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Rosely Sayão
Hora de ir à escola
"Q
ual é a melhor
idade para colocar a criança pequena na escola?
Será que meu filho já está preparado para essa atividade?
Passar pelo conhecido sofrimento dos primeiros dias não
será prejudicial para uma
criança tão pequena? Será que
a decisão que tomei foi a mais
acertada para ela?"
Essas são algumas das muitas
perguntas que devem acompanhar o sono ou a insônia de
muitos pais que têm filhos com
menos de três anos nesta época
do ano. Como seria bom para
eles se tivéssemos respostas
para todas as questões. Mas
eles sabem que não há certezas
nem respostas certas para suas
dúvidas. Mesmo assim, é possível refletir a respeito delas.
Já houve um tempo em que
muitos profissionais, principalmente da área da saúde mental,
não hesitariam em dizer que a
melhor idade para a criança ser
matriculada na escola seria em
torno dos três anos. Aliás, até
hoje alguns pesquisadores
mantêm tal convicção. O que
amparava esse princípio era a
crença de que a criança, até os
três anos, precisaria apenas do
amor dos pais e de cuidados exclusivos para se desenvolver.
Além disso, o aconchego de sua
casa e a presença afetiva de pelo
menos um parente seriam condições reconfortantes e estruturantes para o início da vida.
Sabemos que, com o atual
avanço das ciências, é difícil encontrar consensos, mesmo no
conhecimento sistematizado.
Por isso, hoje não é simples
afirmar o mesmo que décadas
atrás -nem o contrário. Em resumo: não temos dados que garantam que, para o bom e saudável desenvolvimento da
criança, o melhor seja que ela
fique dentro ou fora da escola
nos três primeiros anos de vida.
Isso quer dizer que são os pais
que precisam analisar o contexto da vida familiar para fazer
uma escolha criteriosa.
O essencial é que os motivos
da escolha tenham como referência a criança, e não os próprios pais. Mas o mais importante é que, tomada a decisão
de forma sensata e consciente,
os pais se sintam seguros dela.
Se há um fator que pode atrapalhar a ida da criança à escola
na primeira infância é a ansiedade dos pais. Ela é passada para a criança, que percebe que algo não está bem, e isso gera
conseqüências em seu humor e
em sua possibilidade de desfrutar da nova situação e de desenvolver todo o seu potencial.
É sempre bom ressaltar que a
criança sente tudo o que ocorre
à sua volta. Claro que ela não
consegue nomear os motivos
do que sente, mas reage a eles.
Desse modo, quando a criança
vai para a escola e chora desesperadamente por muito tempo,
ela expressa, quase sempre, a
emoção ou a resistência que a
mãe tem para deixar o filho.
É por isso que muitas escolas
construíram um período inicial
chamado de adaptação. Nesse
espaço de tempo, a escola convida a mãe ou um responsável
pela criança para acompanhar
mais de perto sua iniciação no
espaço escolar. Essa estratégia
permite que os pais estabeleçam um vínculo de confiança
mais sólido com a escola, porque observam de perto os cuidados que os profissionais têm
com as crianças e as atividades
que elas realizam e, desse modo, ficam mais seguras com sua
decisão. Mãe segura resulta em
criança tranqüila e livre para
uma boa despedida, não é?
Quando uma criança resiste
desesperadamente e com todas
as suas forças a ficar na escola, o
mais provável é que seus pais
não estejam preparados para
deixá-la, e não que ela não esteja pronta para esse período de
separação.
Se pudermos tirar alguma
conclusão a esse respeito, ela é
simples: criança menor de três
anos pode se desenvolver bem
na escola, em casa ou com parentes. O que importa é que ela
seja bem-cuidada, que o ambiente seja rico em afetos positivos e que seus pais tenham
confiança nas pessoas que a
acompanham.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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