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Déo, 82, campeão
O mineiro Déo do Espírito Santo coleciona títulos em corridas, entre eles o de bicampeão da maratona de Berlim
RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA
Déo do Espírito Santo
Sobrinho tem 82
anos, mede 1,84 m e
pesa entre 64 e 66
quilos ("Nunca fiquei abaixo de
62, nem passei de 68", conta).
Só as medidas já seriam suficientes para fazer inveja a todos os que passam a vida lutando contra a balança, mas esse
mineiro de Belo Horizonte ainda tem mais para revelar: depois de aposentado, descobriu-se um campeão, reconhecido
na própria terra e mundo afora.
Neste ano, pela terceira vez
consecutiva, foi ao pódio da
maratona de Berlim, conquistando a prata em sua faixa etária -em 2008 e em 2007, foi o
campeão entre os corredores
de 80 anos para cima.
Na sua terra natal, foi seis vezes campeão da Volta da Pampulha, a mais importante corrida de rua de Minas Gerais. Mas
gosta das maratonas -já completou 21 desde sua estreia, aos
57 anos, no Rio de Janeiro.
Na época, os treinos de corrida eram irregulares, precisavam dividir espaço com o trabalho, e Déo não conseguia se
dedicar ao esporte como gostaria. De certa forma, isso já tinha
acontecido antes.
Desde a juventude, ele se dedicou ao esporte. No ginásio e
no colegial, aprendeu a gostar
dos exercícios físicos. Em uma
equipe de remo, passou a apreciar a competição. Durante a
universidade de engenharia,
porém, acabou dando preferência aos estudos.
Mas não chegou a se formar,
pois o pai o chamou para participar dos negócios da família
-uma fábrica de brinquedos de
madeira. "Isso me absorveu o
tempo todo, e a minha parte de
atleta não foi muito ativa."
Foi ativa o suficiente para
que concluísse em 3h46 a sua
primeira maratona, em 1985, a
apenas três anos de virar sexagenário. "Falei que nunca mais
iria correr maratona, que era
uma coisa extravagante e, no
ano seguinte, já estava lá de novo, na maratona que cruzou a
ponte Rio-Niterói."
Foi depois da aposentadoria,
porém, que pôde se dedicar
com mais afinco à vida esportiva. Passou a correr com um
grupo do bairro, que o incentivou a participar de provas. Ele
foi, mas sempre de um jeito
tranquilo, como é tranquila a
sua fala: "Eu via muito colega
machucado e não queria, também, me machucar. Sou um
dos poucos corredores daqui
que nunca tiveram uma lesão".
As razões de Déo: "Procurei
conhecer o meu corpo e não
avancei nunca além do meu limite. Sempre estou bem disposto e me cuido fisicamente,
faço todos os exames, não tomo
remédio. Faz talvez 15 ou 18
anos que não tenho gripe".
Com isso, pode treinar com
tranquilidade para a sua participação anual na maratona de
Berlim, que foi uma espécie de
redescoberta da longa distância. "Eu corri em Nova York 12
anos atrás, fui até bem classificado e parei de correr maratona por uns dez anos. Foi minha
filha mais nova que me incentivou a correr na Europa. Resolvi
treinar e fui para Berlim. Corri
em 2006, cheguei bem, mas
não subi ao pódio. Eu competi
na categoria de 70 a 79 anos, estava com 79...".
Com apoio dos filhos, voltou
à Alemanha aos 80 anos, competindo em nova faixa: "Fiquei
em primeiro lugar. O que chegou depois ficou 20 minutos
atrás de mim. Fui elogiado, saiu
meu retrato nos jornais de lá.
Fiquei animado, fui no ano seguinte e ganhei de novo".
Neste ano, Déo não ganhou
por pouco. Na altura do quilômetro 37, uma indisposição estomacal o obrigou a buscar alívio. "Parei uns sete, oito minutos. Aí continuei a correr e fiquei desanimado. O cara que
ganhou chegou só dois minutos
e meio na minha frente."
Ele ensina que as alegrias da
maratona não terminam na linha de chegada. "A corrida nos
traz muita coisa na vida. Aquela
determinação de querer chegar, de querer vencer, isso se
transfere para a vida da gente. A
corrida é o exercício mais democrático, mais barato de todos, porque é um tênis, um
short e uma camiseta. Depende
exclusivamente da gente."
Também funciona quase como terapia, segundo Déo: "Os
problemas vou deixando no asfalto. Só alimento coisa boa".
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