São Paulo, terça-feira, 31 de maio de 2011
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PRIMEIRAS HISTÓRIAS

"É triste esquecer, mas imagine lembrar de todos os micos?"

"A separação dos meus pais me marcou. Tinha três anos. Não lembro dos dois se separando, mas da sala da nossa casa, escura. Ninguém usava aquela sala, só o meu pai. Isso marcou. Ah, eu tinha medo de lobisomem. Eu não deixava a moça que trabalhava em casa limpar as coisas, ela tinha que ficar comigo.
Tem uma outra coisa que aconteceu não faz muito tempo, mas me marcou.
Não é uma coisa boa. Eu estava indo para o colégio, devia ter sete anos, estava conversando com a moça que trabalhava em casa e, não sei, quando ela fechou a porta, meu dedinho fechou junto e ficou pendurado.
Enrolei um guardanapo e chorei. Queria desmaiar, foi uma confusão.
Outra vez, no colégio, a gente queria ver se existia mesmo a loira do banheiro. Minha amiga foi primeiro e saiu correndo do banheiro. Demos um encontrão e meu aparelho bateu na testa dela, minha boca entrou debaixo do aparelho.
Nossa, por que eu só lembro de coisas ruins? Quando lembro, não lembro da minha visão. Lembro como se fosse algo da minha cabeça.
Tem muita coisa que a gente acaba confundindo. É muito difícil saber o que aconteceu antes ou depois. É triste esquecer as coisas, mas imagine só se você se lembrasse de todos os micos que já pagou? Ia ficar se cobrando todo dia!"

Victoria Margarida, 14 anos


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