São Paulo, quinta-feira, 29 de outubro de 2009 |
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NEUROCIÊNCIA Suzana Herculano-Houzel Para ser um atleta de elite
Como agora é oficial, podemos começar a contagem regressiva para preparar nossa nova leva de atletas para a Olimpíada em 2016 no Rio. Pergunta pertinente, portanto: de que é feito um atleta de elite? Bons genes? Tradição? Acessórios "high-tech" e muito dinheiro? Ou muita transpiração? A neurociência, que hoje tem alguma bagagem comparando o desempenho e a curva de aprendizado de novatos e especialistas nos mais diversos esportes, dá seu pitaco: o cérebro de um atleta de elite é, de fato, especial -mas não porque tenha "nascido para isso". O desempenho extraordinário de um atleta envolve não a capacidade de responder rapidamente a estímulos -seria tarde demais, quando a bola vem a 100 km/h-, mas sim de se antecipar a eles. Isso requer aprendizado, que muda o cérebro, ensinando-o a fazer modelos preditivos dos acontecimentos. O que a postura de uma tenista ou a posição das mãos de uma jogadora de basquete avisa sobre a direção em que ela lançará a bola? Um atleta de elite é alguém cujo cérebro aprendeu a tomar decisões rápidas e certeiras com base em poucas informações -poucas demais para qualquer outra pessoa, mas suficientes para o atleta. É também via aprendizado que o cérebro do atleta de elite cria as combinações de movimentos exatos necessárias para se manter sobre uma trave de equilíbrio ou acertar o tiro no alvo. A modificação do cérebro com o aprendizado, por sua vez, requer milhares de horas de prática -cerca de 10 mil, em média- para atingir o grau de expertise associado ao desempenho extraordinário. Haja motivação para suportar tanto tempo assim de treino anos a fio. Amor pelo esporte, encorajamento pela família, apoio psicológico e condições financeiras são, portanto, fundamentais para assegurar a motivação necessária. Além, é claro, da simples oportunidade: afinal, ninguém descobre que tem as habilidades e a paixão necessárias para se tornar um ás da ginástica olímpica se nunca aprender a dar o primeiro salto mortal. Se, por um lado, a genética tem um papel inegável em alguns casos, afetando, por exemplo, a composição muscular de várias etnias ou a concentração de hemoglobina no sangue, o "fator transpiração" ainda é o mais determinante. Para acumular as tais 10 mil horas de treino, são cerca de quatro anos treinando oito horas por dia (o equivalente a um doutorado), ou oito anos a um ritmo de quatro horas por dia. Ou seja: ainda há tempo. Jovens brasileiros, ao treino! SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora do livro "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog "A Neurocientista de Plantão" ( www.suzanaherculanohouzel.com ) Texto Anterior: Criança: Não é brinquedo, não Próximo Texto: Perigo na cozinha Índice |
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