São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2004
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De aguada, as águas minerais não têm nada

Essa bebida pode ser doce, salgada, amarga ou azeda, tem caloria zero e seus sais minerais trazem benefícios à saúde

IARA BIDERMAN
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"Insípida, inodora e incolor" são atributos da água que podem servir muito bem na aula de química, mas, para classificar as marcas de água mineral à venda no país, são equivocados. A indústria não pára de crescer e de sofisticar seus produtos. No último dia 12, por exemplo, uma marca brasileira recebeu o certificado de qualidade avalizado pela FDA (agência que regula alimentos e fármacos nos Estados Unidos) e pela OMS (Organização Mundial da Saúde), ou seja, reconhecido internacionalmente. Preferir uma água em detrimento a outra é uma questão de gosto, no sentido fisiológico mesmo: "Há quatro sensações gustativas básicas: doce, ácido, amargo e salgado", diz o médico Artur Azevedo, vice-presidente da Associação Brasileira de Sommeliers. E o que dá sabor à água são os tipos e as concentrações dos sais minerais presentes nela. Às vezes, as diferenças são tão sutis que só papilas gustativas privilegiadas e treinadas conseguem percebê-las. Mas o simples mortal também pode aprender a degustar águas minerais. O sabor é um dos trunfos que a indústria de água mineral do mundo inteiro usa para valorizar o seu produto. Somado aos benefícios dos sais minerais, a ausência de calorias e, enfim, a própria necessidade vital de água, a estratégia parece funcionar.

Caloria zero
Água mineral é o produto líqüido mais vendido na Europa (incluindo países idólatras de vinho, como a França). Nos EUA, onde os refrigerantes são, há 20 anos, a bebida mais popular, o consumo de água mineral aumentou 130% em dez anos. Por aqui, o mercado de águas engarrafadas começou a crescer significativamente no começo dos anos 90. Nos cinco últimos anos, a produção praticamente dobrou -de 2,5 bilhões de litros em 1998 foi para 4,7 bilhões em 2002, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Águas Minerais (Abinam). A entrada das marcas importadas, de fama tradicional e veteranas na arte de divulgar suas qualidades, estimulou o consumo e agitou a concorrência. As brasileiras correram para não ficar para trás. Hoje, duas marcas já têm o selo NSF (National Sanitation Foundation dos EUA), o certificado de qualidade reconhecido internacionalmente. A primeira a recebê-lo foi a marca Ouro Fino. Neste mês, a Água Santa Bárbara foi a agraciada, após comprovar o atendimento de cerca de 63 itens que garantem os padrões de qualidade e excelência exigidos internacionalmente. Segundo a Abinam, há mais uma dezena de empresas brasileiras se preparando para receber o certificado. Nos quesitos ser potável e estar livre de contaminação, não há diferença entre água engarrafada de origem comprovada e encanada devidamente tratada, diz Caetano Mautone, químico da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). A mineral já sai potável da fonte, enquanto a do abastecimento público é captada nos rios e mananciais e tratada com produtos químicos para poder ser consumida. Usa-se cloro, seguro para a saúde, mas desagradável ao paladar quando percebido. Além do gosto mais agradável, a água mineral pode oferecer benefícios complementares à saúde, diz Marcos Untura Filho, diretor científico da Sociedade Brasileira de Termalismo. O tipo de ação no organismo depende da composição química (sais minerais) e físico-química (como radioatividade) do tipo de água. A presença dos sais minerais também é fonte de mitos. Por exemplo: a idéia de que água mineral pode favorecer a hipertensão está associada ao fato de a maioria das águas conter sódio. "A concentração de bicarbonato de sódio nas águas comerciais é muito pequena para provocar o aumento da pressão sangüínea", diz Untura.

Água e pedra nos rins
A idéia de que pode sobrecarregar os rins e propiciar a formação de cálculos renais também é falsa. "Mesmo em regiões onde há fontes das chamadas águas pesadas (ricas em sais de cálcio), não foi constada uma relação direta com a calcificação dos sais nos rins, conhecidas como pedras renais", diz o diretor do serviço de nefrologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, Rui Toledo de Barros. Ao contrário, diz o nefrologista, a ingestão de grandes quantidades de água e líqüidos em geral é recomendada como proteção para quem tem propensão ao problema. Nesse caso, pode ser indicado o consumo diário de até mais de 4 l. Em geral, a ingestão de água recomendada para repor a perda orgânica é de 1,5 l a 2 l por dia. Fatores internos e externos podem aumentar essa perda, como transpiração excessiva ou um clima muito quente e seco. A combinação desses dois fatores pode elevar a necessidade de reposição para até 5 l diários, diz Turíbio Leite Barros, professor de medicina esportiva da Unifesp. Em situações agudas, como durante a prática de atividades físicas relativamente intensas, uma boa medida é tomar um copo (200 ml) de água a cada 20 minutos de atividade, diz ele. Mas sem neurose: "Nesses casos, o excesso de água pode diluir e reduzir a quantidade de sódio no sangue, causando mal-estar, tontura, náusea e dor de cabeça".

Outro mito
Beber água durante as refeições "dá barriga"? Nada disso. "A ingestão de água, principalmente a gasosa, pode favorecer a formação de gases e distender momentaneamente o abdômen, mas isso é passageiro", diz o endocrinologista Antonio Roberto Chacra, da Unifesp.
Com zero caloria, água não engorda, seja ela consumida durante ou entre as refeições. Mas, como "lava" as papilas gustativas, preparando o corpo para receber mais comida, beber durante a refeição não é o ideal para obesos.
Consumida lentamente, degustada, além de dar prazer, a água pode ser um bom digestivo, pode ajudar a diminuir cólicas estomacais e prevenir cáries, entre outros benefícios.

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