São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2005 |
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Comportamento Método criado por ex-hippie vira mania entre "workaholics" estressados e desorganizados em geral Projeto "mente tranqüila"
SHIN OLIVA SUZUKI
É fácil fazer uma lista de projetos pessoais que ficaram pelo meio do caminho. Mais fácil ainda é
pensar nos pequenos projetos ou tarefas do dia-a-dia que ficam pendentes, com a "luz piscando", até que é decidido qual o primeiro item a ser resolvido.
David Allen esmiuçou seus preceitos em um livro chamado no Brasil de "Produtividade Pessoal -A Arte de Trabalhar sem Stress" (publicado pela editora Campus em 2001 e hoje fora de catálogo), e a idéia original, apesar de abraçada com entusiasmo, foi revirada e transformada em vários blogs e sites pessoais. Os seguidores de Allen contam como pensaram sua versão própria do método GTD. Por exemplo, se o sistema que utilizam para anotar os projetos e fazer a revisão do que precisa ser feito a cada dia e das demandas que surgem é um nada sofisticado bloco de papel, um caro palmtop ou sua caixa de e-mail. Como Allen afirmou a respeito da flexibilidade do método, em entrevista por telefone à Folha, "absolutamente qualquer lugar pode ser usado como base para a aplicação". BUSCA INTERIOR Alguns pontos do "Getting Things Done" não deixam de refletir a própria carreira inusitada de Allen. Na adolescência, ele se tornou admirador de poetas do movimento "beat", como Allen Ginsberg, e começou a estudar a filosofia zen-budista. Freqüentou o curso de história americana na Universidade de Berkeley (Califórnia) e, em vez de completar a carreira, preferiu tornar-se faixa preta de caratê e professor da luta. Além disso, para ganhar a vida, David Allen gerenciou um restaurante e uma empresa de paisagismo. No entanto, fez uma espécie de busca pelo seu "próprio eu", que serviu para que, ao final, orientasse executivos sobre produtividade pessoal. "As pessoas tendem a se distrair facilmente com uma série de coisas que atrapalham sua concentração, e eu comecei a descobrir quais eram esses fatores que tiravam o foco na hora de realizar as tarefas", diz o consultor. Segundo ele, essas pequenas (ou, não raras vezes, grandes) distrações sob a forma de projetos ainda pendentes acabam por sugar a energia das pessoas. "Muito do que eu aprendi nas artes marciais tem a ver com o conceito de clarear o que está na minha mente para estar devidamente concentrado, e isso faz sentido em um mundo como o de hoje, em que a informação entra em alta velocidade e muda de face igualmente. É como no caratê: é importante como você lida com a surpresa e como você direciona sua energia de forma eficaz." REVISÃO SEMANAL Para ilustrar essa sensação de mente mais leve, o consultor lembra o que geralmente ocorre antes das férias, quando muitos se sentem animados a deixar tudo organizado, eliminando pendências e as pilhas que se acumularam nas mesas durante meses seguidos. Allen afirma que, em vez de fazer isso só uma vez ao ano, é mais proveitoso que seja criada uma disciplina para revisar semanalmente o que deve ser limpo. O economista e professor universitário baiano Enoch Filho, 26, diz que a vantagem é ter "mais qualidade de escolha sobre suas pendências" ao aplicar o GTD, pois são levados em consideração a quantidade de tempo disponível, o prazo de entrega, a sua própria disposição para fazer o trabalho e o seu contexto. "Por exemplo, se eu decido assistir a um filme, eu sei exatamente o que deixei de fazer por ter feito essa opção (deixei de terminar um relatório, preparar uma aula etc.) e me sinto à vontade com a escolha consciente", diz. Ou seja, há menos possibilidade de que a luz da pendência "fique piscando". "Fico tranqüilo, sei que não vou me esquecer das outras coisas pois há lembretes sobre elas em um lugar confiável, no caso, o meu palmtop", afirma Enoch, que também está iniciando um blog sobre o tema . O consultor carioca Antonio Azevedo diz que, à primeira vista, o GTD parece "o óbvio ululante, que não tem nada demais", mas observa que há uma lógica no método: a de propor a organização de seu centro de tomada de decisões, que ficaria menos sobrecarregado. "Não importa se é uma decisão que vai mudar sua vida ou uma coisa banal. O que está solto na sua cabeça está esgotando sua mente e ocupando seus neurônios. Parece um método mais burro, mas que traz resultados melhores a médio prazo", diz Azevedo. SENSAÇÃO DE BEM-ESTAR Para o consultor carioca, o êxito do GTD está nos "resultados emocionais". "Quando você faz o inventário do que há pendente, você sente a endorfina, a sensação de bem-estar." Mas o economista e professor Enoch Filho diz que o GTD "infelizmente, não é nenhuma fórmula mágica. Exige esforço para entrar e se manter nos eixos. Pessoas muito metódicas também podem acabar gastando mais tempo se organizando do que fazendo as coisas acontecerem, o que seria improdutivo". O próprio David Allen admite o caráter "ovo de Colombo" de seu método ao afirmar que sua essência é o que ele denomina de "trabalho de conhecimento". "Saber o significado de cada coisa é a base do que eu descobri como metodologia, de como você pode executar suas tarefas de um modo mais consciente. A maioria das pessoas toma decisões no calor da situação e isso as prejudica. Não é algo novo sobre o comportamento das pessoas, mas é preciso oferecer um caminho adequado para se dar conta disso." O GTD na internet Em português: http://enoches.blogspot.com Em inglês, o número de blogs s0obre GTD é enorme. Esses são alguns dos mais famosos: http://www.3thingstoday.com http://gtdwannabe.blogspot.com http://www.43folders.com Texto Anterior: Charutinhos de folha de couve Próximo Texto: Canteiro de idéias Índice |
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