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s.o.s. família
rosely sayão
Festas de escola que não divertem nem educam
Os alunos já estão cansados das escolas repetentes. Os pais, se ainda não estão, precisam ficar. Afinal, todo ano é a mesma coisa,
não é verdade? E agora, que mais um está para
começar, os pais bem que podem ajudar a escola que seu filho freqüenta a passar de ano e deixar de se repetir.
No início do ano letivo, as escolas entregam a programação do ano. É bom verificar
se há previsão de festas com a presença dos
pais e apresentação dos alunos. Se houver,
procure saber o que os alunos irão aprender
com a atividade, qual a inserção dela no projeto pedagógico da escola e se os alunos serão
consultados sobre o interesse deles em se
apresentarem publicamente. Esse questionamento pode ajudar a escola que seu filho
freqüenta a ficar um pouco melhor. Sabe por
quê?
É que, desde a educação infantil até o ensino médio, as escolas têm o hábito de realizar
festas -com apresentação de alunos ou
não-, seja para fechar o ano com uma bela
despedida, seja para comemorar o final de
uma etapa ou uma data especial. A questão é
que, em muitas escolas, o que poderia ser
uma excelente oportunidade para a atualização da parceria família/escola acaba sendo
um transtorno para pais, alunos e professores. Por quê? Porque essas escolas resolvem
mostrar serviço aos pais com as tais festas, fazer marketing com elas. E, pelo jeito, funciona.
Vejam o que me contou uma professora.
Ela trabalha com educação infantil, o que
significa passar o ano com crianças entre dois
e seis anos. A escola, com o apoio dos pais, decidiu fazer um show com apresentação das
crianças, as quais ensaiaram para representar
uma peça infantil. No dia marcado, tinha de
tudo: criança chorando, aluno se recusando a
colocar a fantasia, pais reclamando que professores não haviam sido competentes para
convencer o filho a decorar o texto etc.
Como se não bastasse tudo isso, alguns pais
se envolveram, durante a apresentação, em
uma discussão porque um queria filmar, outro falar no celular e outro reclamar. Tudo em
nome do filho.
Na verdade, nada do que acontece nesse tipo
de festa é em favor da educação. Professores
conscientes sabem que essa atividade não envolve nem diverte e muito menos contribui
para a educação da criança, já que o objetivo é
uma apresentação correta para o adulto ver.
Isso impede que a criança erre, que tenha escolha, que trabalhe sem pressão. Representar
uma peça pode ser uma atividade muito produtiva, fonte de aprendizados diversos para os
alunos, desde que o objetivo prioritário seja
esse, e não o uso da criança para mostrar o que
a escola é capaz de fazer. E, quando os pais se
preocupam mais em fotografar e filmar em
vez de curtir a apresentação do filho, aí é que
colaboram mais ainda para que a escola se
perca da função a que se propõe.
Em sua correspondência, uma leitora se
queixa exatamente do fato de o aluno ser a
menor preocupação de algumas escolas nessa
situação. Ela conta que, na escola dos filhos, a
apresentação que eles tanto se empenharam
em ensaiar foi simplesmente cancelada sem
nenhuma explicação, por telefone e na noite
anterior à data prevista. O que fazer com a decepção dos alunos? A escola não se importou
com o fato. E mais: a mãe testemunhou crianças pequenas se apresentando tarde da noite,
quando normalmente já estariam dormindo,
adolescentes atuando de modo a exaltar uma
sensualidade precoce e alunos com pouca agilidade e desembaraço na dança colocados nas
fileiras do fundo, quase escondidos da platéia.
A leitora estava indignada e com razão.
Ainda há pais que pressionam a escola para
que realize festas para os alunos exibirem seus
talentos e suas habilidades. Mas a escola não
tem essa função. Por isso, quando decide atender a essa demanda dos pais, acaba por perder
um tempo precioso, que deveria ser dedicado
ao aprendizado do aluno em atividades que
até poderiam ser ricas, caso tivessem como foco o desenvolvimento do aluno, e não a exibição dele para os pais.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha); e-mail:
roselys@uol.com.br
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