheço uma menina chamada Leididay e um menino chamado Jonyrivers. Às vezes, o pai coloca nome de gripe.

Folha - É diferente a vida aqui hoje em comparação com a época em que vocês eram crianças?
Marilu - Os problemas sempre foram os mesmos. Quando uma pessoa vive em um ambiente muito pobre deixa de ter consciência do que tem direito. Acha, por exemplo, que ir ao cinema é luxo. Há crianças aqui que nunca foram ao cinema ou ao teatro. Os pais também não. Vejo dois caminhos: ou a pessoa luta para superar isso, ou se marginaliza porque desiste de acreditar no lado humano dela. Algumas pessoas desenvolvem com mais facilidade o seu lado negativo, outras, o positivo, e todas precisam de ajuda.

Folha - Qual o sonho de vocês?
Marilu - Comprar um terreno e montar um centro cultural todo equipado.


Contato para apresentações de teatro e para doações: tel. 0/xx/11/5833-6492, com Marilu.


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