São Paulo, quinta-feira, 29 de outubro de 2009
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Déo, 82, campeão

O mineiro Déo do Espírito Santo coleciona títulos em corridas, entre eles o de bicampeão da maratona de Berlim

RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA

Déo do Espírito Santo Sobrinho tem 82 anos, mede 1,84 m e pesa entre 64 e 66 quilos ("Nunca fiquei abaixo de 62, nem passei de 68", conta). Só as medidas já seriam suficientes para fazer inveja a todos os que passam a vida lutando contra a balança, mas esse mineiro de Belo Horizonte ainda tem mais para revelar: depois de aposentado, descobriu-se um campeão, reconhecido na própria terra e mundo afora.
Neste ano, pela terceira vez consecutiva, foi ao pódio da maratona de Berlim, conquistando a prata em sua faixa etária -em 2008 e em 2007, foi o campeão entre os corredores de 80 anos para cima.
Na sua terra natal, foi seis vezes campeão da Volta da Pampulha, a mais importante corrida de rua de Minas Gerais. Mas gosta das maratonas -já completou 21 desde sua estreia, aos 57 anos, no Rio de Janeiro.
Na época, os treinos de corrida eram irregulares, precisavam dividir espaço com o trabalho, e Déo não conseguia se dedicar ao esporte como gostaria. De certa forma, isso já tinha acontecido antes.
Desde a juventude, ele se dedicou ao esporte. No ginásio e no colegial, aprendeu a gostar dos exercícios físicos. Em uma equipe de remo, passou a apreciar a competição. Durante a universidade de engenharia, porém, acabou dando preferência aos estudos.
Mas não chegou a se formar, pois o pai o chamou para participar dos negócios da família -uma fábrica de brinquedos de madeira. "Isso me absorveu o tempo todo, e a minha parte de atleta não foi muito ativa."
Foi ativa o suficiente para que concluísse em 3h46 a sua primeira maratona, em 1985, a apenas três anos de virar sexagenário. "Falei que nunca mais iria correr maratona, que era uma coisa extravagante e, no ano seguinte, já estava lá de novo, na maratona que cruzou a ponte Rio-Niterói."
Foi depois da aposentadoria, porém, que pôde se dedicar com mais afinco à vida esportiva. Passou a correr com um grupo do bairro, que o incentivou a participar de provas. Ele foi, mas sempre de um jeito tranquilo, como é tranquila a sua fala: "Eu via muito colega machucado e não queria, também, me machucar. Sou um dos poucos corredores daqui que nunca tiveram uma lesão".
As razões de Déo: "Procurei conhecer o meu corpo e não avancei nunca além do meu limite. Sempre estou bem disposto e me cuido fisicamente, faço todos os exames, não tomo remédio. Faz talvez 15 ou 18 anos que não tenho gripe".
Com isso, pode treinar com tranquilidade para a sua participação anual na maratona de Berlim, que foi uma espécie de redescoberta da longa distância. "Eu corri em Nova York 12 anos atrás, fui até bem classificado e parei de correr maratona por uns dez anos. Foi minha filha mais nova que me incentivou a correr na Europa. Resolvi treinar e fui para Berlim. Corri em 2006, cheguei bem, mas não subi ao pódio. Eu competi na categoria de 70 a 79 anos, estava com 79...".
Com apoio dos filhos, voltou à Alemanha aos 80 anos, competindo em nova faixa: "Fiquei em primeiro lugar. O que chegou depois ficou 20 minutos atrás de mim. Fui elogiado, saiu meu retrato nos jornais de lá. Fiquei animado, fui no ano seguinte e ganhei de novo".
Neste ano, Déo não ganhou por pouco. Na altura do quilômetro 37, uma indisposição estomacal o obrigou a buscar alívio. "Parei uns sete, oito minutos. Aí continuei a correr e fiquei desanimado. O cara que ganhou chegou só dois minutos e meio na minha frente."
Ele ensina que as alegrias da maratona não terminam na linha de chegada. "A corrida nos traz muita coisa na vida. Aquela determinação de querer chegar, de querer vencer, isso se transfere para a vida da gente. A corrida é o exercício mais democrático, mais barato de todos, porque é um tênis, um short e uma camiseta. Depende exclusivamente da gente."
Também funciona quase como terapia, segundo Déo: "Os problemas vou deixando no asfalto. Só alimento coisa boa".


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